Fundamental para a arte contemporânea, a Pop Art integra a mostra "Trajetórias", em cartaz na Unifor
A trajetória das artes no decorrer da existência humana é, em todas as partes do mundo, pontuada por rupturas e transformações. Elas acontecem desde a era das pinturas rupestres. Primeiro seguiam fielmente as formas de animais e outros elementos do ambiente; depois, com desenhos mais geométricos, elaborados sem a preocupação de reproduzir figuras do mundo concreto.
Núcleo dedicado às expressões da Pop Art brasileira integra exposição "Trajetórias: Arte brasileira na Coleção Fundação Edson Queiroz", em cartaz no Espaço Cultural Unifor. Mostra fica em cartaz até o dia 8 de dezembro
Assim também ocorreu com o abstracionismo e seus diferentes movimentos artísticos - expressionismo, impressionismo, fauvismo, concretismo, neoplasticismo, entre outros inicialmente ligados às vanguardas de origem europeia - que livraram a pintura da obrigação de simplesmente retratar cenas, personagens e outros temas naturais.
Após essa quebra de paradigmas ligada à subjetividade e representação na pintura, outra questão passou a inquietar artistas, relacionada ao hermetismo e à "erudição" da arte moderna: por que determinadas linguagens, suportes ou mesmo conteúdos relacionados à cultura popular (no sentido daquela consumida pelas grandes massas) não poderiam ser considerados objetos de valor estético? As histórias em quadrinhos e a publicidade, por exemplo, deveriam ser relegadas ao status de expressões "inferiores" da criatividade humana?
Cotidiano
A partir dessa provocação, que recusa a separação entre o artístico e o cotidiano, criadores apropriam-se de motivos estéticos de produtos como histórias em quadrinhos, peças de publicidade, imagens da TV e do cinema, cartazes e até rótulos de enlatados para elaborar suas obras. Surgia a Pop Art, estilo fundamental para a arte como a compreendemos hoje e, por conta de sua relevância, um dos núcleos da exposição "Trajetórias: Arte brasileira na Coleção Fundação Edson Queiroz", em cartaz no Espaço Cultural Unifor.
No Brasil, o surgimento da Pop Art esteve diretamente ligado à quebra de paradigmas da geração neoconcreta, que trouxe certa organicidade à concepção formal do geometrismo. Ao mesmo tempo, estava ligada ao deslumbre da população com então novo cenário da comunicação de massa, especialmente com a TV.
Referências como futebol, Carnaval, telenovelas e concursos televisionados de misses constituíam o repertório de artistas - que também se voltavam ao engajamento político, por conta do regime político vigente à época. Assim, obras misturavam elementos de denúncia (como rostos de desaparecidos políticos) a imagens da chegada do homem à lua, de estrelas de cinema e outras celebridades pinçadas da cultura de massa.
Nomes fundamentais da Pop Art no País, Rubens Gerchman, Cláudio Tozzi e Nelson Leirner estão reunidos na exposição "Trajetórias". Leirner, por exemplo, é autor da famosa "Santa Ceia", na qual as figuras bíblicas são substituídos por personagens das histórias em quadrinhos da Disney. Uma reprodução dessa obra foi utilizada em outra, também de sua autoria e presente na mostra, chamada "Relógio" (1999).
Já Tozzi está presente com "Astronauta", de 1969, que mostra como a Pop Art no Brasil aproximou-se daquela norte-americana pelo uso do de cores saturadas e em alto contraste. O mesmo vale para "Sequência 8´´ (2005), de Gerchman. O núcleo reúne ainda trabalhos de Geraldo de Barros, Judith Lauand, João Câmara, Siron Franco, Wanda Pimentel e Antônio Dias.
Começo
Um dos acontecimentos que marcou o início da Pop Art - termo cunhado pelo crítico britânico Lawrence Alloway (1926 - 1990) - foi a colagem do artista Richard Hamilton (1922), chamada "O que Exatamente Torna os Lares de Hoje Tão Diferentes, Tão Atraentes?", peça de divulgação do catálogo da exposição This is Tomorrow, do Independent Group, em Londres.
A colagem, que exibia uma cena doméstica, foi elaborada com recortes de anúncios tirados de revista, deslocados de seu contexto original (publicidade, consumo, comércio) para o da arte. O Independent Group reunia ainda grandes nomes que lançaram as bases para essa nova forma de expressão artística, entre eles Eduardo Luigi Paolozzi (1924 - 2005), Richard Smith (1931) e Peter Blake (1932).
Nos EUA, artistas da Pop Art trabalharam de maneira isolada até 1963, quando duas exposições reuniram obras com características em comum: "Arte 1963 - Novo Vocabulário", na Filadélfia, e "Os Novos Realistas", em Nova York. Nesse momento, nomes como Andy Warhol (1928 - 1987), Roy Lichtenstein (1923 - 1997) e Tom Wesselmann (1931 - 2004) surgem como os principais representantes norte-americanos da nova corrente artística.
Mais informações
" Trajetórias - Arte brasileira na coleção Fundação Edson Queiroz", no Espaço Cultural Unifor (Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz). Aberta à visitação até 8 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h, sábados e domingos, das 10h às 18h. Estacionamento no local. Contato: (85) 3477.3319
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