Volume de empréstimos a pessoas e empresas cresce 26% em março, aproximando-se do nível pré-crise. Ampliação foi impulsionada pelo Banco do Brasil, Caixa e BNDES, instituições controladas pela União
A despeito do frágil ritmo da economia, as operações de crédito estão recuperando o fôlego e saindo do fundo do poço para o qual foram empurradas pelo estouro da crise mundial. A melhora, porém, está sendo capitaneada pelos bancos públicos, que assumiram a linha de frente dos empréstimos a empresas e aos consumidores, depois de um período de escassez geral. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, entre setembro de 2008 e março deste ano, as instituições controladas pelo governo (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ampliaram os estoques de crédito em 18,3%. No mesmo período, o saldo das carteiras dos bancos privados nacionais cresceu 1,5% e o dos bancos estrangeiros, 3,5%.
“As concessões de crédito estão quase voltando aos níveis pré-crise. Mas ainda há uma concentração expressiva em bancos públicos”, disse Altamir. “Para que o crédito volte à normalidade, é preciso que haja maior disseminação entre os bancos privados, o que deve ocorrer com a retomada das operações de instituições de médio e de pequeno portes, que, durante a crise, ficaram sem recursos para emprestar”, frisou. A seu ver, os bancos menores, que atendem, principalmente, a pequenas e médias empresas, devem se mostrar mais presentes a partir deste mês, pois já captaram R$ 3,2 bilhões por meio de recibos de depósitos bancários (RDBs), títulos com seguro para aplicações de até R$ 20 milhões.
Em março, especificamente, as concessões acumuladas de crédito a empresas e aos consumidores cresceram 26,1%. No acumulado do primeiro trimestre, porém, encolheram 4,1%. Já o saldo total das operações (que incluem os juros) avançou 1% no mês passado e 1,1% no trimestre, computando aumento de 25% em 12 meses — até setembro de 2008, as operações davam saltos superiores a 33%. “Houve uma desaceleração no crédito, que vinham crescendo a um ritmo muito veloz. Mas um aumento de 25% em 12 meses ainda é expressivo. Para este ano como um todo, projetamos incremento de 14%”, assinalou o economista do BC.
Segundo Márcio Percival, vice-presidente de Finanças da Caixa, é natural que os bancos públicos ocupem maior espaço no mercado num momento em que o setor privado encolhe. Ele contou que o saldo da carteira de crédito da Caixa cresceu 11,4% nos três primeiros meses ante 1,1% da média do mercado. “Os nossos carros-chefe têm sido os empréstimos a empresas”, afirmou. A instituição liberou, no período, R$ 10,7 bilhões para o setor produtivo — 57% a mais que no primeiro trimestre de 2008, quando a economia ainda avançava a passos largos. “É perfeitamente compreensível que os bancos públicos supram o crédito num momento de falha no mercado. Mas esse processo deve ser temporário, para evitar riscos excessivos às instituições”, disse Roberto Padovani, estrategista-chefe do Banco WestLB.
Com os bancos públicos à frente do crédito, as taxas de juros e o spread (diferença entre os que as instituições pagam aos investidores e o quanto cobra dos devedores) caíram. No caso das pessoas físicas, a taxa média ficou em 50,1% ao ano, o menor patamar desde junho de 2008. “Não há dúvidas de que há espaço para que o custo do dinheiro continue diminuindo, o que será vital para estimular o crédito e manter o consumo em um nível que evite a recessão da economia”, assinalou o economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto.
Sobe juro do cheque especial
Em meio ao processo quase que generalizado de queda das taxas de juros aos consumidores, o cheque especial destoou. As taxas médias cobradas pelos bancos nessa modalidade de crédito deram um salto expressivo em março, de 166,7% para 169,1% ao ano, interrompendo um ciclo de três meses de recuo. Na avaliação do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, a única explicação plausível para essa alta foi o aumento da inadimplência nas operações com vencimento entre 15 e 90 dias, de 5% para 5,4%, o maior patamar desde o início da série, em julho de 1994. “Não consigo ver outra razão”, disse. Mesmo com esses juros abusivos, os brasileiros voltaram a usar o especial. No mês passado, o saldo das concessões acumuladas cresceu 17,4%.
Também aumentou a procura por crédito consignado, operações que os bancos vinham limitando por causa do baixo retorno. Em março, as concessões totalizaram R$ 4,9 bilhões, superando em 24,1% o valor de fevereiro (R$ 3,9 bilhões). No primeiro trimestre, o avanço foi maior: 72,9%. Os empréstimos com desconto em folha eram realizados, principalmente, pelos bancos de pequeno e médio portes, que começaram a reduzir as liberações em maio do ano passado e praticamente as suspenderam a partir de setembro com o estouro da crise mundial. “Por enquanto, a maior parte do incremento do consignado decorre das renovações de empréstimos”, afirmou Altamir.
Correio Braziliense
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