Onze anos depois, o "Sai de Baixo" está de volta. Em comemoração aos três anos do Canal Viva, o elenco da sitcom se reúne em quatro episódios, no ar a partir de amanhã
Um tapete vermelho estendido na frente do Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, denuncia que a noite é de festa. Fotógrafos, convidados e jornalistas fazem fila para se acomodar nos 632 lugares da casa, lotada. Não é para menos. Onze anos depois, o teatro volta a ser o palco oficial do "Sai de baixo", gravado ali de 1996 a 2002, num total de 241 episódios.
A causa é nobre. Exibido no Canal Viva, o humorístico estrelado por Miguel Falabella, Marisa Orth, Aracy Balabanian, Luis Gustavo e Márcia Cabrita - na vaga de empregada já ocupada por Cláudia Jimenez, Ilana Kaplan e Cláudia Rodrigues - ganha quatro edições especiais, extraordinárias e inéditas na grade do canal.
Elas vão ao ar às terças, a partir de amanhã, às 20h30m, e foram encomendadas como uma forma de comemorar os três anos do Viva. Desde sua estreia, em maio de 2010, a atração é um dos cinco programas de maior audiência do canal.
"O grande barato é a alegria do nosso reencontro. Tudo o que passamos juntos foi uma montanha-russa. Vivemos momentos antológicos no palco, mas sempre divertidos", relembra Falabella.
Já passa das 21h quando as luzes se apagam. Com a plateia em polvorosa, o diretor Dennis Carvalho assume o microfone. "Há dois meses, Leticia Muhana (diretora-geral do Viva) chegou para mim com a proposta de gravar novos episódios e eu disse que isso era uma loucura. Mas estamos aqui! Podem rir, podem aplaudir a hora que quiserem", repete Dennis, que assumiu a direção em 1997, ao lado de José Wilker.
O processo para a retomada do humorístico começou em outubro do ano passado, explica Fernando Schiavo, gerente de Desenvolvimento de Novos Negócios do Viva.
A princípio, ele conta, a ideia era produzir apenas um. Diante da aceitação da Globo, o projeto cresceu. A questão, então, foi conciliar a agenda dos atores, todos envolvidos com outras produções.
"Produzir especiais deste tipo é um dar um presente para os espectadores em 2013. E como o Viva é um canal de memória afetiva, já pensamos até em outras possibilidades, ainda em segredo. É um trabalho de gestação lento. Queríamos ver primeiro a reação da audiência com esses episódios do ´Sai de baixo´ no ar", frisa.
No primeiro dos episódios, roteirizados por Artur Xexéo e com roteiro final de Falabella, Caco Antibes, Magda, Cassandra, Vavá e Neide Aparecida, agora rica após processar uma ex-patroa, se encontram no velho apartamento do Arouche onze anos depois.
Sem se ver durante esse tempo, recebem um convite misterioso para um jantar e são recebidos por ninguém menos que o ator Tony Ramos, em participação especialíssima como um mordomo francês de origem pra lá de suspeita.
Como esperado, reunião do quinteto é o ponto de partida para piadas de duplo sentido, palavrões, e muito riso solto. Tanto da parte dos atores quanto dos convidados.
A cada erro ou esquecimento - principalmente de Falabella - a plateia aplaude efusivamente. Bordões clássicos como o "Cala a boca, Magda" e expressões como "canguru perneta" também são repetidos pelos presentes.
"Eu tenho o riso frouxo. Tenho formação dramática e sempre ria muito, não conseguia me controlar. Cheguei a pedir pro Daniel [Filho, um dos diretores] para sair de cena e ele me disse apenas: ´Ria´. Hoje, sou a que fecha a piada. Nunca sabemos o que vai acontecer no palco. Os personagens somos nós nos divertindo", conta Aracy, alvo preferido de Falabella no palco.
Referências
No texto, referências a tudo que está na boca do povo: a ascensão da classe C, o alto preço do tomate, a fraude na prova do Enem e as declarações de Marco Feliciano.
Em determinado momento, Luis Gustavo chega a entoar os versos "uísque ou água de coco, pra mim tanto faz", do hit "Amor de chocolate", do cantor Naldo. A performance não passou incólume: "Este homem que fez personagens como Beto Rockfeller e Mário Fofoca está pagando este mico no Viva. Senhoras e senhores, Luis Gustavo".
Aos 79 anos, é difícil para o veterano segurar a gargalhada. E nem ele quer. Para Luis, a característica do "Sai de baixo" é fazer humor sem "ultrapassar os limites do mau gosto". "Todos nós somos atores de teatro, com formação sólida. Ao longo da temporada, situações inacreditáveis aconteceram naquele palco. O ´Sai de baixo´ transgrediu ao fazer teatro filmado. Agora mesmo, são quatro peças de teatro", compara o ator, que, atualmente, está no ar em "Malhação".
"A garotada se identifica com a falta de limites, que até então não havia sido mostrada na televisão", completa.
Preparando-se para a segunda temporada da série "Pé na cova", na Globo, Falabella avisa que o humorístico nunca teve a pretensão de passar qualquer tipo de mensagem ao público.
"Não tenho paciência pra gente politicamente correta. Temos um descompromisso, para nós, o ´Sai de baixo´ é um playground. Dei um nó na minha agenda para estar aqui, não vestimos a camisa da seleção brasileira. É como se fosse uma pelada entre amigos, mas agora estamos velhos, gordos e barrigudos", brinca ele.
Miguel ainda fez questão de explicar a ausência de Cláudia Jimenez, que interpretou a empregada Solineuza entre 1996 e 1997; e de Tom Cavalcante, que viveu o porteiro Ribamar entre 1996 e 1997 e se afastou da Rede Globo.
"Por mim o Tom estaria aqui com a gente. Nunca briguei com ele, como dizem. E a Cláudia não está aqui simplesmente porque não quis", fez questão de esclarecer.
Márcia Cabrita, que assumiu o lugar da empregada e interpretou Neide Aparecida de 1997 a 2000, aproveitou a ocasião para fazer piada com a ausência de Claudia.
"A Edileuza é um inferno na minha vida. E eu fiquei mais tempo do que ela. Foram, quatro anos. É um personagem que me trouxe reconhecimento", reconhece a atriz, afastada da televisão por conta de um tratamento de câncer até agosto.
Apesar da empolgação com a reunião, no entanto, os cinco atores garantem que não há chance de o programa humorístico retornar à programação da Globo.
"Deixa os mortos dormirem em paz. Eu sei fechar ciclos", garante Falabella, que, após a reunião, se prepara para uma temporada de férias em Paris.
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