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04/01/2010 |
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Edição Nº 1116 de 4 a 9 janeiro de 2010 |
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| ARTIGO |
A democracia da participação |
O monopólio e a influência dos meios de comunicação são obstáculos para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e participativa. Recente publicação lançada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que os países onde os cidadãos participam ativamente da vida política têm mais chances de combater as desigualdades sociais. Em síntese, pode-se dizer que a democracia ajuda a enfrentar a pobreza. Isso é percebido na prática ao olhar para as grandes transformações que o Brasil viveu em sua história.
Uma pessoa só busca seus direitos se souber que eles existem e onde pode reivindicá-los. Ou seja, na prática, não existe participação sem informação. E quanto mais esclarecida for a sociedade, mais qualificada é sua participação na busca por soluções. E aí é que está um dos graves problemas do País: de onde o brasileiro acessa a informação e como a utiliza diariamente. Se queremos reverter a enorme desigualdade social do Brasil, precisamos combater não apenas a concentração de renda, mas também a concentração dos meios de comunicação, o que significa, dentre outras coisas: diversificar as fontes, descentralizar a produção da informação, pautar a sociedade a partir da pluralidade de assuntos que formam uma nação e não apenas daquilo que é prioridade para uma minoria.
Os grandes meios de comunicação do País estão nas mãos de poucas famílias. E se pensarmos que estes grupos concentram não apenas a informação, como também grande parte do poder econômico com forte influência na tomada de decisões que afetam os rumos do País, temos um monopólio de ordem política, econômica, social e cultural imensurável.
Da mesma forma que não há como distribuir a riqueza sem mexer na renda dos mais ricos, descentralizar a comunicação é impossível sem atingir os interesses dos donos das grandes mídias. A construção da democracia a partir da comunicação torna-se então uma disputa desigual, tendo em vista a enorme presença que os meios têm em nossa sociedade.
Para mudarmos esta realidade é imprescindível entender a comunicação como um direito humano tão importante quanto o direito à saúde e à educação. A diferença é que existem políticas públicas que regulam o acesso à educação e saúde de nosso País, mas no caso da comunicação, não há ainda nenhum controle social. Ou seja, a informação e o conteúdo que recebemos diariamente em nossas casas, pela TV, rádio ou jornal, não tem fiscalização, apesar de a Constituição estabelecer que os meios de comunicação devem exercer uma função social.
Ao olhar a grade de programação de uma TV aberta, percebemos que faltam conteúdos que respeitem a pluralidade do povo brasileiro e os aspectos regionais e culturais. Temas importantes, como violência, são tratados de maneira superficial, banalizada ou, na maioria dos casos, apelativa. Os donos das mídias, de acordo com os seus interesses, decidem por nós o que é importante e merece ser discutido pela política e a sociedade, em casa, no trabalho e nos espaços de convivência a partir da TV, do rádio e do jornal. É sob essa forte influência que vai sendo formado o pensamento de milhões de brasileiros.
Paulo Marcelo Freitas – Colaborador da Adital |
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