Diante da preocupação dos artistas, Banco do Nordeste rebate críticas e comenta transferência do CCBNB-Fortaleza
As indefinições quanto à transferência do Centro Cultural Banco do Nordeste para uma nova sede já vinham sendo motivo de preocupação entre a cena artística da cidade e os usuários, acostumados com a atual localização do espaço, à Rua Floriano Peixoto. No entanto, ao que parece, não só a transferência tem gerado polêmica entre os artistas. Ao assumir a presidência do Banco do Nordeste, em agosto do ano passado, entre outras mudanças, Ary Joel Abreu Lanzarin desvinculou as ações culturais do gabinete e as atrelou ao setor de comunicação e marketing. A decisão foi encarada como uma falta de atenção da instituição para com a cultura.
"Naturalmente, o que existe é um outro olhar sobre os centros cultuais, menos carinhoso, no mínimo. Ao longo desses meses, temos sentido uma falta de atenção por parte da instituição", desabafa Rogério Mesquita, integrante do Grupo Bagaceira de Teatro. Mesquita também questiona a decisão institucional de optar pela Lei Rouanet como uma de suas principais formas de financiamento. "É como se o banco já não visse mais a cultura como uma ação e, sim, como um ônus", afirma.
Além disso, o adiamento do Programa de Cultura do BNB deste ano fechou a conta. O projeto é responsável por patrocinar, com recursos do BNB e do BNDES, iniciativas nas áreas de música, literatura, artes cênicas, dança, artes visuais, audiovisual, patrimônio e artes integradas. Segundo o gerente do Ambiente de Gestão da Cultura do BNB, Tibico Brasil, as mudanças dizem respeito apenas a organogramas da empresa e não devem interferir na programação dos centros culturais e, muito menos, no investimento em projetos.
"Com a vinda do Dr. Joel, iniciamos um processo de reestruturação de várias áreas do banco, não apenas na cultura. O que aconteceu foi o deslocamento da cultura de uma diretoria para a outra. Não quer dizer que os projetos estejam diminuindo ou aumentando, apenas mudando de superintendência", explicou.
Quanto às reclamações de diminuição na agenda dos centros, segundo Tibico, diante do processo de transferência da sede de Fortaleza, o edital de programação precisou ser modificado.
"Como havia essa indefinição, achamos por bem retirar Fortaleza do edital e, por isso, demoramos um pouco para lançá-lo, mas as programações do Cariri e de Souza não só foram lançadas como já foram divulgadas", rebate o gerente. De acordo com ele, nos outros dois centros, a quantidade de iniciativas programadas é a mesma das outras edições.
Sobre a escolha da Lei Rouanet como forma de financiamento, o banco reforça que sua verba própria para investimento em cultura não foi reduzida e a captação pela lei seria apenas um modo de complementar esse apoio. "Temos nossa verba de quatro milhões ao ano para os três centros e isso não foi modificado", ressalta Tibico.
O Programa de Cultura do BNB, adiado sem previsões de acordo com nota no site oficial da instituição, deverá ser retomado no segundo semestre desse ano. "O adiamento do programa não tem nenhuma relação com o problema do CCBNB-Fortaleza, foi uma decisão da diretoria não lançar agora", explica.
Centro de Referência
Após dois anos, o impasse do CCBNB-Fortaleza parece caminhar para uma resolução. Tanto a gerência do centro cultural quanto o secretário de Cultura de Fortaleza, Magela Lima, reforçam que o que se tem é ainda um diálogo entre as instituições, mas bastante avançado. "Estamos nos últimos capítulos, certamente. Estamos aguardando o fechamento da contrapartida e a cessão do imóvel pela Prefeitura, mas a decisão deve ser analisada ainda pela câmara dos vereadores", comenta Tibico.
O imóvel citado pelo gerente é o Centro de Referência do Professor, equipamento municipal localizado na Rua Conde D´eu, que abriga ações formativas ligadas à Secretaria de Educação do município e a Galeria Antônio Bandeira. Para Tibico Brasil, a ida do CCBNB para este espaço deve garantir não apenas a manutenção das iniciativas promovidas no Centro da cidade, mas uma ampliação. "Podemos, por exemplo, aumentar nossa biblioteca", acrescenta.
No entanto, se concretizada, a transferência, além de reformas para adaptação do espaço, ele deverá receber pelo menos uma nova estrutura: um teatro. "Ainda é cedo para falar nisso, já que ainda é hipotético, mas assim que os papeis estiverem devidamente assinados, devemos solicitar um projeto e, aí, sim, partiremos para um momento de definição de prazos", explica.
Quanto ao boato de que o banco não pretendia pagar pela reforma do espaço, tanto a Prefeitura quanto o centro cultural não confirmam essa informação. "Não existe nada disso. A partir do momento em que o banco receber a cessão do imóvel, poderá e deverá fazer as alterações", afirma Tibico. Por sua vez, o secretário de cultura do município, Magela Lima, confirma as informações dadas pelo gerente. "O que existe é um diálogo bastante avançado de melhorar aquela negociação inicial, feita em dezembro. Entendemos a importância de que o CCBNB permaneça no Centro. Não era certo que a Prefeitura fechasse os olhos para isso e, simplesmente, perdesse esse equipamento", posiciona-se.
Segundo ele, o que a Prefeitura tem feito atualmente é estudar uma contrapartida interessante para o banco e para a cidade. "Se a instituição possuía um recurso para comprar um prédio privado no Centro, então que esse dinheiro seja investido em beneficio da cidade. O que tem sido estudado até agora: o CCBNB iria para o Centro de Referência, mantendo a estrutura cultural do equipamento em caráter de gestão compartilhada e, em troca disso, além da adaptação do espaço para uso do BNB, o banco faria ainda uma reforma em um equipamento da Prefeitura na Bela Vista", revela. O equipamento é um mercado de secos e molhados, aos moldes do São Sebastião, mas com uma quadra esportiva e um pequeno teatro. A ideia da prefeitura é que o CCBNB possa, após a reforma, utilizar esse teatrinho como o Dragão do Mar com o Centro Cultural do Bom Jardim.
Desde já, Magela adiantou que a Galeria Antônio Bandeira deve permanecer no local, sendo gerida pelo Centro, e que as atividades da Secretaria de Educação já possuem um endereço novo: um prédio na Rua Dona Leopoldina. "Tudo foi mensurado. Mas precisamos pensar como Prefeitura e como cidade: é importante que o CCBNB não saia do Centro", finaliza Magela.
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