No momento em que o forró eletrônico do Ceará ganha o Brasil, as bandas que tocam o estilo fazem dezenas de show por mês e até mesmo o axé no Carnaval cede espaço ao ritmo, o tradicional forró pé de serra mantém seus admiradores. Em espaços onde o trio de zabumba, sanfona e triângulo reinam em meio ao arrastar de pés dos dançantes, é possível entrar na dança até mesmo com o clássico passo “dois pra lá, dois pra cá”.
O ritmo regional, que também incorpora o baião e o xaxado, tem diferentes teorias acerca de sua origem. A mais aceita delas é a do folclorista Luís da Câmara Cascudo, publicada em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, de 2001. Segundo ele, a palavra forró se refere ao termo “forrobodó”, de origem africana, que era usado para designar animadas festas populares que, no Nordeste, eram embaladas por xaxado, xote, coco, entre outros ritmos, tocados na sanfona ou acordeon.
Com o passar do tempo, o termo passou a denominar não as festas, mas sim os ritmos lá tocados. Diz-se ainda que, desde que o termo “forró” passou a se referir a um ritmo musical, Luiz Gonzaga, o rei do baião, passou a chamar de forró pé de serra o som que ele fazia.
O Buchicho Guia mostra os principais redutos do forró pé de serra em Fortaleza. Lugares onde músicas como “Numa sala de reboco” não podem deixar de tocar, onde a sanfona dita o ritmo da festa e onde dançar coladinho é a maior diversão.
Nas noites de domingo, o Mercado dos Pinhões vira pista de dança. O projeto “Forró no Mercado” lota o espaço de apaixonados pelo tradicional ritmo. No dia seguinte, é possível ouvir clássicos do forró pé de serra na “segunda-feira mais louca do mundo” do Pirata Bar. Os artistas que se apresentam na casa organizam até uma quadrilha mesmo fora de época. Tudo para garantir a animação até o fim da extensa programação.
MERCADO DOS PINHÕES
Às 19 horas, quando a banda começa a tocar, o Mercado dos Pinhões já está repleto de pessoas das mais variadas idades ansiosas pelo início da banda. A programação do domingo com forró pé de serra acaba de reiniciar e a empolgação dos presentes nas mesas e na pista de dança é a prova do sucesso. As bandas se revezam semanalmente, mas o arrastar de pés no centro do salão é o mesmo. Quem chega por lá, não fica muito tempo em pé. Os braços estendidos em convite para uma dança são constantes. Quem não tem par também não precisa ficar parado. O espaço à frente do palco é ocupado por animadas senhoras dançando sozinhas ou fazendo dupla com outra.
A iluminação da praça no entorno do Mercado, onde ficam estacionados os carros é um ponto a favor, que se soma positivamente ao policiamento nas entradas do espaço tomado pelo forró. Há mais de um ano, Ivone Lacerda ajuda uma amiga proprietária de um dos boxes que vendem comidas e bebidas no Mercado nas noites de sexta (cuja programação é embalada pelo chorinho) e domingo. “Na abertura estava mais lotado, mas acho que é porque no meio do mês ninguém mais tem dinheiro. O povão gosta aqui da festa”, contou ela enquanto observava a animação no espaço.
EU VOU!
“Danço só, mas não danço pra não ter que dançar com quem não sabe trocar passo. Todo domingo venho dançar. Isso aqui não pode acabar é nunca!”
Antônio Braga de Vasconcelos, 77 anos
EU VOU!
“Estamos vindo pela primeira vez e adorando. O pé de serra é o único e verdadeiro forró!”
Francisca Brito, 40, representante comercial, e Pires, 44, comerciante
PIRATA BAR
Localizado na Praia de Iracema, o Pirata Bar promete a quem por lá chega viver a “segunda-feira mais louca do mundo”. Durante mais de oito horas de apresentações musicais, não podem faltar os sons brasileiros do axé, samba e sertanejo, bem como o forró pé de serra, que está na programação da casa de 1986, quando era tocado pelo sanfoneiro Azeitona. “O Pirata sempre foi muito irreverente, multicultural e, na época, o forró era somente tocado na periferia. Todo mundo gostava, mas não havia opção em Fortaleza e assim se firmou como um lugar alternativo, promovendo as tradições culturais do Nordeste e do Brasil”, disse a assessoria da casa. Atualmente, é o grupo Forró Pé de Chinelo que comanda a festa que conta ainda com a participação da quadrilha junina do Zé Testinha. O arrastar de pés é finalizado com um arraial improvisado com o público.
Serviço
Forró no Mercado
Onde: Mercado dos Pinhões (Praça Visconde de Pelotas – entre as ruas Gonçalves Ledo e Nogueira Acioli).
Quando: todos os domingos, das 19 às 21 horas
Entrada gratuita
Outras informações: 3105 1464
Pirata Bar
Onde: rua dos Tabajaras, 325 -
Praia de Iracema
Quando: todas as segundas-feiras, a partir das 20 horas
Quanto: R$ 40
Outras informações: (85) 4011 6161 / www.pirata.com.br
|