Manifestação contra retrocesso trabalhista

Bairro historicamente ligado aos movimentos sociais, o Pirambu recebeu, na manhã de domingo (1), uma manifestação pela ampliação dos direitos dos trabalhadores e contra o processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff (PT). Durante duas horas, integrantes de diferentes movimentos sociais percorreram seis quilômetros da Avenida Leste Oeste, erguendo cartazes contra matérias em tramitação no Congresso e em defesa da democracia. Conforme a Central Única dos Trabalhadores (CUT), organizadora do evento, 15 mil pessoas participaram da caminhada iniciada no Aterrinho do Pirambu e finalizada no Cuca da Barra do Ceará.

Will Pereira, presidente da CUT, ressaltou a importância da manifestação dos trabalhadores no Dia do Trabalho, que neste ano ganha dimensão simbólica maior em razão da crise política brasileira e da "pauta conservadora" em tramitação no Congresso. Na avaliação dele, houve poucos avanços trabalhistas neste ano. "Precisamos fazer um debate sobre a 'Ponte do Futuro' (plano do vice-presidente Michel Temer, caso assuma a Presidência), porque são 55 projetos de lei que representam retrocesso para os trabalhadores. A flexibilização é absurda. O acordo entre patrão e trabalhador não pode ficar acima da lei", declarou Pereira.

Atípico - Conforme o presidente da CUT, esses projetos de lei preveem aumento massivo das terceirizações e fim de alguns direitos trabalhistas hoje previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Todos os anos, no dia 1º de maio, os trabalhadores costumam realizar manifestações como esta em defesa dos direitos. O presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Luciano Simplício, destaca que o Dia do Trabalho deste ano é atípico, pois os trabalhadores foram às ruas também para lutar pela democracia.

"Nossa democracia ainda é frágil. Não aceitaremos que a CLT seja rasgada para retirar direitos como o reajuste do salário mínimo e o FGTS. Não vamos reconhecer um governo que não foi eleito por votos", afirma Simplício, em referência a um possível governo de Michel Temer.

Resistência - Durante a manifestação, o presidente do Sindicato dos Bancários, Carlos Eduardo Bezerra, disse que a caminhada mostra a união dos movimentos sociais pela resistência dos direitos do trabalhador e contra qualquer governo, segundo ele, "ilegítimo". Participaram da manifestação organizações da Frente Brasil Popular, como CUT, CTB, UNE, MST e sindicatos de diferentes categorias. Políticos do PT e do PCdoB também acompanharam o ato.

O líder do governo no Congresso, deputado José Guimarães, presente ao evento, disse que os trabalhadores se sentem ameaçados com um eventual governo Temer, por isso atos como este se repetem em diferentes lugares do País. "É um aviso ao País. Qualquer retrocesso aos direitos sociais terão reação dos movimentos", analisa, citando a manutenção dos programas de transferência de renda e a não reforma da previdência.

Reforma -  O Governo, porém, já incluiu na sua agenda a reforma da previdência. "A reforma é necessária, mas fazê-la só pra tirar direitos não pode. A bancada do PT sempre falou isso. Neste momento do País, não dá pra fazer uma reforma dessas", afirmou.

Já o senador José Pimentel defendeu que os trabalhadores têm clareza de que "o ajuste que se quer fazer na economia está ligado aos interesses patronais. Essa é a agenda que está sendo apresentada ao Congresso e que está sendo discutida por Michel Temer", considerou. No final do ato, no Cuca da Barra do Ceará, foram puxadas vaias aos deputados cearenses que votaram a favor da instalação do processo de impedimento da presidente Dilma.
 

Fonte: Diário do Nordeste - Foto: Paulo Holanda