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28/01/2009 |
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INFORME QUARTA-FEIRA, DIA 28/1 |
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Ganhos fáceis |
Assustado com a forte retração do crédito logo depois da quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro de 2008, o governo se movimentou rapidamente para irrigar o mercado, liberando R$ 100 bilhões em depósitos que os bancos haviam recolhido compulsoriamente ao Banco Central. Pouco tempo depois, o Ministério da Fazenda baixou de 3% para 1,5% o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), como forma de reduzir o custo dos financiamentos aos consumidores. Ao anunciar a medida, o ministro Guido Mantega previu que ela diminuiria os juros às pessoas físicas em pelo menos quatro pontos percentuais.
Pois ontem o BC mostrou que nenhuma dessas ações surtiu efeito. Pelo contrário. Os bancos aproveitaram a mão amiga do governo para ampliar seus ganhos. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, as instituições financeiras não só mantiveram o crédito restrito, como se apoderaram da redução do IOF. Tanto que o spread, que embute o lucro dos bancos, subiu dois pontos percentuais entre novembro e dezembro, atingindo 45,1 pontos no caso das pessoas físicas, o patamar mais elevado desde setembro de 2004, quando estava em 45,7 pontos. “Nada justifica essa alta”, disse Altamir.
Para ele, diante de todos os indicadores do mercado, os bancos deveriam ter cortado os juros de forma mais acentuada e não apenas 0,2 ponto percentual, de 58,2% para 58% ao ano, como se viu no mês passado. É que, além da redução do IOF e da liberação dos compulsórios, a taxa que os bancos pagam para captar recursos no mercado desabou 2,2 pontos percentuais, de 15,1% para 12,9% ao ano. É justamente a diferença entre esse custo de captação e o que os bancos cobram da clientela que resulta no spread.
A única justificativa dos bancos para explicar esse movimento seria o aumento da inadimplência. Mas o calote das pessoas físicas deu um salto de apenas 0,3 ponto, de 7,8% para 8,1% — ressalte-se, o nível mais alto desde setembro de 2002. “Isso, porém, não seria suficiente para elevar o spread na magnitude que vimos”, destacou o economista do BC. Portanto, segundo ele, o que se espera “num futuro próximo, é que se volte à normalidade e que os juros caiam”.
Os resultados preliminares de janeiro mostram, contudo, que essa “normalidade” ainda está longe. Até o dia 15, tanto a taxa média quanto o spread aumentaram. Os juros passaram de 43,2% ao ano, em dezembro, para 43,3%. Já o spread médio (para empresas e consumidores) avançou 0,8 ponto, para 31,4 pontos. “Não é à toa que o governo está reclamando tanto dos bancos”, disse o presidente da Consultoria LatinLink, Ruy Coutinho.
Na sua avaliação, a forte alta do spread é característica de um mercado oligopolizado, dominado por grupos financeiros. “Com essa característica de mercado, de concorrência restrita, é comum nivelar as taxas por cima”, afirmou.
No que depender do presidente Lula, a pressão sobre os bancos será enorme. Ele sabe que o crédito é fundamental para sustentar o consumo e os investimentos produtivos, as principais alavancas do crescimento econômico. Depois de muita reclamação, Lula conseguiu que o BB e a Caixa cortassem suas taxas, movimento acompanhado pelos maiores bancos privados, estimulados pelo recuo da Selic. “Mas foi pouco. Os bancos precisam reduzir mais rapidamente o spread”, afirmou Guido Mantega.
Mesmo o presidente do BC, Henrique Meirelles, que sempre se mostrou arredio na cobrança sobre os bancos, decidiu entrar na briga. Ao ser questionado pelo presidente do Bradesco, Marcio Cypriano, do porquê de o BC não antecipar a reunião do Comitê de Política Monetária para derrubar logo a Selic, Meirelles foi enfático em sua resposta: “O problema dos juros no Brasil não é a Selic, mas o spread bancário”. |
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