Grupos como a Junina Babaçu prometem show especial para turistas que vierem à Copa das Confederações
As festas juninas coincidem neste ano com outra paixão nacional: o futebol. Em Fortaleza, os arraiais espalhados pela Cidade se somam às exibições dos jogos da Copa das Confederações. E, para não deixar ninguém de fora dos arrasta-pés, as quadrilhas se prepararam para conquistar os turistas estrangeiros cantando até mesmo em inglês.
O grupo Junina Babaçu, campeão cearense do ano passado, promete surpresas em suas apresentações. Com uma homenagem ao o forró, os 120 integrantes da quadrilha vão cantar os principais sucessos da cantora Eliane em inglês.Além disso, entre os "anavantur", "anarriê" e "balancê" (palavras derivadas do francês), o animador arriscará um "good nigth", "welcome" ou vai informar o tema do grupo: "Forró, the Northeast´s traditional rhythm, becomes a popular cultural phenomenon, which is also poetry that will make you dance with Junina Babaçu" ou, em português, "o ritmo do Nordeste, fenômeno da cultura popular, na Junina Babaçu o forró vira poesia para você dançar".
O presidente da Junina, Tacio Monteiro, explica que a decisão de falar e cantar em inglês é uma forma de interação com os visitantes estrangeiros que estão na Cidade para os jogos.
O grupo é uma das atrações do São João da Copa das Confederações da Fifa 2013, que ocorre no Aterro da Praia de Iracema. A apresentação será no próximo dia 21, às 21h. O evento é uma realização da Prefeitura de Fortaleza com apoio do Sistema Verdes Mares.
Costume
Novidades à parte, uma discussão recorrente é se os grupos perderam a tradição das antigas festas. Alguns especialistas em cultura popular cravam que sim, outros que não é bem assim. Para quem dança a quadrilha, a evolução natural das civilizações explica a substituição da chita pelo cetim, do chapéu de palha por indumentárias temáticas e dos simples passos pelas ousadas e criativas coreografias.
"Tudo evolui e com as quadrilhas não poderia ser diferente", afirma o presidente da Junina Babaçu, Tacio Monteiro. Segundo ele, ninguém tinha mais paciência de assistir quadrilhas iguais. "Nos grupos modernos, todo ano tem novidade. O público quer brilho, teatro, música e muita alegria", pontua.
De acordo com o sociólogo João Felipe Araújo, os grupos passam por um processo de profissionalização, e a improvisação não tem vez.
Na visão da mestre em Geografia Cultural e membro do Laboratório de Estudos Geoeducacionais, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Maryvone Moura, as festas juninas, a exemplo de outras que se espetacularizam, acompanham os avanços e exigências da pós-modernidade, incorporando novas dinâmicas e novos símbolos, que vão se fazendo presentes nos grandes festivais juninos. "Efeitos estéticos, estruturas de palco, equipamentos de som e iluminação, cenários, coreografias e vestimentas, em síntese, uma organização que vai tornando a festa um espetáculo", analisa.
Os gastos dos grupos mais famosos, como a própria Junina Babaçu, Zé Testinha ou Estrela do Sertão, chegam a R$ 280 mil. Os ensaios acontecem há seis meses e profissionais se desdobram. O casal de "noivos" da Junina, Nelson Rocha e Cida Sales, é tetra-campeão cearense e uma atração à parte do grupo. "É o amor pelas festas juninas que nos move. É preciso dedicação para fazer bonito nos arraias".
Confira a programação completa do São João da Copa das Confederações
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Tradição e modernidade
A quadrilha junina vem tendo, nas últimas décadas, sua realização cada vez mais difundida em todo o Estado do Ceará através dos Festivais de Quadrilhas. Em uma primeira análise, poderíamos dizer que a "competição" se caracterizaria como um fator responsável pela perda de qualidades de autenticidade, mas, por outro lado, é a grande incentivadora para que estes grupos perpetuem sua existência.
O esforço de se manter uma tradição tem gerado novas interpretações e variações na proposta apresentada por cada grupo de quadrilha, causando assim uma grande variedade de estilos e concepções acerca do formato desta manifestação cultural através da reorganização dos seus elementos de significação. Estes elementos aos quais nos referimos são os que caracterizam a manifestação, verificados pontualmente na dança com seus passos tradicionais, na música, no casamento matuto e na indumentária apresentada pelas quadrilhas juninas.
As indumentárias, em particular, parecem ser o principal elemento visual que tem gerado grande debate entre quadrilheiros, pesquisadores e o público em geral. Porém, é ainda possível observar outras mudanças importantes, como uma ampliação na formação dos grupos regionais, com a inclusão de instrumentos de corda - guitarra e baixo acústico -, instrumentos de percussão - agogô, congas, ganzá e carrilhão -, ou mesmo uma bateria completa, reproduzindo o ritmo acelerado das bandas de forró eletrônico.
Neste ponto, a descaracterização musical é muito mais acentuada que a readequação conceitual observada nas indumentárias ou mesmo na reelaboração dos passos tradicionais da dança. A sofisticação das quadrilhas e sua luxuosidade, exibidas em roupas e adereços, é um aspecto consequente da necessidade que os grupos têm de produzirem algo próprio aos seus anseios, levando em conta sua contextualização histórica e social, desenvolvendo portanto um trabalho com características relacionadas com seu cotidiano.
Diante desta diversidade de expressões culturais, o importante é procurar evitar qualquer hierarquização valorativa. Os grupos juninos do Ceará ainda estão longe da estilização levada para a eliminação das características originais das quadrilhas juninas, já observadas em outros estados nordestinos. É através desta dinâmica cultural que a cultura popular tradicional reafirma e legitima sua existência enquanto gerador de cultura e transformador social, principalmente ao provocar reações diversas e despertar as atenções para sua constante reinvenção e sua capacidade de criar novas formas de relação e produção.
Viva São Pedro, Santo Antônio e São João!!!
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