Livros sobre a atriz revelam uma personagem complexa, solitária e desencantada com a vida
Caso viva estivesse Norma Jeane Mortenson, a diva da cultura pop Marilyn Monroe, teria comemorado 87 anos no último dia 1º de junho. Mas ela faleceu ainda jovem, aos 36 anos, em 1962, em uma das mortes mais misteriosas da história policial dos EUA. Até hoje se vasculha a sua breve vida e sempre surge alguma novidade, mas nada que realmente desvende o mistério.
"Minha Semana com Marilyn", do inglês Colin Clark (1932 - 2002), e "Fragmentos - Poemas Anotações Íntimas e Cartas de Marilyn Monroe", de Stanley Buchthal e Beranrd Comment, lançados recentemente, fazem exposições distintas da curta existência de Marilyn. São leituras ótimas para o conhecimento do mito e igualmente prazerosas."Minha Semana com Marilyn" registra a passagem da atriz pela Inglaterra, em 1956, quando filmou o drama romântico "O Príncipe Encantado". Só foi publicado no ano passado por decisão de Clark de editá-lo apenas após a sua morte - ocorrida em 2002. "Fragmentos - Poemas, anotações íntimas e cartas de Marilyn Monroe" se compõe de manuscritos deixados pela atriz, já resumidos no subtítulo.
Temporada inglesa
Em 1956, aos 23 anos, sonhando em ser roteirista de cinema, Clark conseguiu o emprego de terceiro assistente de diretor do renomado ator e cineasta Lawrence Olivier (1907 - 1989). O filme era "O Príncipe Encantado" (The Prince and the Showgirl, de 1957) e Olivier, o diretor e ator principal. Marilyn chegou à Inglaterra na companhia do então marido, o escritor e dramaturgo norte-americano Arthur Miller (1915-2005). Colin ficou encarregado de assessorar a estrela de Hollywood.
Foi através dessa aproximação que ele pôde ver, observar e conhecer Marilyn Monroe de perto, e vê-la como realmente ela era por dentro e por fora: uma mulher linda, inteligente, que sofria por ser tratada pela imprensa como símbolo sexual e, equivocadamente, de "loura burra".
Colin descobre em Marilyn uma mulher brilhante, culta e inteligentíssima, mas amargurada, solitária e, provavelmente, disléxica. Era, verdadeiramente, uma mulher solitária. Puramente solitária.
E é essa a visão que ele transpõe para o livro, fazendo uma antevisão da tragédia que viria a ocorrer oito anos depois. E quanto a "O Príncipe Encantado", durante as filmagens Olivier a destratava e os dois gravavam às turras, com ele impondo o seu método importado do teatro e ela querendo moldar a sua personagem conforme a concebia.
"Minha Semana com Marilyn" revela muito da personalidade da atriz e nota-se, é um livro de entrega de seu ator, profundamente respeitoso para com a sua personagem, com a qual, revela, teve apenas um beijo roubado à beira do rio Tâmisa. E precisaria ser algo mais... romântico? Algumas coisas na vida são únicas.
A adaptação cinematográfica, feita no ano passado pelo cineasta inglês Simon Curtis, intitulada de "Sete Dias com Marilyn", fidelíssima ao livro, traz Michelle Williams em uma atuação marcante como Marilyn, além de Kenneth Branagh como Laurence Olivier, e Eddie Redmayne como o autor Colin Clark.
Fragmentos
"Fragmentos - Poemas, Anotações Íntimas e Cartas de Marilyn Monroe" foi organizado pelo produtor de cinema estadunidense Stanley Buchthal, com o escritor e roteirista suiço Bernard Comment. É um trabalho de resgate de uma parte dos diários e anotações pessoais feitas por Marilyn ao longo de sua vida. Antes de falecer, ela os entregou ao seu professor de arte dramática, Lee Strasberg, o criador da célebre "Actor´s Studio" - ao qual devotava total confiança.
Strasberg morreu em 1982, mas a dupla pegou o material que estava em poder de sua viúva, que já tinha vendido parte da coleção em leilões da Christie. O coração do livro está nos poemas de Marilyn. É o que mais nos enternece na leitura. Além disso, há relatos sensuais, como o fato, por exemplo, dela assim se achar ao ficar sem sutiã sob a blusa.
Essencialmente romântica, parecia estar sempre à espera do homem que a amaria de verdade. E, também, os amargurados momentos de depressão e a solidão inseparável. Sim, Marilyn Monroe morria, aos poucos, de solidão.
Tirei, de "Fragmentos", dois poemas. Em "Vida", ela escreve: "Eu sou de ambas as suas direções,/de alguma forma permanecendo de cabeça/ para baixo na maior parte/ mas forte como uma teia de aranha no vento/ - eu existo mais com a geada fria e cintilante./ Mas os meus raios borbulhantes têm as cores/ que vi nas pinturas/ - ah vida! eles traíram você". Em "Sozinha!", grita: "sozinha!!!!/eu estou sozinha,/ eu estou sempre sozinha/não importa o que aconteça".
Marilyn, eu disse anteriormente, era uma mulher culta. Ela lia autores da estirpe de James Joyce, Anton Tchekov, Freud, Proust, Gustave Flaubert, Bertrand Russell e Edgar Allan Poe. Depois que morreu, descobriram uma biblioteca com 400 livros de seus autores prediletos.
As revelações contidas nestes dois livros fazem entender quem foi Mariylyn Monroe. E que devemos saudá-la como uma mulher brilhante e incompreendida.
Ler essas duas obras é um exercício de conhecimento da vida de Marilyn. E enquanto a morte dela continua envolta em mistério, somos levados a pensar no que é realmente o mundo das celebridades. E ele é terrível: um inferno devorador de almas ao mesmo tempo em que espalha a amargura, amassa e despedaça àqueles que não se submetem a ele.
Livros
Fragmentos
Marilyn Monroe
Tradução: Aline Tenório Cordeiro, Eugênio Vinci de Moraes, Marcelo Rede, Renato Rezende
Tordesilhas
2012, 272 páginas
R$ 59,90
Minha Semana com Marilyn
Colin Clark
Seoman
2012, 160 páginas
R$ 24,90
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