Em julho, o Grupo 24 Quadros apresenta, na Vila das Artes, uma seleção do melhor do cinema trash
A partir desta sexta-feira, cinco de julho, o melhor da cinematografia trash mundial toma conta da capital cearense. O Grupo 24 Quadros apresenta ao público uma mostra especialmente dedicada ao cinema trash, que se estenderá por todo o mês e conta com uma seleção especial de filmes representativos do sub-gênero, o qual está em cartaz nos cinemas com "Todo Mundo em Pânico 5", já considerado pela crítica como o novo "pior filme de todos os tempos".
Não é tarefa simples definir o trash, já que este não se constitui enquanto gênero cinematográfico específico, sendo suas características visíveis nos mais diferentes tipos de filmes, inclusas grandes produções hollywoodianas. Na verdade, a imensa maioria das produções do cinema-lixo não foi pensada enquanto tal e o exemplo mais eloquente dessa afirmação é o caso de "Plano 9 do Espaço Sideral" (Plan 9 from Outer Space, EUA, 1958), dirigido pelo hoje cultuado Edward Davis Wood Jr, o respeitável Ed Wood (1924-1978), considerado (injustamente) o pior cineasta de todos os tempos, e que, dentre suas excentricidades, tinha o hábito de andar vestido de mulher - embora, até onde se saiba, não fosse homossexual. A obra-prima de Wood - fã incondicional de Orson Welles - foi concebida como um filme sério, cujas precariedades o transformaram numa espécie de paradigma de produção do "trash". Isso porque, não obstante erros primários de continuidade, péssimas atuações, vários "defeitos especiais" (destaque para os pratos segurados por barbantes que fazem às vezes de discos voadores) e um roteiro completamente absurdo, o longa é extremamente divertido e, de certa forma, mostra que o público não ignora a ilusão inerente à arte cinematográfica e nem liga se a mesma for subvertida, desde que entretenha.Daí uma primeira constatação: filmes "trash" não são feitos para pensar, mas podem abrir uma interessante perspectiva a respeito da nossa concepção ocidental de beleza, ainda hoje (e mais do que nunca) eivada dos princípios clássicos de proporção e harmonia oriundos da Antiguidade Clássica. No cinema isso pode ser traduzido em termos da gramática do cinema clássico estabelecida pelo genial D.W.Griffith, a qual preconiza, sobretudo, a lógica da narrativa direta e a "invisibilidade" dos elementos que compõem um filme, procurando, desta forma, dar à ilusão um (muitas vezes perigoso) ar de veracidade.
O cinema "trash", com sua estrutura mambembe, põe em xeque esse ideal de perfeição, mas não desfaz, por conta disso, seu pacto com o público, compromissado, especialmente, com o seu desejo de diversão individual e coletiva - é impossível não rir junto das "podrices" típicas do "trash" exibidas em respeitáveis salas de cinema.
"Plano 9 do Espaço Sideral" abre, com toda pompa e circunstância, a mostra dedicada ao cinema trash, a qual contará também com outras produções bizarras do (sub) gênero, como "O Ataque dos Tomates Assassinos (Attack of the killer tomatoes, EUA, 1978), de John De Bello, com David Miller e Sharon Taylor, "A Louca Corrida do Ouro (Lust in the dust, EUA, 1985), de Paul Bartel, com Tab Hunter e Divine (1945-1988), e, para encerrar com chave de ouro, "Náusea Total" (Bad Taste, Nova Zelândia, 1983), outra obra fundamental para quem deseja imergir nos mistérios do cinema-lixo, assinada pelo excêntrico e genial Peter Jackson.
Eis um convite para espectadores que não temem assumir o seu entusiasmo e simpatia para com obras comumente colocadas na lixeira da história e da crítica cinematográfica.
Mais informações
Mostra do Cinema Trash - Vila das Artes (Rua 24 de Maio, 1221, Centro). Dias 5, 12, 19 e 26 de julho de 2013, a partir das 18h30. Haverá debates após as sessões.
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