Estreia de hoje, "O Concurso" traz quatro sujeitos que disputam vaga única de juiz federal. Quem leva a melhor? O cearense batalhador, o gaúcho que não saiu do armário, o malandro carioca ou o nerd do interior?
Vida de concurseiro não é nada fácil. Que o digam os cerca de 12 milhões de brasileiros que se submetem a pelo menos uma prova do gênero na busca por um emprego estável. E a realidade é mesmo desanimadora: o número de vagas ofertadas pelo serviço público é tão mínimo, comparado ao nível da concorrência, que é de fazer qualquer cristão, até o mais otimista e estudioso, jogar a toalha...
Especialmente se o cargo cobiçado for de juiz federal, o certame mais difícil e disputado em todo o País, que tem como grau de aprovação a "estimulante" estatística de 0,001%. É como já sugere o início do filme: "É mais fácil ser atropelado por uma manada de hipopótamos do que passar em primeiro lugar". Será?Enfim, mas na comédia de Pedro Vasconcelos, primeira investida do diretor de novelas no cinema, eis que temos quatro bravos guerreiros, de diferentes regiões, que passaram para a última fase do badalado concurso.
Do sertão do Ceará, especificamente de Milagres, Freitas (papel de Anderson Rizzi) vem investindo mais de dez anos de estudo e se apegando a todos os santos (inclusive "Padim Ciço"), na busca pelo sonhado emprego que dará conforto à esposa e ao filho, que nasce em breve.
O atormentado Rogério Cláudio (vivido pelo inspirado Fábio Porchat) vive um concurseiro nascido em Pelotas, reprimido pelo pai machão. Máximas como "gaúcho que fracassa é catarinense" e "gaúcho não titubeia, resiste!" afligem o cômico personagem, que não tem coragem de sair do armário e fazer o que bem entende da vida.
Já Bernardinho (Rodrigo Pandolfo) é o CDF virgem, tímido, filhinho da mamãe e a esperança da cidadezinha interiorana de Piraporinha a se tornar alguém na vida. Quando chega no Rio de Janeiro, reencontra uma paixão da época do colégio, a atiradora de facas ninfomaníaca e "gostosona" , estreia da apresentadora Sabrina Sato na telona.
O que os outros têm de recatados sobra em cara de pau em Caio, advogado picareta de porta de cadeia, bem defendido por Danton Mello.
Assim, o desastrado quarteto se encontra no sábado anterior ao exame oral perante a "Banca dos Desembargadores", realizado às 8h da segunda-feira. Claro que essa "trombada" entre os finalistas, de personalidades tão distintas, terminará em caos e desordem. Com pitadas do humor non sense, tipo "Se Beber Não Case", o bando se mete nas mais absurdas situações para conseguir no mercado negro o gabarito.
Durante boa parte da história, o longa cumpre com o papel de entreter, arrancar espontaneamente o riso, sem desrespeitar a inteligência do espectador.É uma comédia leve, descompromissada (no bom sentido), mas que derrapa ao abusar dos estereótipos culturais e clichês, tornando o enredo previsível (muito mais do que as loucas aventuras de Alan, Phil, Stu e Doug, na franquia americana, assinada por Todd Philips).
E foi justamente a questão dos rótulos que pautou o início da coletiva de imprensa do filme, realizada em São Paulo, pergunta essa já esperada por Pedro Vasconcelos.
"É uma brincadeira em cima dos estereótipos, os estereótipos regionais são mesmo marcas, mas claro que o País todo não se limita a esses tipos, é muito maior que isso. Em nenhum momento, quisemos fazer caricatura ou fazê-los de forma grosseira, mas de fato eles existem por aí. Mais do que fazer rir, queríamos que as pessoas embarcassem nas histórias de vida de cada um, cada um com os seus dilemas de personalidade. Acima de tudo, é um filme sobre o sonho dos brasileiros", observa.
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