Anna Karenina, a épica história de amor criada por Leon Tolstoi, chega às telonas de forma surpreendente. É mais que um filme. É também teatro, com elementos de dança e pitadas de um musical burlesco
Para ver a nova versão de Anna Karenina é preciso estar aberto a novas experiências. O diretor Joe Wright, responsável pelos bem sucedidos "Orgulho e preconceito" e "Desejo e reparação", subverte a forma de contar o drama russo e transforma a telona em um imenso teatro, onde os espectadores não ficam restritos à plateia. Passeia-se pelas coxias e pelos camarins até que as cortinas se abrem para o drama.
Assusta um pouco pela ousadia, mas não chega a ser um novo "Dogville". Ainda assim, é um filme para um público disposto a se dividir entre as duas formas de arte. Isso porque a linguagem cinematográfica, com toda sua magia (aquela que nos envolve e transporta para dentro da história), também está presente e oferece sequências arrebatadoras, fotografia impecável e figurino que faz jus aos prêmios - incluindo o Oscar - que conquistou.
Quem espera ver em "Anna Karenina" um drama romântico, em meio à bela reconstituição de época, vai se decepcionar. As passagens de cenários (do cinema para o teatro e vice-versa) quebram um pouco a intimidade com a trama.
Além disso, não há nenhum personagem com carisma de herói o suficiente para conquistar nossa simpatia imediata como o fez Sr. Darcy (do romance de Jane Austen).
Nem mesmo a experiente Keira Knightley, no papel-título, consegue fugir às armadilhas de um roteiro que parece raso demais diante de uma obra clássica como a de Tolstoi. A atriz exagera, muito!
Na trama, Anna é casada com Alexei Karenin (papel que Jude Law consegue segurar direitinho), um rico funcionário do governo. O casal vivia uma relação socialmente cômoda e emocionalmente insossa até que, durante uma viagem, Karenina conhece o conde Vronsky (Aaron Johnson), um jovem oficial do exército com quem vive uma tórrida e escandalosa paixão que sacode a burguesia hipócrita, na Rússia de 1874.
Se na obra original, as questões amorosas são apenas o pano de fundo para uma história cheia de nuances filosóficas e críticas sociais, no filme de Joe Wright, os amantes e o marido traído são o centro.
Em torno dos protagonistas, outros dramas se desenrolam sem maior destaque. Apenas reforçam a tese de que amar parece ser a indispensável arte do sentir e do sofrer.
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