As cores que vêm dos sprays dão vida à cidade por meio do grafite; prática será discutida em audiência pública
O cinza de Fortaleza pode ser surpreendido pelas cores, reflexões e nuances que só grafite proporciona. Seja em muros, fachadas e até mesmo carros ou skates, o grafitismo tem deixado de ser visto com preconceito, à medida que vai tornando o ambiente da cidade mais leve e agradável, posicionando a prática como item importante no cenário artístico atual. Hoje, para comemorar o Dia Nacional do Grafite, a Prefeitura Municipal de Fortaleza, por meio da a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Juventude de Fortaleza irá debater o universo do grafite e discutir o tema, durante uma audiência pública, a partir das 14h30, no auditório da Câmara Municipal.
O encontro terá como foco grafite, muralismo e pichação. Qual o sentido da arte urbana em Fortaleza e a relação da juventude com esses códigos muitas vezes indecifráveis serão pontos discutidos no evento.
Na visão do artista e grafiteiro Narcélio Grud, ainda há certa resistência quando o assunto é grafite, por conta da pichação, mas ele garante que a ideia da população, aos poucos, vem mudando bastante. "É sempre importante discutir o assunto, pois ainda existem pessoas que não reconhecem e entendem que o grafite não é vandalismo, mas uma arte", pontua. Ciente de que sua arte pode influenciar e melhorar o contexto da cidade, durante alguns anos, Grud foi responsável pelas famosos "cabeções" sorridentes, pintados pela Capital nas caixas de transmissão telefônica, geralmente localizadas em praças e cruzamentos. A ideia, segundo ele, partiu da essência do grafite, que é transmitir amor, alegria e incentivar a reflexão social.
Legalização
Atualmente, ainda segundo Grud, o Brasil é um dos países onde o grafite é legalizado, ou seja, quando possui o objetivo de valorizar o patrimônio de uma cidade, é visto como uma manifestação artística.
O reconhecimento, para ele, enalteceu os artistas que já trabalham com o grafitismo, ao mesmo tempo que tem incentivado pichadores a migrarem para o grafite. "A maioria dos grafiteiros, um dia, foram pichadores, inclusive eu", comenta.
Fortaleza conta, hoje, com 40 grafiteiros "mais maduros", segundo Grud. Outros 150 estão começando na arte, mas já são promessa pelo talento. O número, porém, é pequeno comparado à quantidade de pichadores. Só na Região Metropolitana de Fortaleza, segundo dados da Central Única das Favelas (Cufa), são 18 mil.
De acordo com Davi Favela, grafiteiro e Coordenador da Cufa Pantanal, é preciso investimento e ações sociais do poder público que incentivem o grafite e dê aos jovens liberdade para criar. "Existem jovens que tiveram tudo para trilhar outros caminhos, mas foram salvos pela arte", avalia.
Legado
150 grafiteiros estão iniciando e aprendendo as técnicas do grafite na Capital, e grande parte deles, conforme Grud, são promessas de talento.
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