Mostra reúne imagens e objetos usados por cearenses para demonstrar sua paixão em eventos esportivos
As cores da bandeira nacional servem de mote ao povo cearense, que lançando mão à criatividade, transforma materiais a exemplo da palha, retalhos de tecidos, tintas, instrumentos de trabalho como bicicletas cargueiras ou carrinhos de lanche em objetos estéticos. Outros usam o próprio corpo, calçadas e fachadas das casas como suportes para mostrar a paixão pelo Brasil. A exposição "Verde-amarelo - no coração da torcida brasileira", que pode ser visitada até 11 de agosto, no Museu da Cultura Cearense (MCC) do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), é uma demonstração de como o cearense expressa a sua brasilidade, sobretudo no período de eventos esportivos, assim como na Copa do Mundo. "É uma exposição bem humorada e interativa", destaca Valéria Laena, diretora do MCC, explicando que os visitantes podem participar da mostra, enviando fotografias para o endereço eletrônico: verdeamarelo@dragaodomar.org.br.
Outra forma de interação é o visitante fazer sua foto, podendo escolher algum objeto exposto, como uma bicicleta colorida nas cores verde e amarelo ou jogando uma partida de botão, por exemplo.Valéria Laena ressalta que existe uma versão de jogo de botão adaptada para as pessoas portadoras de necessidades especiais visuais. Lembra, ainda, ser importantes os colaboradores enviarem no e-mail também telefones e endereços para contato, caso desejem expor seus objetos. "Todos os dias serão acrescentadas novas fotos à exposição", diz, já que existe um tablet disponível para descarregar as fotos. Amuletos, chapéus, sinucas e jogos de totó completam a exposição, que de maneira despretensiosa e alegre constrói mais uma face da identidade do povo cearense.
Para o curador da mostra, o sociólogo Titus Riedl, professor da Universidade Regional do Cariri (Urca), a exposição "é uma homenagem ao torcedor brasileiro, este sim, já campeão na sua categoria, independentemente dos resultados efetivos das partidas de futebol". Ressalta a capacidade das pessoas em usar diferentes suportes, em alguns casos, a própria pele, para expressar a paixão pelo Brasil.
Riedl lembra que a utilização das cores da bandeira nacional pode ser estendida a outras ocasiões, fazendo referência aos protestos atuais, bem como em outras situações, os festivais de música. A maioria das imagens e dos objetos foi captada no interior do Ceará, durante os últimos grandes eventos esportivos, como na Copa de Mundo de 2010.
Ufanismo
"A exposição fala de um sentimento nacional", destaca Valéria Laena, expresso em diversas manifestações populares como o artesanato e as intervenções feitas nas ruas. "É quando o brasileiro se sente um vencedor", argumenta. A exposição é uma forma de mostrar como ações simples do cotidiano podem virar fatos históricos e memória.
A bandeira construída a partir de retalhos minúsculos de cetim, técnica conhecida como fuxico, uma bonequinha de palha de milho ou um pegador de panela em fibra, além das cores verde e amarelo, têm em comum a emoção das mãos que construíram as peças. Depois de enfeitarem salas, fachadas de casas ou desfilarem pelas ruas, como uma bicicleta pintada com as cores brasileiras, agora, viram objetos para ser contemplados. Mais do que enfeitar, ocupam um lugar de destaque nas galerias do MCC, numa demonstração de que a história é feita por ações simples do cotidiano.
O professor Titus Riedl diz que "o tema da exposição é a força criativa, o design popular, a vontade de enfeitar e de se enfeitar, e os pequenos inventos", frutos da manifestação das pessoas. Mesmo tendo formação em sociologia, avisa: "não gostaria de sociologizar o assunto", responde ao ser indagado sobre qual a leitura que pode ser feita da exposição. Destaca também "as apropriações" feitas pelas pessoas não apenas das cores dos símbolos nacionais, mas também daquelas que representam os times de futebol, "onde a rivalidade igualmente se expressa através das cores e dos emblemas".
"Da mesma forma há manifestações criativas em se vestir com as cores da bandeira: em festivais como o Loolapalooza ou o Rock in Rio. "Lá, inclusive, costumam aparecer as diferentes cores das torcidas locais". Na opinião do sociólogo, " identidades costumam se misturar e sobrepor". Ao falar sobre a mostra, diz que podem ser encontrados objetos em madeira, como um chassi de caminhão, passando por instrumentos musicais. Eles convivem harmonicamente ao lado de objetos feitos em palha e outras fibras, tecidos variados, plásticos e borrachas, a exemplo das lameiras de caminhão. "Há brincos variados desde sementes a fitinhas e arames", diz, ressaltando ser possível ver arquiteturas e carrinhos de vendedores ambulantes, carros, carroça e bicicleta. Atenta, inclusive para a pele humana, cabelo e unhas que costumam ser pintados.
Com relação à quantidade de objetos que formam a mostra, afirma não poder quantificar precisamente, estimado em aproximadamente 40 fotografias expostas, enquanto outras projetadas, além de dezenas de objetos.
"Na exposição há uma parede de torcedor onde novas peças, inclusive estas trazidas pelo público, serão acrescentados". Conforme o curador, "há, sim, uma certa representação do artesanato cearense: sobretudo nas redes, malinhas de madeira, na cestaria e nos tecidos, além de chapéus e instrumentos musicais". De acordo com Titus Riedl, uma das finalidades da exposição é justamente tentar "criar uma memória", quer dizer, ampliar o acervo do Museu da Cultura Cearense, e registrar o porvir da Copa e o próprio momento da chegada da Copa através de um aspecto mais descontraído, menos formal e oficial, mas sim, bastante original". Conforme analisa, "trata-se de intervenções urbanas com a transformação estética dos ambientes públicos e privados e também do próprio corpo".
Mais informações:
A exposição "Verde-Amarelo" pode ser visitada até o dia 11 de agosto, de terça à quinta, das 9h às 19h, e de sexta a domingo, das 10 às 20h, no Museu da Cultura Cearense, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura ( Rua Dragão do Mar, 81). Contato: (85) 3488.8600
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