Turnê de lançamento do novo disco do grupo, "Arrastão da Alegria", chega a Fortaleza no dia 17 de agosto
De mono, eles não têm quase nada. São mesmo multi. Aliás, batucada boa, seja na escola de samba, no quintal de casa ou na feijoada do boteco, tem que ser com muita gente. "O grupo começa com uma oficina de percussão, quando ainda existia o ´Pedro Luis e a Parede´. O Celso montou um bloco de alunos, reuniu uma galera para tocar e a proposta era não só samba, mas a diversidade da música brasileira. E assim foram chegando músicos importantes para essa formação: Mestre Odilon, que integrou grandes escolas de samba cariocas; Ivo Meireles, do funk in lata... Todas essas pessoas que foram aparecendo deixaram influências", explica Pedro Luís.
Essa é, talvez, uma das melhores características do novo disco do Monobloco, "Arrastão da Alegria": essa soma de integrantes e convidados. E não são poucos. No elenco do Monobloco já são cerca de duas dezenas de instrumentistas e cantores. Ao lado deles, C.A. Ferrari, Celso Alvim, Mário Moura, Pedro Luís e Sidon Silva apresentam 14 canções, sendo quatro delas inéditas.
E todas as quatro, aliás, presentes de amigos: a faixa-título "Arrastão da Alegria" foi presente de Rogê (escrita em parceria com Fred Camacho e Marcelinho Moreira) com participação do guitarrista Davi Moraes; "Tu Quer?", composição de Lenine, feita especialmente para o disco e que ganhou a voz de Preta Gil; "Nasci pra Morrer de Amor", da safra de Arlindo Cruz ao lado de Maurição e Franco, traz o vozeirão macio de Diogo Nogueira e arranjo de metais de Serginho Trombone; e "Balança Geral", o funk do álbum, foi composto por Aílton Assumpção - que também está presente na música - e Alexandre Nascimento.
Além das inéditas, o grupo não podia deixar de lado as famosas versões do cancioneiro brasileiro, garimpando entre rock, pop e MPB, a fim de testar se cabe uma percussão carioca. "Me Deixa", d´O Rappa; "Garota Nacional", do Skank; clássicos da MPB, como "Um dia de Domingo" e "Homem com H", marcante na carreira de Ney Matogrosso; e os sempre presentes sambas: "Das Maravilhas do Mar", enredo da Portela e "Pra São Jorge", canção não muito conhecida do repertório de Zeca Pagodinho.
Há ainda algumas boas surpresas: "Samba de Arerê", sucesso de Beth Carvalho, ganhou a voz refinada de Roberta Sá; "Caio no Suingue", hit do grupo Pedro Luís e A Parede, é competentemente relida pela baiana Ivete Sangalo; Já "Maneiras", com a assinatura vocal inconfundível de Fagner, mostra-se uma das melhores faixas do disco. E "Chove Chuva", de Jorge Ben Jor, recebe em "Arrastão da Alegria" a guitarra de Pepeu Gomes, com quem o Monobloco dividiu o palco Sunset, no Rock in Rio de 2011.
"Os músicos e compositores conhecem já essa nossa linguagem, nossa sonoridade, e quando a turma pensa nela, lembra logo da gente. Esse som de festa, batucada, coisas misturadas. Tudo dá pra ser adaptado, basta apenas um estudo dos arranjos antes", explica C.A. Ferrari.
Sonoridade
Diferentemente de muitos grupos gigantes, ligados ao samba e ao pagode, que investem nessa ideia de versões de músicas famosas e batucada de festa, o Monobloco parece, de fato, explorar todas as possibilidades da percussão, produzindo novos arranjos, combinando vários instrumentos, mas sempre dentro da linha que já estabeleceram.
Particularmente, é estranho ouvir Monobloco de estúdio. O ambiente hermético e asséptico do ambiente não combina muito com a batucada, que aos ouvidos soa organizada demais. Mas, analisando o conjunto da obra, a vantagem do estúdio é poder observar com atenção a arquitetura dos arranjos e, além do mais, pode-se dizer que o disco renderá, sim, um bom show aos que gostam do gênero.
A explicação dos músicos para a produção de um álbum de estúdio, ao invés de um ao vivo, convence: como desejavam gravar músicas inéditas, seria estranho fazê-lo em uma apresentação aberta ao público, que ainda não as conhece.
Os dois elementos já citados acima são mesmo a cereja do bolo de "Arrastão da Alegria": as parcerias e a arquitetura sonora das faixas. Diogo Nogueira, Fagner, Preta Gil, Pepeu Gomes, Roberta Sá e os tantos outros, de fato, estiveram dispostos a não apenas colocar sua voz nas canções, mas também suas influências. A sensação é de que aquelas músicas poderiam constar nos discos dos respectivos artistas sem impedimento, de tão naturalmente adaptadas aos seus estilos.
As participações de Roberta Sá e de Diogo Nogueira, especificamente, tornam isto bem claro. E ainda que o repertório de Fagner não possua lá muito vínculo com a percussão carioca, a canção "Maneiras", de Sylvio da Silva, conseguiu uma feliz e inusitada união. Esta faixa, aliás, é uma das que representam bem a segunda característica marcante do disco: a expertise dos músicos e o modo como construíram cada música. O arranjo de "Maneiras" produzido pelo O Rappa e cantado com Zeca Pagodinho tornou-se um clássico - saiu no disco "O Silêncio q Precede o Esporro". O Monobloco não supera a versão, mas faz um bom trabalho.
Outra boa versão é "Caio no Suingue", que ganha uma suavidade interessante com a voz de Ivete, que poderia ter sido convidada para qualquer outra música "mão-pra-cima-sai-do-chão", estilo em que se sentiria confortável. Mas assumiu uma crítica social em forma de batucada e se saiu muito bem.
Já as primeiras palhetadas de Pepeu empolgam em "Chove Chuva", produzindo um tempero metálico na malha de couro dos tambores. Mas, em conjunto, a versão não foi das melhores, apesar do alucinante final da faixa. Talvez a banda devesse ter voltado à ideia inicial de uma música apenas instrumental.
Curiosamente, "Pra São Jorge", de Zeca Pagodinho, escolhida para ser uma homenagem à cultura afro-brasileira e ao candomblé, economiza nos batuques e decepciona um pouco. Ao lado desta, "Um dia de Domingo", "Garota Nacional" e "Balança Geral" são algumas das mais fracas do álbum. Quem sabe, no entanto, funcionem ao vivo.
E por falar em show, a turnê "Arrastão da Alegria", que começa no Rio de Janeiro em 5 de julho, chega a Fortaleza no dia 17 de agosto.
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