Comemorando 40 anos da estreia, o artista vê seu pavão de volta à TV, participa de especiais e prepara primeiro DVD
Já se vão 40 anos de carreira e não é nenhuma novidade encontrá-lo em "videotapes e revistas multicoloridas", como apostava que conseguiria em "Carneiro", sobre a partida no início dos anos 1970 para o "sul maravilha". Consagrado como um dos grandes nomes da música cearense - uma pedras fundamentais da turma do chamado "Pessoal do Ceará" - Ednardo rompe o jejum de 10 anos sem lançar e, ainda para este ano, prepara um novo disco e sua estreia DVD, com "Ednardo - 40 anos de Canção".
Radicado desde a década de 1980 no Rio de Janeiro, no vídeo estarão depoimentos, encontros com parceiros e amigos cariocas e cearenses, além de um show gratuito com releituras de sucessos, marcado para o próximo dia 27, às 21 horas, na Praça Verde do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.A ocasião marca o aniversário de lançamento, em 1973, do disco "Meu Corpo Minha, Todo Gasto na Viagem", lançado pela Continental, estreia dividida com os também cearenses Rodger e Teti. "Convidei Chico César, que é meu parceiro, o Rodger, a Teti, e outras que são surpresa, não vou dizer. Vão participar também artistas da nova geração que cantam minhas músicas. Está me deixando muito feliz essa possibilidade de comemoração. Não pelo fato de 40 anos de estrada, mas pelo fato de 40 anos de amizades com essas pessoas todas", antecipa o compositor.
Compositor de cerca de 400 músicas, com 15 discos originais e 16 compilações lançadas, Ednardo assina sucessos como "Artigo 26", "Poema Imortal", "Beira Mar", "Enquanto Engomo a Calça", "Ingazeiras" e as suas consagradas "Terral", um verdadeiro hino a Fortaleza, e a famosa "Pavão Misterioso".
Seu último lançamento em disco, no entanto, foi em 2003, ao lado de Amelinha e Belchior, com releituras da turma que invadiu o Rio de Janeiro e São Paulo 40 anos atrás. Se tratando de discos individuais, a hiato um pouco maior: são 13 anos desde o lançamento de "Única Pessoa" (2000), disco em que divide a autoria da música tema com Chico César. Em nova e boa fase, desde 2010 o cantor vem esquentando o terreno para os novos voos musicais. Na ocasião, foi um dos protagonistas do relançamento do disco duplo Massafeira Livre, gravado em 1980, e remasterizado e lançado junto a um livro e documentário sobre a ocupação multilinguagem do Theatro José de Alencar, por ocasião dos 30 anos do feito.
No palco da Praça Verde, Ednardo terá uma seleção de músicos, todos cearenses, como ele faz questão de destacar. A big-band base inclui Mími Rocha (guitarra), Luis Miguel Caldas (baixo), Aroldo Araújo (baixo acústico), Herlon Robson (teclado e acordeon), Edson Távora (teclado), Manassés (viola de 12 cordas e cavaco), Carlos Patriolino (bandolim e violão), Márcio Resende (metais), Denilson Lopes (bateria), Hoto Junior e Nilton Fiore (percussões)."Convidei várias pessoas queridas para a gente fazer esse show. Sempre reconheço a importância e talento dos cearenses, isso desde os primeiros discos", reforça. Evitando entrar em maiores detalhes - "para não tirar a mágica do lance", ele solta apenas que serão feitos dois saraus, um no Rio de Janeiro e outro em Fortaleza, para registros mais informais que o do palco, ao lado de pessoas que fazem parte de sua história.
"Eu moro no Rio de Janeiro desde os anos 1980, já me sinto até meio cidadão carioca, tenho filho que nasceu aqui. Me sinto a vontade nessa cidade. Decidimos abranger essa ponte", explica.
Pessoal
Marco não só para a carreira de Ednardo, o disco lançado por ele, Teti e Rodger em 1973 simbolicamente apresentou ao Brasil o chamado "Pessoal do Ceará". Foi o primeiro LP lançado pela turma, que, embora não fosse um grupo coeso e com trabalhos orquestrados em conjunto, chegou com força no mesmo período no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo. Incluía também nomes como Fagner, Belchior e Fausto Nilo. Fagner, lançou o seu "Manera Fru Fru, Manera", também em 1973, mas meses depois.
"Na realidade, esses meus 40 anos de estrada contam a partir do primeiro disco que gravei. Porque a gente antes, bem antes, a gente já vinha trabalhando. Comecei muito novo,desde criança no aprendizado do piano. Vieram as transações de festivais, em Fortaleza. No final da década de 1960, a gente já tinha uma atividade bem significativa. Todo esse grupo que o pessoal combinou de chamar Pessoal do Ceara", lembra. E completa sobre as raízes daquilo que ele espera também homenagear em seu DVD: "o Pessoal do Ceará é muito amplo. Não se pode falar só das músicas. Era uma geração toda se movimentando, conquistando e abrindo espaços. O útero de gestação de todo esse material musical, poético, de artes plásticas vem desde 1964, 1965, ou antes".
Saramandaia
O ano é de boas novas para Ednardo: "Pavão Misterioso", música lançada em 1974 no disco "O Romance do Pavão Misterioso" e escolhida em 1976 como tema da novela "Saramandaia", de Dias Gomes, está de volta ao horário nobre da Rede Globo. Desta vez, é tema do personagem João Gibão. "Eles colocaram a gravação original, gravada em 1974. Eu recebi isso com muita felicidade, alegria. É importante para qualquer artista brasileiro ter musica veiculada em horário bacana", comenta o artista, lembrando que, na versão original, ficou sabendo da por acaso da escolha da música - feita pelo próprio Dias Gomes.
Outra curiosidade sobre a música, lembra Ednardo, é que ela chegou a ser questionada por um dos produtores da Continental, sua antiga gravadora, se deveria ou não entrar no segundo disco. "O produtor estranhou. Maracatu, romance de cordel? Falou para o meu produtor na época, Walter Silva (produtor também do disco de estreia), e ele, ´de forma alguma, essa vai ser sucesso´. Walter silva tinha visão a frente do tempo", conta.
Outra boa notícia antecipada pelo artista, é o lançamento de um disco até o fim deste ano reunindo músicas de trilhas sonoras que fez, para o cinema. Ele produziu trilhas para filmes como "Luzia Homem", de Flávio Barreto, Tigipió, de Pedro Jorge de Castro, em 1985, e Cauim, filme sobre o maracatu cearense produzido e dirigido pelo próprio, em 1978. "O disco vai se chamar Trilhos do Cinema e já está proto", revela.
Ednardo ainda não fala em um novo disco de inéditas - embora já esteja devendo - mas a inspiração de compor, ele garante que nunca cessa. "Sempre que o momento permite, eu sento no piano, pego violão. Muitas vezes, meu filho, Daniel Limaverde, diz, ´você gravou isso?´. ´Não, estava fazendo somente para mim´".
Mais informações:
Gravação do DVD "Ednardo - 40 anos de Canção". Dia 27 de julho, às 21 horas, na Praça Verde do Centro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema). Gratuito. Contato: (85) 3488-8600
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