Ballet de Londrina apresenta releituras contemporâneas de duas peças clássicas em Fortaleza
Em 2013, o ballet "A sagração da primavera", com música do compositor e pianista russo Igor Stravinsky (1882-1971), completa 100 anos. Ao mesmo tempo, a companhia de dança contemporânea Ballet de Londrina alcança os 20 anos de fundação. A ocasião, portanto, não poderia ser mais apropriada para o grupo trazer o mencionado espetáculo a Fortaleza, juntamente com "Petrouchka", cuja trilha sonora é do mesmo autor. As apresentações acontecem no Theatro José de Alencar, amanhã e quinta (4).
Originalmente, os dois ballets têm coreografia dos bailarinos russos Vaslav Nijinsky (1890-1950) e Michel Fokine (1880-1942), respectivamente. Pelas mãos do diretor e coreógrafo da companhia, Leonardo Ramos, porém, as obras, de caráter clássico, ganharam versões contemporâneas, a partir de uma estética que se revela bem própria do grupo.
"Não é uma linguagem exatamente inovadora, mas singular da companhia, resultado da experiência de profissionais que trabalham juntos há bastante tempo. Isso chamou atenção da crítica e do público", comemora Ramos.
O resultado vem de uma pesquisa realizada desde a metade dos anos 2000, com espetáculos como "Prazeres" (2005) e "Decalque" (2007) - no qual o diretor explora a horizontalidade e novos eixos de apoio e equilíbrio dos bailarinos.
"No balé clássico a movimentação é completamente vertical, as posturas são mais cotidiana, digamos. No nosso trabalho, procuramos outras formas de locomoção, de explorar o corpo e o espaço cênico. Em alguns momentos, lembra algo mais primitivo, animalesco", observa o diretor.
De fato, os movimentos de "A sagração da primavera", por exemplo impressionam pela pungência e pelo resultado plástico alcançado. Baseada em uma antiga lenda russa, a história do ballet narra a imolação de uma virgem oferecida aos deuses da primavera em troca da fertilidade da terra, alternando-se entre momentos delicados e cruéis.
Incompreendido e vaiado à época de sua estreia, em 1913, o ballet inaugurou uma vanguarda europeia, em grande parte por conta da composição de Stravinsky, que apresentava inovadoras e complexas estruturas rítmicas, timbres e uso de dissonância, com contínuos deslocamentos do acento rítmico. Tratava-se de uma peça sem relação com a tradição do século 19, o que a torna seminal na trajetória da história da arte.
Amores
Já "Petrouchka" conta a história de um triângulo amoroso entre três bonecos marionetes - o Mouro, a bailarina e o Petrouchka, espécie de pierrô. Eles ganham vida graças a uma mágica feita por seu dono, apresentador do teatro ambulante. Enquanto se envolvem em uma disputa de amor, os bonecos revelam facetas não tão bonitas desse universo, como a vaidade e o ciúme, rumo a um fim trágico.
Em vez de uma versão orquestral para os espetáculos, o Ballet de Londrina utiliza uma gravação do Amsterdam Piano Quartet, um quarteto de pianos. "Stravinsky era pianista, então, antes compôs uma versão para piano antes de terminar a partitura orquestral", ressalta Ramos. "Particularmente, eu também tenho afinidade com a musicalidade do piano, então procurei versões mais próximas disso".
Em relação à coreografia, o diretor revela ser um processo longo e difícil. "Crio as coreografia também a partir das peculiaridades de cada bailarino. Em ´Sagração´, essa etapa consumiu oito meses; em ´Petrouchka´, seis. É um período complicado, a cada proposta de trabalho você precisa adaptar o corpo do bailarino às ideias que surgem", explica.
Cada espetáculo reúne 12 bailarinos. "Sagração" estreou em 2011 e "Petrouchka", no ano seguinte. Para Ramos, embora diferentes, os dois são unidos pela música de Stravinsky. "O grande desafio é emocionar a plateia. Mas os dois trabalhos têm funcionado muito bem, as pessoas percebem os enredos das histórias a partir da movimentação dos corpos dos bailarinos. Apesar de a dança contemporânea ser uma linguagem menos relacionada ao cotidiano, tem uma força de comunicação muito grande, todos se emocionam com a energia em cena".
As apresentações em Fortaleza fazem parte de uma turnê nacional, que começa pelo Nordeste. A ação marca os 20 anos da companhia, fundada em 1993 pela Fundação Cultura Artística de Londrina (Funcart). "Fizemos questão de incluir Fortaleza na turnê, porque a última vez que estivemos aqui foi em 2003", recorda Ramos.
Além dos espetáculos, o Ballet de Londrina realiza hoje à noite a "Oficina de Ballet Clássico para Bailarinos iniciados em Dança Contemporânea", na Vila das Artes. As inscrições já foram encerradas. A atividade será ministrada pelo próprio Leonardo Ramos a bailarinos com experiência mínima de quatro anos em ballet clássico ou dança contemporânea). O objetivo é prepará-los para a utilização do corpo em todo seu potencial, explorar a força corporal em contraponto à gravidade dos movimentos e buscar o contato com o pensamento contemporâneo, visando à pluralidade de estéticas.
Mais informações:
Espetáculos "Petrouchka" e "Sagração da primavera", com o Ballet de Londrina. Amanhã e quinta (4), sempre com início às 19h30, no TJA (Praça José de Alencar, s/n, Centro).
Ingressos: R$ 20 (inteira).
Contato: (85) 3101.2583
Fique por Dentro
Trajetória de sucesso de público e crítica
O Ballet de Londrina é um dos grupos brasileiros de maior circulação nacional e internacional. Mantém um trabalho ininterrupto e currículo que inclui montagem de 24 espetáculos apresentados em 15 turnês pelo País e 14 ao exterior. O trabalho é reconhecido pela crítica especializada e já participou de festivais como o Danza Nueva (Peru) e Festival Internacional de Dana de Camaguey (Cuba). Representou o Brasil no Harare Internacional Festival of the Arts - HIFA, no Zimbábue (África). Recentemente se apresentou na França, iniciando um intercâmbio artístico na Europa. A organização não governamental Funcart, que está à frente da companhia londrinense, tem o objetivo de democratizar o acesso à formação e produção cultural de qualidade, através de projetos como a Escola Municipal de Dança, que atende mais de 500 crianças da classe média e baixa nos cursos de clássico e de iniciação à dança em bairros da periferia londrinense. Seu diretor, Leonardo Ramos, nasceu em Olinda (PE) e iniciou os estudos de dança clássica aos 17 anos, com Ruth Rosembau e Eduardo Freire. Em 1981, mudou-se para Curitiba, onde cursou a Escola de Dança do Teatro Guaíra. Em 1993 criou o Ballet de Londrina. De maio de 2009 a dezembro de 2012, foi Secretário Municipal da Cultura de Londrina.
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