Reginaldo Aguiar – Supervisor Técnico do DIEESE/CE
Não se pode falar de economia em relação a 2009 sem se referir ao último quadrimestre de 2008, quando o mundo passou por uma turbulência no campo financeiro, que depois da crise de 1929 foi a segunda maior que a economia mundial sofreu, pelo menos dentro do modelo neoliberal. Avaliando 2009, partindo do início da crise, em setembro, a análise que se faz do comportamento da economia brasileira é extremamente positiva. Com a liquidação do banco Lemon Brothers, em 15 de setembro, surgiu um cenário extremamente complicado no setor financeiro. A crise se instalou exatamente no momento que os bancários estavam em plena campanha salarial, a bem da verdade, às vésperas de uma greve. Vimos o setor ser afetado por uma conjuntura absolutamente adversa e extremamente complexa. Várias instituições fora do Brasil estavam sendo liquidadas, bancos centenários sendo liquidados. Faltou confiança no sistema. O impacto no Brasil imediato. O PIB do 4º trimestre de 2008, do 1º trimestre e 2º trimestre de 2009 também foram afetados. Vimos recuperação no segundo semestre de 2009 com relação ao PIB. Com a crise no setor financeiro, um dos primeiros setores da economia a refletir foi o investimento privado, que caiu vertiginosamente, com crescimento acanhado durante todo o ano de 2009.
A formação bruta de capital – o setor de construção e a indústria de bens de produção que produzem máquinas novas – foram extremamente afetados. Com a oferta menor do que a procura, haverá impacto inflacionário. O investimento privado é que vai ser o grande desafio para 2010.
Quando se avalia as campanhas salariais, observa-se que as convenções repetiram muito o comportamento do ano anterior. Os reajustes ficaram estáveis, houve pequena queda no ganho real, motivada mais pelos níveis de inflação nos primeiros meses de 2009. O grande ajuste que aconteceu foi no emprego, o grande vilão do 1º quadrimestre. As taxas de desemprego cresceram bastante. Houve substituição de trabalhadores que ganham salários maiores e que têm mais tempo de casa, por trabalhadores mais novos e com salários menores.
O País conseguiu se superar e ter um efeito menos traumático com a crise, com dois ingredientes; um deles foi o consumo. A pesquisa mensal do comércio demonstra que o Nordeste teve média acima da média nacional praticamente o ano inteiro, ou seja, o comércio conseguiu se manter bastante aquecido, isso implica em aumento de pedidos à indústria, principalmente de produtos de bem de consumo de trabalhadores, produtos mais simples ligados a área de vestuário, alimentação e medicamentos. A causa disso é que a renda continuou crescendo.
Temos aqui programa de renda mínima que impulsiona o consumo, principalmente da população mais pobre; o salário mínimo teve nos dois mandatos do governo Lula, aumento real de mais de 50% em relação à inflação. Desde 2004 tem recordes em campanhas salariais, e hoje não se discute mais perdas salariais, e sim ganho real. A própria categoria bancária já vem há dois anos seguidos obtendo ganho real em torno de 1,5%, que é próximo da média nacional. Em 2008 e 2006, a campanha salarial dos bancários obteve elevação no valor do piso.
Outro ingrediente extremamente importante para conter os impactos da crise no Brasil foi o que tem mais relacionado às ações do governo, à política econômica. Houve estímulos fiscais que foram aplicados em vários setores mantendo estável a produção. A redução da taxa de juros – muito lenta, mas aconteceu – e principalmente aumento do crédito, e aqui vale ressaltar o papel importantíssimo dos bancos públicos.
O ano de 2009 caracterizou-se como um ano de resistência, onde tivemos uma postura reativa às conjunturas adversas, principalmente quando discutimos perspectivas de futuro – há países da Europa que ainda estão em processo recessivo.
O risco de crise sistêmica está praticamente afastado, agora podemos dizer que o pior já passou. O emprego voltou a crescer no País inteiro, o rendimento médio do trabalhador também voltou a crescer, é o que indica a pesquisa de emprego e desemprego do Dieese. O consumo continua elevado e os gastos do governo também têm se elevado bastante. O superávit primário foi o primeiro a ser atacado, todos sabíamos que tínhamos que fazer uso desses recursos para ativar a economia – o que foi realizado e isso teve efeito bastante positivo no mercado.
O problema que está colocado para 2010, pelo que se observa, são as contas externas, como já se esperava. Temos um déficit estimado em torno de 3% do PIB, causado por queda nas exportações, elevação das importações. É o resultado da valorização do real frente o dólar.
O protecionismo é outro problema mundial, ou seja, a produção dos países se voltaram para o mercado interno. Este comportamento reduz o comércio internacional e traz risco de deflação e compromete o crescimento mundial. Se isso acontecer, pode haver problema grave. A desvalorização que o Real teve, quando aconteceu a crise em 2008, praticamente foi compensada com o excesso de dólares que têm entrado no País, que está com suas contas saneadas, está com perspectiva de futuro. Isso tem atraído muito o que a gente chama de IED (Investimento Estrangeiro Direto). A estimativa este ano é que entre cerca de 40 bilhões de dólares de investimento direto no Brasil. Isso ajuda a conter o problema externo, mas mesmo assim esse deve ser um grande problema que vamos enfrentar no ano de 2010. |