Os cinco maiores bancos que atuam no Brasil (Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) pagaram cerca de R$ 1 bilhão de remuneração a seus diretores e altos executivos, somente nos primeiro nove meses de 2009, segundo reportagem publicada nesta quarta-feira 2 pelo jornal Valor Econômico com base nas demonstrações financeiras das empresas.
Isso significa que um punhado de menos de 500 gestores recebeu de remuneração, em nove meses, mais que o total distribuído a título de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) para cerca de 410 mil bancários, que trabalham nesses cinco bancos, conforme cálculos do Dieese.
De acordo com o levantamento do Valor, o que os executivos ganharam de salários e bônus corresponde a 5,36% do lucro líquido de R$ 16,6 bilhões que as cinco instituições financeiras acumularam de janeiro a setembro deste ano. Em cada um desses bancos, o número de diretores e altos executivos com direito aos prêmios milionários não passa de uma centena.
O caso mais notável é o do Itaú Unibanco, que distribuiu R$ 504 milhões (mais da metade do total desse grupo de bancos) para o alto escalão, o equivalente a 7,38% do lucro líquido do período (R$ 6,85 bilhões). Já os 102.700 bancários do Itaú receberão de PLR durante todo o ano 5,10% do lucro líquido. O Bradesco gastou R$ 267,4 milhões e o Santander pagou R$ 128 milhões.
A remuneração dos bancos públicos, segundo a amostragem do Valor, é muitas vezes inferior à dos privados. No Banco do Brasil, o único dado consolidado é do terceiro trimestre, quando houve pagamento de R$ 13,6 milhões para diretores e executivos. Já o balanço da Caixa Econômica Federal apresentou no terceiro trimestre gastos com remuneração de R$ 7 milhões.
"Esses números deixaram os bancários indignados, porque eles tiveram de fazer uma greve nacional de duas semanas para impedir que os bancos diminuíssem a PLR deste ano", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). "Agora fica clara qual era a estratégia das empresas na campanha salarial: reduzir a participação dos trabalhadores na PLR para elevar ainda mais os bônus pagos aos seus executivos".
Cadê a responsabilidade social?
Para Carlos Cordeiro, os ganhos milionários desses executivos são também uma afronta à sociedade brasileira, uma vez que os bancos, principalmente os privados, usaram a crise econômica para aumentar seus lucros, às custas dos clientes, dos usuários e dos funcionários.
"Durante a crise, os bancos privados aproveitaram a liberação dos depósitos compulsórios e reduziram os empréstimos, quando a economia necessitava desesperadamente de crédito. Aplicaram esses recursos em títulos públicos, aumentaram os juros e o spread e mantiveram as mais altas taxas do mundo", critica o presidente da Contraf-CUT.
Esse comportamento, segundo Cordeiro, contradiz o discurso das instituições financeiras sobre responsabilidade social: "Não adianta maquiar a realidade com campanhas milionárias de marketing. Os bancos somente serão socialmente responsáveis quando respeitarem a sociedade brasileira e os seus trabalhadores", destaca.
Fonte: Contraf-CUT |