Há escritores cuja vida não consegue fazer sombra a sua obra. Não é esse o caso de Francis Scott Fitzgerald (1896 - 1940). Qualquer biografia do autor vai narrar histórias pelo menos tão interessantes quanto aquelas que ele mesmo contou em seus contos e romances. Fitzgerald foi um dos personagens centrais da trama que envolveu uma geração brilhante de escritores, sempre às voltas com álcool, sexo e literatura. Ambientadas entre os Estados Unidos e a França, o cenário destas histórias de vida combinava luxo e decadência, como uma afronta aos horrores das guerras que infestavam a Europa na primeira metade do século.
São escritores lidos até hoje. Caso de Ernest Hemingway, Ezra Pound, John Dos Passos, T. S. Eliot, Gertrude Stein, além do próprio Fitzgerald e de sua esposa, Zelda. A turma até ganhou um apelido - segundo Hemingway, em "Paris é uma festa" (1964), cunhado por Stein. Eles foram a "geração perdida". Woody Allen retratou essa constelação em seu "Meia-noite em Paris" (2011). Como quase todo mundo, deixou-se seduzir pelo charme paradoxal do grupo, que remete ao título de um dos romance de F. Scott Fitzgerald - "Os belos e malditos" (1922). Eram assim Scott e Zelda.
O casal viveu uma relação turbulenta, com traições de ambos os lados, instabilidades psiquiátricas, festas intermináveis e muito, muito álcool. Ambos morreram ainda jovens - ele, com 44; e ela, com 47.
O tempo fez de Zelda uma protagonista na vida do grande F. Scott Fitzgerald. Condenação um tanto moralista e chauvinista. Só agora a escritora vê uma tábua de salvação: três romances recém-lançados no EUA a tomam com protagonista; e o renovado interesse pela obra do marido, graças à Hollywood, deve beneficiá-la também.
Adaptação
F. Scott Fitzgerald voltou à pauta literária graças à recente adaptação de "O Grande Gatsby" para os cinema. Quarta adaptação da obra-prima do escritor, o filme foi dirigido por Baz Luhrmann tem um elenco promissor. Leonardo Di Caprio, Carey Mulligan e Tobey Maguire interpretam os personagens centrais.
O filme estreou em maio nos EUA, mas só chega ao Brasil dia 14 de junho (um hiato difícil de entender, já que o longa está disponível em cópias piratas na internet). O público até respondeu bem, levando em conta os concorrentes da temporada - os ultrapop "Homem de Ferro 3" e "Velozes & Furiosos 6". A crítica detestou: o cineasta teria se deixado seduzir pelo glamour da década de 20, quando a riqueza e a pretensa sofisticação são denunciadas como superficiais pelo autor.
"O Grande Gatsby" conta a história do reencontro do personagem título com um amor do passado. Ele saiu da pobreza para conquistar a menina rica, que acabou casando com um sujeito vaidoso, endinheirado e rude. A história no romance e no filme é narrado por um primo da musa de Gatsby, ao passo em que ele mesmo é introduzido no decadente universo do luxo.
Erro persistente
Fitzgerald é visto como um autor maldito em Hollywood. A despeito de sua popularidade e do estilo direto de suas histórias, a verdade é que o escritor nunca ganhou uma adaptação à altura de seu trabalho. Quem chegou mais próximo disso foi "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008), de David Fincher. O filme foi bem recebido pela crítica e oscarizado, mas a verdade é que quase nada tem da história de Fitzgerald.
O próprio "Gatsby" já ganhou outras versões. A primeira apenas um ano após a publicação do livro. Dirigido por Herbert Brenon, o filme mudo acabou se perdendo. O que resta hoje é apenas um trailer. Na época, desagradou os críticos, as plateias e até o próprio autor. A segunda adaptação chegou aos cinemas em 1949, com direção de Elliott Nugent. Deu ares noir à trama, o que já deixa entrever seu fracasso.
A versão mais famosa do romance foi estrelada por Robert Redford e Mia Farrow em 1974. Jack Clayton fez uma produção um tanto pálida, tendo como atrativos maiores o roteiro de Francis Ford Copolla, a beleza de Redford e a trilha sonora jazzística (referência que versão de 2013 dispensou em favor do pop contemporâneo).
Livros
O escritor não é propriamente um best-seller no Brasil. Nos EUA, já é há algum tempo um clássico e seu romance "O Grande Gatsby", daqueles livros que todo mundo lê no tempo da escola.
O filme de Baz Luhrmann motivou as editoras nacionais a lançar traduções do livro. Há pelo menos oito edições diferentes do romance de Fitzgerald em catálogo no País; quatro fresquinhas, publicadas este ano. Das novas, três apostaram na mesma estratégia para atrair leitores: estampar na capa a arte do filme estrelado por Leonardo Di Caprio. É estranho ver nas livrarias o mesmo título, com capas idênticas, de editoras e traduções diferentes e conteúdos levemente distintos.
Talvez por isso o selo Tordesilhas tenha buscado dar à sua versão alguns "bônus". O primeiro é o prefácio escrito pelo autor à edição de 1934; seguido de um prefácio assinado pelo escritor norte-americano Alex Gilvarry; passando pelo mais especial do pacote - um conjunto de cartas trocadas por Fitzgerald e seu editor, Maxwell Perkins (1884 - 1947); e concluindo com um mino, uma cronologia do tipo vida-e-obra do autor.
LIVRO
O grande Gatsby
F. Scott Fitzgerald
Tradução: Cristina Cupertino
Tordesilhas
2013, 288 páginas
R$ 29,90
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