O futurista "Medo do Escuro" terá no elenco Jonnata Doll e Uirá dos Reis. O filme mostrará a Fortaleza devastada
O futuro próximo guarda cenas de abandono e destruição em Fortaleza. Dia 1 de junho começam as filmagens de "Medo do Escuro", da Alumbramento Filmes, com direção de Ivo Lopes. O longa-metragem de ficção científica apresenta uma cidade simbolicamente ao avesso: pós-apocalíptica, destruída, sombria, onde rebeldia é ousar sair do submundo em que está aprisionado o que resta da sociedade. A superfície da urbe é o espaço marginal.
Estrelando a produção, já estão confirmados o músico Jonnata Doll (o Zelador), como protagonista, o artista visual Solon Ribeiro (o Grego), o cineasta Uirá dos Reis (Sr. Hiena), a coreógrafa Sílvia Moura, a estilista Themis Memória e a atriz Nathaly Rocha. O experiente Ary Sherlock também está sendo sondado para participar.
"Não focamos a seleção em atores de teatro e nem vamos trabalhar o filme a partir do teatro. Selecionamos pessoas que tem um trabalho de corpo, de performance. A história foi surgindo disso", situa o diretor e idealizador do filme, Ivo Lopes. Premiado pelo documentário "Sábado à Noite" (2007), Ivo fará agora sua estreia em longa de ficção.
A trama, explica, surgiu a partir do trabalho que cada um dos convidados a atuar já desempenha na Cidade. "O Jonnata não é um ator. Ele é uma persona, já. Que personagem seria legal construir para ele? Assim foi surgindo o entorno do filme, que é esse cenário apocalíptico, meio ´rocker´. São pessoas que a gente tem uma relação de afeto, de admiração pelo trabalho", completa o realizador.
Filmagens
O Centro de Fortaleza abrigará grande parte das locações. O vazio das noites do bairro, dos dias de domingo, destaca o diretor, estão entre as imagens da Fortaleza real e presente que inspiraram o roteiro. Na trama, os habitantes de Fortaleza foram impelidos para um subterrâneo, enquanto a superfície em caos é dominada pelo tirano Grego, personagem de Solon. Jonnatan, encarnando o Zelador, é uma figura rebelde e obsessiva que se aventura na superfície em busca de uma sombra misteriosa e traficando objetos ao submundo.
"Mesmo quando fiz ´Sábado à Noite´, que é um documentário, faço uma narrativa meio descolada da realidade. Eu tenho uma propensão a pensar essas coisas. E esse mundo apocalíptico surgiu nisso. Fortaleza tem vários lugares que contribuem para isso", diz Ivo.
Produção
Gravado em grande parte em cenas externas, o filme é considerado pelo grupo de jovens cineastas o mais ousado já produzido por eles. A ideia, justifica o diretor, é recriar uma superfície em escombros, árida, de um lado, e dar forma a um subterrâneo possível, de outro. "É um filme de rua. Não é um filme que vamos rodar dentro de uma casa, de um apartamento", reforça o produtor recifense Tiago Melo, sobre as dificuldades a serem enfrentadas. O filme será rodado em película 16 mm e está orçado em quase R$ 600 mil. Um valor baixo para este tipo de filme, porém significativo para uma produção independente, nos moldes propostos.
A viabilização do longa contou apenas com patrocínios e apoios privados, além de absorver uma série de prêmios recebidos pela produtora nos últimos anos. "A gente vem de uma trajetória de vários curtas, de vários longas. Estamos sempre querendo dar um passo além. Em alguns momentos a gente até deu passos atrás, para poder dar um passo firme. E a cada filme vamos somando, aprendendo. Estamos conseguindo apoio em lugares que nunca fomos, porque nem acreditávamos que fosse possível", avalia Ivo. O diretor reforça que parcerias ainda são bem vindas. Atualmente, a produção está em fase final de escolha do elenco de apoio e finalizando os preparativos para o início da filmagem.
O longa metragem será rodado durante todo o mês de junho. A edição e finalização das imagens deve ser feita no final do ano e o lançamento previsto para 2014.
Fortaleza
Absorvido por filmagens realizadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília e Recife, Ivo Lopes enquadra o novo filme como um ato de resistência em Fortaleza. "Eu me sinto extremamente abraçado quando eu vejo que a equipe inteira é de pessoas dessa cidade. O elenco deste filme também. Todas essas pessoas são a cara da cidade, são os artistas daqui. De alguma forma a cidade já está vindo. Mas é preciso que as pessoas entendam a importância disso", argumenta.
Falta um envolvimento, na ótica do cineasta, tanto de quem vive em Fortaleza como dos governos com a produção audiovisual da cidade. Embora o Ceará esteja no mapa de produção do novo cinema brasileiro, analisa, não há aqui um ambiente tão favorável a estas produções.
"Hoje em dia, Fortaleza é o lugar onde menos tenho trabalho. Aqui é onde eu venho descansar", lamenta. Ivo destaca a capacidade de abrigar boas produções que está sendo gestada pelas escolas de cinema da Unifor, da UFC e da Vila das Artes. "Está vindo uma leva de jovens cineastas. Pessoas capacitadas e talentosas que podem mostrar Fortaleza para o mundo. E ai, vai todo mundo embora?", questiona. E provoca: "a cidade está crescendo. É o momento da gente começar a se estabelecer enquanto cidade para além de ser somente o imaginário da praia ou da prostituição".
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