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Notícias

21/03/2013 

Secultfor: Os desafios da cultura - entrevista com o secretário Magela Lima

Há três meses à frente da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), o jornalista Magela Lima já se deparou com alguns desafios. Organizar em tempo recorde o Pré-Carnaval e o Carnaval deste ano; responder às críticas de artistas e sociedade civil organizados em movimentos como o Arte e Resistência (MAR) em relação ao destino do Estoril; dialogar com usuários de outros espaços, ainda sem programação, que reclamam publicamente a volta das atividades, como na página criada no Facebook para o Mercado dos Pinhões.

E não para por aí.


Em entrevista concedida na última sexta-feira, 15, na sede da Secultfor, Magela revelou ao O POVO outros tantos desafios. Lidar com uma dívida de cerca de R$ 2,6 milhões herdada da antiga administração é um exemplo. Tirar do papel obras como o Teatro São José, a Casa do Barão de Camocim e a da Fotografia é outro. Regulamentar o Fundo Municipal de Cultura é dos maiores. Há ainda as urgências do calendário: Salão de Abril e aniversário da cidade, no próximo dia 13, algumas das datas e eventos que Fortaleza não dispensa o direito de celebrar.


O POVO - A partir de que conceito de cultura você está estruturando a sua gestão?

Magela Lima - Acho que o grande desafio da cultura em Fortaleza é trabalhar o afeto. A gente tem uma dificuldade muito grande de gostar e tratar bem essa cidade como a gente trata bem as pessoas e as coisas que a gente gosta. E trabalhar, enquanto política pública, para que a gente goste mais desse lugar onde a gente vive é fundamental ser trabalhado. Então, assim, qual o conceito, o modelo de cultura que você quer pra Fortaleza? Um modelo que trabalhe, que aguce nas pessoas um querer bem pelo lugar onde elas moram.

O POVO – O que cabe nesse teu conceito, em termos práticos, de direcionamento?

Magela - Ele está desde, por exemplo, o relacionamento com os artistas. Eu acho que é possível você interagir com os artistas provocando um querer bem pela cidade. Hoje, por exemplo, eu tive aqui com a Verônica Guedes, que faz o For Rainbow. A Verônica ela tem um projeto, um evento super bem definido e super bem formatado na cabeça dela. Como é que eu posso pegar esse evento da Verônica que está tão bem organizado, apoiar pra que ele cresça e produzir uma nova relação da diversidade com Fortaleza? Esse é o meu desafio com tudo que eu tenho feito até agora. Coisas simples, muito simples mesmo. Por que eu fiz tanta questão que tivesse um grupo daqui tocando no palco principal do pré-carnaval? Porque eu acho que isso é uma forma de a gente se gostar. No mesmo palco em que eu vi o Manu Chao, eu vi a Baby do Brasil e vi o Luxo da Aldeia. Então, eu acho que esse tipo de deslocamento produz um novo afeto na cidade, eu acredito muito nessa perspectiva de que é possível se gostar mais de Fortaleza. Eu acredito piamente nisso e o conjunto de trabalhos que a gente tem pensado é justamente isso: O que é possível se fazer pra que a gente goste de viver aqui?

O POVO - Pelo menos no que diz respeito à cultura...

Magela - Exatamente. Teve a primeira reunião de secretariado, sábado passado, e falei que acreditava e o meu trabalho era convencer os outros secretários de que a cultura podia mudar coisas básicas em Fortaleza. Por exemplo, por que tem tanto lixo na avenida Leste Oeste? Aquilo ali é um problema cultural. Por que o trânsito é tão ruim na avenida Dom Luís? Aquilo ali é um problema cultural. Então eu acho que um enfrentamento cultural pra alguns problemas urbanos é possível. Mas o foco aqui é trabalhar e construir uma nova relação mesmo das pessoas com a cidade. Respondendo agora mais objetivamente, o conceito de cultura tem o foco no artista? Na política púbica? Na formação? (O foco) é na cidade. Eu quero ser um secretário de cultura para a cidade.

O POVO – Você disse ao O POVO, quando estava sendo nomeado, que queria colocar Fortaleza noutro patamar. Num patamar de visibilidade tanto pra que a cidade recebesse espetáculos, shows, formações, como também pra levar a produção daqui pra outros lugares. O que você entende ser necessário pra dar a Fortaleza essa visibilidade maior? E o que outro patamar seria esse? 

Magela – Fortaleza tem dois problemas básicos, muito básicos mesmo, que é uma precariedade de formação. E aí eu estou falando de formação avançada, estou falando de formação básica mesmo. Tipo: eu nunca fiz teatro na minha vida, eu tenho 11 ou 12 anos, onde é que eu faço teatro nessa cidade? O único lugar de referência de uma iniciação teatral em Fortaleza é o projeto Princípios Básicos do Theatro José de Alencar. Essa iniciação é muito precária em Fortaleza, como também é muito precária a nossa infraestrutura de cultura. Um novo patamar que eu vislumbro é um patamar onde a gente tivesse, minimamente, solucionado esses nossos dois gargalos. A questão da iniciação e da infraestrutura. No caso de Fortaleza o cenário que se coloca de enfrentamento pra isso é conjunto, inclusive. Eu imagino que a Vila das Artes, consolidada, seja esse lugar que garanta a formação inicial. E aí eu falo o menino ou a menina, mas é força de expressão, pode ser o adolescente, o jovem. A minha meta é conseguir que a Vila das Artes dialogue com um conjunto maior de linguagens e de estruturas físicas também. Tive em Brasília semana passada, com o prefeito Roberto Cláudio, negociando no PAC Cidades Históricas três equipamentos que vão ser fundamentais pra esse segundo momento da Vila das Artes, que são uma conquista fundamental pra cultura em Fortaleza, que é a Casa do Barão de Camocim, o Teatro São José e a Casa da Fotografia. Nesses espaços teriam as escolas públicas de teatro, de dança, de artes visuais, de fotografia. Só aí a gente já daria um passo enorme.

O POVO – Em relação ao Teatro São José, que você disse naquele primeiro momento ser uma das suas prioridades, o que está sendo articulado?

Magela - Continua sendo (prioridade). Esses três são meninas dos olhos porque estão dentro desse guarda-chuva que é a Vila das Ates. O modelo Vila das Artes, juntando o funcionamento de um equipamento com uma iniciação artística, eu acho que pode, sim, colocar Fortaleza nesse novo patamar.

O POVO – Qual é o teu entendimento dessa formação? Porque a Vila das Artes fazia uma formação que não necessariamente era profissionalizante...

Magela – Na verdade, a Vila das Artes tem duas experiências bem sucedidas que são as duas experiências que estão dadas à cidade, e elas não são exclusivas nem têm um único perfil. Essas duas experiências são dança e audiovisual. O audiovisual, ao mesmo tempo que tem o curso de formação de realizadores, que a gente vai manter, e é um curso profissionalizante no sentido de que ele forma produtores e profissionais daquele segmento, tem o Pontos de Corte, que é a atividade dos cineclubes, tem um outro perfil de formação. No caso da dança, a gente tem o Formação Básica, que também vai voltar, que é pra criança, mas a gente está abrindo um voltado para coreógrafos. E aí já seria mais profissionalizante porque o cara já estaria no mercado. E eu acho que todas as outras ações que forem pensadas, viabilizadas pra Vila das Artes têm de ser assim: dosar níveis diferentes de formação, mas nunca esquecendo que tem diferentes iniciações, diferentes capacitações artísticas. Eu acho que esse conteúdo crítico é transversal.

O POVO – A Vila das Artes é esse polo, essa referência de formação em Fortaleza, mas quanto aos outros equipamentos?

Magela – Em termos de audiovisual e dança. No caso do Teatro São José, por exemplo, a gente tem uma verba, que não é uma verba volumosa, aqueles R$ 900 mil, mas eu estou só esperando essa definição de Brasília, porque o prefeito já foi muito claro: o Teatro São José sai. Ele sempre reitera isso, acha que é um desperdício pra cidade que o teatro esteja fechado. Não foi iniciada a reforma, ele só foi comprado. Os R$ 900 mil continuam no Governo do Estado, mas há o entendimento de que na hora de que for demandado, esse recurso é repassado. Só que ele estava previsto para a infraestrutura, e aí eu fico pensando que se vier o dinheiro de Brasília, eu poderia equipar (o teatro) com esses dinheiro do Estado. Então eu to imaginando que vem Brasília e com esses R$ 900 mil eu equipo e a escola começa a funcionar.

O POVO – Pelo PAC Cidades Históricas, vocês conseguiram quanto em Brasília?

Magela – A gente apresentou. Eles convocaram a gente pra uma reunião presencial em Brasília pra gente defender. São 44 cidades de todo o País disputando, recorrendo a um volume de R$ 1 bilhão de reais do Ministério da Cultura (MinC). A gente apresentou nove intervenções na cidade e três delas estão nesse complexo que a gente chama de Complexo Vila das Artes, que é a Casa do Barão, a Casa da Fotografia e Teatro São José. E até o final de abril eles vão dizer quais equipamentos de cada cidade vão receber os investimentos.

O POVO – Esses cursos da Vila das Artes que você citou, o Formação Básica em Dança, o de Realizadores em Audiovisual, projetos como o Dançando na Escola, estão todos parados.

Magela – Grande parte das ações está parada desde setembro. 

O POVO – Quando vão ser retomados e o que deve continuar ou não?

Magela – Agora em abril a gente apresenta a agenda básica dos equipamentos que, diante da fragilidade de Fortaleza, a gente tem como equipamento a praça, o mercado, o anfiteatro. Mas a Vila retoma as atividades que já são regulares. As alunas da Educação Básica são as mesmas, elas vão só para outro nível. O Pontos de Corte também retoma de imediato. E a gente abre o edital pra esses dois projetos: a terceira turma do audiovisual e essa primeira que a gente chama de turma de coreógrafos. Aí tem as seleções.

O POVO – Mas por enquanto está parado?

Magela – Está, está tudo na fase de revisão de projetos, de orçamento...

O POVO – Por causa disso, surgiu uma fan page do Mercado dos Pinhões reclamando da falta de atividades  lá e, de modo geral, dos equipamentos que estão parados.

Magela – Está, está tudo parado, com exceção do teatro Antonieta Noronha, que foi uma surpresa pra mim, tem uma vida que eu jamais pensei que tivesse, e a biblioteca (Dolor Barreira).

O POVO – Mas que está sem diretor ainda, né? (a biblioteca)
Magela – Está.

O POVO – Então, queria que você dissesse quando você pretende definir esse diretor e o que você está pensando para cada equipamento.

Magela – A gente tem um desenho de programação que contempla todos os equipamentos, mas que não enrijece nenhum deles. As propostas dos artistas e da cidade vão continuar sendo apreciadas pela secretaria. Esse hiato ao qual eu respondo... A primeira coisa é que eu já encontrei esses equipamentos todos parados, eles já estavam todos sem atividade. Segunda coisa é a dívida mesmo: a gente tem uma dívida de restos a pagar de R$ 2. 626. 665, 91, isso pra um orçamento de R$ 34. 166, 891 e pra um gasto fixo de pessoal de R$ 5.858, 000,00.  Então, assim, fazendo as contas, 10% do orçamento que me resta pra trabalhar em 2013 é de dívidas anteriores, coisas de 2007, por exemplo.

O POVO – Essas dúvidas são referentes a quê?

Magela – A pagamento de editais, à manutenção de ar-condicionado, a uma série de custeios, reformas de espaços que não foram pagas e programação cultural. No caso do Mercado dos Pinhões, é uma dívida de R$ 166 mil que eu vou ter de reconhecer pra poder pagar. Isso, do ponto de vista da gestão, é um desafio. Como é que eu vou instaurar novas dívidas, se na verdade eu tenho é de pagar uma dívida que está lá? Disse isso às pessoas do Mercado que me procuraram, mas as manifestações têm de ser livres. Eu acho que, se não for ofensivo nem pessoal, é do jogo. Operacionalmente a gente tinha uma série de complicadores pra voltar a ocupar esses espaços, mas o que eu achava mais importante era construir uma equipe, afinar essa equipe e conseguir desenvolver projetos e pensar coisas que tivessem alinhadas. Nada do que tinha foi desconsiderado. Então, tudo isso foi pensado e a gente chegou a um quadro de programação razoável pra cada equipamento.

O POVO – O que está sendo desenhado nessa programação pra cada equipamento?

Magela – Por exemplo, na Volta da Jurema, que tinha o Retratos do Vento, a gente pensa: o que é possível ter naquele mesmo espaço além do Retratos do Vento? É possível dialogar com o segmento, por exemplo, das manifestações populares naquele espaço porque é um tipo de apresentação que demanda menos infraestrutura? É possível deixar o Mercado com mais cara de mercado? Fazer feirinhas bacanas, feirinhas descoladas lá? A gente tem pensado nisso, e, claro, entendendo essas vocações que já são de cada lugar. Por exemplo, a relação da moçada dos quadrinhos com a Biblioteca (Dolor Barreira), a programação de música com o Passeio Público, isso tudo está mantido. Respeitando essa diversidade de possibilidades e, sobretudo, a tentativa de criar em Fortaleza uma agenda mínima que dê conta dos diferentes públicos.

O POVO – Essas dívidas que você falou já estão sendo pagas?

Magela – Elas têm de ser reconhecidas, aí é um processo administrativo, chama Reconhecimento de Despesas de Exercícios Anteriores. A Prefeitura toda tem de fazer isso.

O POVO – Mas isso não vai comprometer o início da programação em abril?

Magela – Não, isso é algo com que eu tenho de me preocupar, porque eu sei que eu vou ter de pagar essas despesas e essas despesas comprometem em tantos por cento o meu orçamento.

O POVO – Mas em termos de prazo, de retomada de atividades, isso não interfere necessariamente?

Magela – Não, a gente optou por não parar. A gente fez essa opção. A gente identificou, sabe administrativamente onde estão essas dívidas, fica impedido de fazer algumas coisas, mas não dá pra uma cidade como Fortaleza ficar sem uma agenda mínima.

O POVO – Em relação à Biblioteca, quando é que você pretende nomear alguém pra gerir a Biblioteca? Já tem alguém em mente?

Magela – Minha questão é só uma: quem for dirigir a Biblioteca teria de pensar não só na Dolor Barreira, mas nessas bibliotecas que estão na periferia e que devem vir a se configurar. Tem duas obras de biblioteca, duas obras delicadas, que tinham sido acertadas na gestão anterior, mas que estão irregulares do ponto de vista dos convênios, porque o dinheiro era para reforma e não para construção como de fato foi feito. Eu queria que essa pessoa pensasse não na direção de um lugar, mas na direção de uma estrutura a partir desse lugar. Eu queria isso. A gente está dialogando. Obviamente que a Biblioteca Dolor Barreira vai ter uma pessoa para cuidar dela, mas eu queria que acima dessa pessoa tivesse alguém que fosse transversal, inclusive e, sobretudo, do ponto de vista administrativo.

O POVO – Você conseguiu num tempo muito curto atender às demandas do pré-carnaval e do carnaval, atender às necessidades impostas pelo calendário. E em relação ao calendário, queria que você dissesse como está planejando o Salão de Abril, o aniversário da cidade, por exemplo, já que foi criada uma tradição de comemorar com um grande evento. Disseram que o Salão de Abril só seria com nomes locais...

Magela – Com relação ao Salão, este ano faz 70 anos do primeiro, não são 70 edições porque não houve Salão todos os anos. E aí a gente tem se debatido muito nessa questão de o que a gente faz pra lembrar que são 70 anos. O que a gente faz pra lembrar aos nossos artistas que construíram o nosso Salão? Evidentemente, isso não é fazer um Salão local. Então o Salão continua nacional, claro, é uma conquista importante, mas parte do Salão, pelo caráter dos 70 anos, vai ser elogioso a essa geração inicial, e aí é uma geração local. E o aniversário da cidade vai ser naquelas mesmas proporções que vinha sendo, já tem um nome (de artista) bem avançado, mas eu ainda não posso dizer quem é.

O POVO – O edital do Salão de Abril vai ser lançado quando?

Magela – Em abril. A preço de hoje, o Salão de Abril vai ter esses dois momentos. Eu não posso te precisar como, porque o edital ainda está sendo gestado, mas vai ter o momento celebrativo e o Salão de fato. Isso vai ser lançado junto com a agenda do aniversário da cidade, que terá o show do dia, esse artista que eu acho ótimo que fique esse suspense, a agenda básica dos equipamentos, esses editais do game e design que a gente está elaborando, a programação do Salão de Abril que, por ser 70 anos, começa em abril e se desenrola e as atividades patrimoniais que eu queria que virassem moda. 

O POVO – Além dos shows, que outras ações vão ser realizadas dentro da programação de aniversário?

Magela – Abril vai ser o grande mês de aniversário. Eu estou associando a retomada de atividades dos equipamentos ao aniversário e ao conjunto de ações esporádicas que a gente vai ter. O mês todo vai ser celebrativo. Agora, o dia, especificamente, casa duas coisas: precisa ter atividade infantil, é fundamental, e precisa ter alguma coisa que coloque um artista ou um coletivo do Ceará num destaque maior do que o que tradicionalmente ele tem. Então, no aniversário de Fortaleza vai ter uma atividade bacana pra criança, vai ter um artista local num momento de destaque mesmo, nessa apresentação com esse graaande artista nacional, que está na coisa celebrativa também, aí nas homenagens. Mas esse artista está em negociação, pode ser que não dê certo, mas eu estou com os dedos cruzados pra que dê certo.

O POVO – Saindo dessa questão do calendário, de onde partiu a ideia da reorganização da Comissão de Linguagens.

Magela – Quando a gente assumiu, tinha um desejo claro de dialogar com a estrutura que a gente encontrou tentando adaptar de alguma forma. Quando veio a orientação de que todas as secretarias teriam de construir um novo organograma, a gente potencializou as nossas ações prioritárias. Pra mim se dão em três eixos: que é o eixo do artista, que a gente nomeou de criação e fomento; o eixo do público, que a gente chama de coordenação de ação cultural; e o eixo da cidade, que é a coordenação do patrimônio histórico e cultural. A coordenação de linguagens que havia carecia de um chefe, e eu não falo de um articulador, falo de alguém que cobre e que demande serviços, prazos e ação dessas pessoas, que é o Lenildo Gomes. Agora, não vão ser mais coordenadores de linguagens, mas gestores de linguagens, esses gerentes de linguagem vão se reportar ao Lenildo. É essa a lógica que eu criei.

O POVO – Mas a divisão de linguagens permanece?

Magela – Permanece. O nosso desejo é incluir algumas linguagens novas: moda, humor, gastronomia. Por que a gente não apresentou esse coletivo, esse conjunto ainda? Porque imagina se eu só tenho sete, eu não sei ainda quantas vagas eu vou ter no organograma da Prefeitura. Eu fiz uma proposta, mas eu não sei como essa proposta de terceiro escalão vai ser aprovada. Então pode ser que, em algum momento, eu agrupe duas linguagens mais próximas por uma questão administrativa, não por não entendimento das particularidades. Isso vai ser um desafio. Mas na minha lógica esses gestores de linguagem tinham de se reportar a alguém e esse alguém se reportar a mim.

O POVO – Então o Lenildo é quem vai dialogar com os artistas?

Magela – A função do Lenildo é fomentar o trabalho o artista. Se o artista quer produzir e ele quer dialogar com a Secultfor, ele dialoga com o Lenildo.

O POVO – Inclusive em situações específicas, que escapam aos editais?

Magela – Essa é a minha maior discordância. Coordenador de linguagem, gestor de linguagem não é pra pensar só edital. Política de cultura não é só edital. Por exemplo, no ano passado não teve edital em Fortaleza.

O POVO – E este ano vai ter? O que está sendo planejado quanto a isso?

Magela – Se a gente regulamentar o Fundo Municipal de Cultura (FMC), ele abriga os editais, permitindo editais ainda mais cruciais. Como, por exemplo, edital pra aquisição de passagem aérea ou um edital pra fomento de festivais diversos ou um edital para aquisição de acervos. Esses editais mais estratégicos migram para o Fundo, inclusive por causa das câmaras setoriais, o diálogo com os fóruns de cada uma das linguagens, isso tudo vai ganhar um dinamismo maior. E a secretaria toca editais pra programas, que são os editais que eu acho mais interessantes. A gente está lançando um agora relacionado ao Dia da Mulher, em que a gente está premiando cinco dramaturgias com autoras com quaisquer temas ou autores que escrevam peças com mulher ou sobre o universo feminino. São editais pequenos, de valores mais reduzidos, mas que dão conta de pequenos momentos ao longo do ano.


O POVO – Mas a principal via vai continuar sendo os editais?

Magela – Sim. A melhor forma de transferir dinheiro público para a sociedade é o edital, a mais democrática e mais eficaz do ponto de vista administrativo.

O POVO – Mas quais políticas de apoio a Prefeitura vai adotar além dos editais?

Magela – Os editais que mais me atraem são esses vinculados a programas, mas eles só são possíveis com o Fundo funcionando efetivamente, e aí é um desafio de trabalhar pra regulamentar esse Fundo. Mas a gente tem três editais em conversa, um pronto, em dias de ser lançado, que é esse que a gente está chamando de Dramaturgias Femininas, e a gente está com dois em estudo, um de game, por conta do aniversário da cidade, e outro, também por conta do aniversário da cidade, meio transversal, mas na área de design de produto.


O POVO – Mas aqueles editais para os quais os artistas já se programam, de dança, teatro, circo...

Magela - Esses editais de linguagem migram pro Fundo porque eles viram política permanente. Essa é a minha proposta. A próxima reunião do Conselho (de Políticas Culturais do Município) vai deliberar sobre o Fundo, sobre a revisão da lei de criação do Conselho, porque a gente tem categorias que têm representatividade, mas não estão incluídas, e a urgência da regulamentação do Fundo.

O POVO – O que tem sido articulado em relação ao Fundo?

Magela – O que precisa ser feito de fundamental é saber como a Prefeitura vai operacionalizar o que diz a Lei. E aí o que o Conselho vai dizer? Em que momento vamos dispor desse recurso, qual é a prioridade, se são os editais, e editais de estímulo a que etc. Na próxima reunião do Conselho, a gente vai tirar essas duas comissões: a de reforma da lei do conselho e a de regulamentação do Fundo. E aí elas vão trabalhar e eu espero que não demore muito porque, de fato, é um dinheiro que a Cultura está perdendo.

O POVO – E sem o dinheiro do Fundo, sem a regulamentação resolvida, não tem Editais das Artes, por exemplo? Ou vocês já estão prevendo sem a verba do Fundo?

Magela – Eu não quero condicionar uma coisa à outra, não. Ano passado não teve edital e se pagou, no dia 28 de dezembro, os editais de 2011. Então, pra 2013, a gente tem os editais que não foram pagos, tem essa herança, então a margem de investimento é muito pequena. Eu sou mais esperançoso da aprovação do Fundo. É nisso que eu acredito, que o Fundo se transforme na grande válvula de fomento da cultura em Fortaleza. Porque aí isso passa a independer do poder público, da administração, é algo que vai estar dado. É óbvio que vai ter épocas do ano em que a arrecadação diminui, outras em que aumenta, e aí é uma questão de administração. Eu não posso criar uma despesa maior do que aquela que eu sou capaz de ter. 

O POVO - Sobre o Estoril, que gerou o primeiro burburinho da gestão, vocês lançaram um edital para consulta pública para uso do restaurante. No projeto tem algo que especifique uma programação cultural, alguma coisa que esse restaurante precisaria pensar para o Estoril? E o fato de o aluguel ser de R$ 15 mil reais não encareceria o acesso? Não restringiria o restaurante para os turistas? 

Magela – Isso é tudo muito complexo. E é bom que seja complexo e é bom que tenha o debate. No caso do restaurante do Estoril, primeiro eu tenho o entendimento de que o espaço físico dali é um restaurante e esse espaço físico pode dialogar com outras coisas. O que está dito no edital é qualquer, porventura, desejo do proprietário do restaurante em realizar alguma atividade que não seja oferecer serviços gastronômicos aos seus clientes, ele tem de pedir autorização da Secultfor 72 horas antes. O que está dito lá é que ele tem de vender comida, funcionar nos três horários, ao longo do dia, que tenha preços diversificados e que desenvolva algum estímulo, exercite algum conceito gastronômico, não dá pra ser uma pizzaria ou um fast food, porque eu entendo que esse tipo de gastronomia tem uma força de mercado que não precisa, necessariamente, ocupar aquele lugar do Estoril, isso está claro pra mim. Eu penso que alguém que se disponha seja alguém que já faça esse diálogo na cidade. Gostaria muito que a iniciativa privada se colocasse nesse desafio de requalificar a Praia de Iracema. Quem vai se dispor a pagar R$ 15 mil por mês tem uma sobrevida. Eu não posso colocar nosso principal espaço público, nosso principal cartão postal daquele pedaço da cidade, na mão de qualquer pessoa, não. Tem de ser alguém que pense: “Vou investir no Estoril? Vou. Respeito aquele lugar e quero que ele aconteça”. É essa pessoa que eu espero que apareça e tenha uma proposta mega bacana pra ali.

O POVO – E como ficariam moda e design?

Magela – Quando eu digo que o Estoril pode ancorar um polo criativo de moda, design e gastronomia, não necessariamente os outros espaços estariam todos vinculadas a moda e a design. Porque são políticas diferentes, uma coisa é a ocupação física do Estoril, outra coisa é essa política dos distritos criativos. 

O POVO – Como é feito esse link entre a política dos distritos criativos e o teu plano pro Estoril?

Magela – Eu raciocinei que o Estoril voltando a ser um centro de referência de gastronomia respaldado na cidade, eu posso agregar gastronomia àquela ideia original de polo de design e moda, junto essas três áreas, e garanto que a Praia de Iracema se torne uma referência pra cidade nessas três atividades. Vamos dar incentivo fiscal pra empresas nesse setor.

O POVO – Qual é o projeto da tua gestão para a Praia de Iracema?

Magela – O primeiro desafio é concluir as obras que estão pelo meio do caminho e rearticular os usos desses espaços. Quando eu vejo que tem um debate sobre o Estoril, acho bacana que tenha esse debate, demonstra a importância do Estoril, mas eu prefiro entender que a atividade da Secultfor na Praia de Iracema tem de ser integrada. São diferentes equipamentos. Por exemplo, está claro o que é, o que deveria ser, o que não pode ser o Estoril, mas e os outros? É de fato uma casa da lusofonia onde devia ser a Casa da Lusofonia?  Eu imagino que, a partir da posse dessa infraestrutura, a gente precise consolidar um debate sobre os usos daquilo. Eu acredito que o Estoril estando vivo deflagre algumas ações.

O POVO - Como você se posiciona em relação a esse debate sobre a Praia de Iracema entre o turismo e a cultura, entre o turismo e a retomada do lugar pelos fortalezenses?

Magela – O que eu penso pra turismo na Praia de Iracema é o que eu penso para o turismo do mundo: nenhuma cultura deve se adequar ao turismo. A cultura acontece, a cidade se encanta por aquilo e se encanta tanto que decide ofertar aquilo pra pessoas que chegam ali. A Praia de Iracema tem de ser culturalmente interessante e bacana, primeiro e sobretudo, para Fortaleza, aí não tem como um turista não gostar.

O POVO – Aí a gente vê projetos como o Acquario, ali na área da Praia de Iracema, e tem sido colocado como um atrativo especialmente para o turista. Como se aloca a tua visão com grandes empreendimentos que vão noutra direção?

Magela - Aí a gente está falando de uma cidade do devir, que não é a cidade de hoje. Por exemplo, vai que esse Acquario é construído e as pessoas de Fortaleza adoram? Eu ainda não sei. Vai que tem um programa enorme de educação ambiental? Eu não sei ainda qual é o uso que vai ter o Acquario. De toda forma, o aporte de fluxo de pessoas que ele vai levar pra Praia de Iracema não me assusta, porque eu tenho na memória uma Praia de Iracema absolutamente lotada. Agora, eu não me vejo comprometido em preparar a Praia de Iracema para a chegada do Acquario. Não é essa a minha preocupação, mas como eu posso requalificar, trazer uma Praia de Iracema de volta para Fortaleza, sobretudo, do ponto de vista do afeto.

O POVO – Como é que você enxerga o Conselho Municipal de Políticas Culturais? E qual será o peso desse conselho na tua gestão?

Magela - Meu sonho é que o Conselho de Políticas Culturais fique logo igual ao Conselho de Patrimônio Histórico. É uma coisa fenomenal o nível do debate, eles são muito articulados, entendem o que é de fato deliberar. É esse nível de sofisticação que eu acho que o Conselho de Políticas Culturais logo, logo vai chegar. Por exemplo, como não tem o Fundo pra gerir ainda, parte das obrigações do Conselho não está sendo exercitada. Mas a execução continua no Executivo, o que migra pro Conselho e que ele efetivamente guarda é a política. Ele tem de pensar o macro, não o rame-rame do dia a dia.

O POVO – Qual o peso da política de patrimônio histórico em Fortaleza? E a ideia de juntar o patrimônio com a cultura tradicional popular?

Magela – Nesse novo organograma, já está junto. O patrimônio imaterial sempre esteve dentro do patrimônio histórico, o que havia era um peso extraordinário num patrimônio de pedra e cal, que eu não tenho esse entendimento. A minha meta, pra política de patrimônio de Fortaleza, é conseguir convencer a cidade de que a política de patrimônio não é um problema. Se eu conseguir fazer isso e não tombar nenhum prédio, eu estou satisfeito. Uma vez por semana, eu recebo nesta sala uma pessoa chorando porque teve um prédio tombado pela Prefeitura. As pessoas têm um entendimento de que é ruim a preservação. Então eu tenho um desafio grande de construir uma política de educação patrimonial que seja bacana e afetuosa com a cidade.

O POVO – Tem algum projeto?

Magela - Esse curso pros guardas cicloviários que atuam no centro. A gente pretende replicar essa atividade com outros agentes que atuam nessas áreas, o pessoal do trânsito, da limpeza urbana. E pro aniversário da Cidade, a gente está querendo lançar um edital de game e a razão de ser desse game seria o patrimônio histórico de Fortaleza. E a gente quer disponibilizá-lo no site da Prefeitura, levar pras escolas e estimular que seja trabalhando em sala de aula.

O POVO – Sobre a equipe que você apresentou, esse primeiro escalão, você teve autonomia pra escolha desses nomes? Como foi o processo político da formação da tua equipe?

Magela – Claro que tem uma negociação, você apresenta, justifica, negocia, mas as pessoas estão nos lugares onde eu pensei que estivessem essas pessoas. E o fundamental é que as duas primeiras pessoas em quem eu pensei são as que estão aqui nos meus cargos mais estratégicos, que é a Nilde Ferreira e a Cláudia Pires. Foi difícil chegar nesse primeiro time, porque de fato eu queria pessoas criativas, experientes e sensíveis numa sensibilidade que fosse próximo à minha. Queria de fato fazer um coletivo que fosse sensível, mas operacional.

O POVO – Nesse momento, talvez por ser o inicial, há algumas reclamações no sentido de que a secretaria parece ainda não ter começado a funcionar efetivamente. Queria que você dissesse sobre as atividades que têm sido desenvolvidas desde que assumiu.

Magela - Há que se entender que uma secretaria de cultura não é a agenda que ela promove. Tem uma vida interna e administrativa que é fundamental. Claro que, por mim, todo dia seria carnaval, no sentido de que todo dia teria alguma coisa, todo dia a Prefeitura faria uma oferta de cultura, mas não dá pra ser assim. Na minha cabeça eu sempre pensei que essa agenda devia coincidir com o aniversário de Fortaleza. A gente assumiu com o carnaval e eu não podia deixar pra depois, e aí como segunda atividade mais importante vem o aniversário da cidade. Eu sempre raciocinei assim: a gente organiza tudo, deixa tudo onde for possível deixar, mas a partir de abril não é possível mais se dedicar com mais força ao trabalho interno, é preciso também estar na rua.

Fonte: O Povo On Line
Última atualização: 21/03/2013 às 11:32:14
 
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