Aula-espetáculo é um bom nome para as palestras públicas que o romancista, dramaturgo, poeta paraibano Ariano Suassuna costuma proferir pelo País e apresenta hoje, às 20 horas, no anfiteatro do Centro Dragão do Mar.
Aos 86 anos, alquimicamente ele converte bom humor, seu eterno gênio crítico e o sertão num evento a ser visto – mas, em especial, aprendido devido ao tema da conferência. “Ariano Suassuna – Arte como Missão” é uma caravana que percorre o Brasil discutindo cultura brasileira e essa vocação que deve ser o fazer artístico.
Segundo o produtor cultural Elias Sabbag, um dos idealizadores e coordenadores do projeto junto com Marcos Azevedo, a inspiração veio da frase, dita reiteradas vezes por Suassuna: “Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa”.
“A gente pegou a frase dele para sintetizar um pouco o que esperamos desse projeto”, afirma Sabbag, que conhece o escritor há quase 10 anos. A expectativa dele é que grande número de pessoas – nas oito capitais pelas quais passará, entre elas Fortaleza, São Paulo e Recife – tenha contato com as ideias do fundador do Movimento Armorial, iniciativa para produzir uma tradição erudita a partir das expressões populares nordestinas. Em Brasília, a primeira parada da expedição, foram 1400 no Teatro Nacional.
“Ariano tem uma luta intransigente pelos valores culturais brasileiros. O que acaba o diferenciando da grande parte dos escritores e intelectuais brasileiros é esse compromisso”, pondera Sabbag. “Pela idade, por tudo que já fez, era para estar mais quieto. Mas, ao contrário, ele se lança nesse desafio de percorrer o Brasil, lutando pelas coisas que acredita”.
Sobre o autor de Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), é avesso à tecnologia, de fácil trato, cuida de caprinos em sua fazenda, se identifica muito mais com Chicó, imaginativo e pensativo, que com João Grilo, astucioso e hiperativo, ambos personagens da peça Auto da Compadecida (1955).
Herdou de João Suassuna, o pai, ex-governador da Paraíba, o amor pelo sertão e a admiração por Euclides da Cunha. Recentemente, disse em entrevista à Globo News que estava perto de perdoar os assassinos do pai, morto a tiros erroneamente por ter sido considerado o mandante do assassinato do político João Pessoa – um dos fatores que desencadeariam a Revolução de 1930.
Exposição e filmes
Acompanhado da aula, exposição fotográfica e ciclo de filmes são os dois lados necessários do que é Suassuna: aquele íntimo, resguardado, e um outro público, literário.
Clicado pelas lentes de Alexandre Nóbrega, artista plástico e genro de Ariano, o autor aparece, por exemplo, dormindo, visitando a cidade de Taperoá, no interior da Paraíba, onde passou a infância, conferindo a Fazenda Acauhan, em que viveu até os três anos de idade, ou ainda deitado num saguão de aeroporto esperando voo que nunca chega.
Além da exposição, os filmes trazem o trabalho de Ariano que foi transposto para o cinema ou para a TV. A compilação de obras se completa com documentários.
“Ele costuma dizer isso: se algum dia se perder tudo o que há de popular na cultura brasileira, estará registrado na obra dele como o Brasil foi, o que o Brasil já teve de cultura”, diz o coordenador.
SERVIÇO
Aula-espetáculo do escritor Ariano Suassuna
Quando: hoje, 18, às 20 horas
Onde: Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
Entrada franca - com distribuição de ingressos a partir das 19 horas.
Exposição do fotógrafo Alexandre Nóbrega
Com cenas da vida de Ariano Suassuna
Quando: de 19 de julho, às 19 horas, a 28 de julho
Horário de visitação: de 20 a 28 de julho, das 10h às 20 horas
Onde: Caixa Cultural (av. Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema)
Entrada franca.
Outras informações: 3453 2770
Ciclo de filmes
Com longas e documentários sobre Suassuna
Quando: dias 19, 20 e 21 de julho, com sessões às 17h30 e 19h30
Onde: Caixa Cultural (av. Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema)
Entrada franca.
Outras informações: 3453 2770
Saiba mais
Programação de filmes
19 de julho (sexta-feira)
às 17h30min
- O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna
(dir. Douglas Machado, 1h19min. Livre)
- O Santo e a Porca (dir. Maurício Faria, 39 min. Livre)
às 19h30min
- O Auto da Compadecida (dir. Guel Arraes, 1h44min. Livre)
20 de julho (sábado)
às 17h30min
- Quaderna (dir. Alexandre Montoro, 47 min. Livre)
- A farsa da boa preguiça (dir. Luiz Fernando Carvalho, 57 min. 12 anos)
às 19h30min
- Princesa do Sertão (dir. Deraldo Goulart, 2h13min. Livre)
21 de julho (domingo)
às 17h30min
- A Pedra do Reino - parte 1 às 19h30min
- A Pedra do Reino - parte 2 (dir. Luiz Fernando Carvalho, 4h36min. 12 anos)
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