Os hipocampos, as Nereidas e as cabeças de leão que compõem a histórica Fonte Luminosa, fincada na praça Murilo Borges desde 1984, têm sinais visíveis de desgaste: o revestimento descasca, e a região intermediária tem buracos causados pela oxidação. Segundo funcionários de estabelecimentos comerciais da região, ali onde é atualmente o prédio da Justiça Federal e já foi edifício do Banco do Nordeste (BNB), a Fonte não funciona pelo menos desde o início do ano. Moradores de rua costumam tomar banho e lavar roupa no local.
Em dezembro do ano passado, com o processo de saída do BNB da praça, estabeleceu-se um impasse entre prefeitura, Justiça e Banco sobre a responsabilidade pela manutenção. Por enquanto, o “chafariz da Lagoinha”, como também foi conhecida, continua trazendo consigo as marcas do tempo.
Não é a primeira vez que a Fonte sofre. Já amargou um período de ostracismo de cerca de 10 anos, entre as décadas de 1970 e 1980, nos galpões da antiga Superintendência Municipal de Obras e Viação (Sumov). Uma parceria entre a UFC e o BNB em 1984, depois de outros convênios frustrados, tirou do papel a restauração da Fonte.
Antes de ir para o depósito, era um estorvo para o trânsito que já começava a embaralhar o cruzamento da Avenida da Universidade com avenida 13 de Maio. Foi levada para lá pelo então reitor da UFC, Martins Filho, na tentativa “enobrecer” a área. Nunca funcionou. Ainda antes, ficou um curtíssimo período (1965-1966) na praça Clóvis Beviláqua, no Centro, em frente à Faculdade de Direito. Sua primeira moradia foi a praça da Lagoinha, também no mesmo bairro, mas foi substituída pela estátua do historiador Capistrano de Abreu.
A Fonte aportou em Fortaleza em 1929. A encomenda foi feita pelo prefeito Álvaro Weyne (1881-1963) à empresa alemã Herms Stoltz. Escolhida por catálogo, a estrutura fazia parte de seu projeto político de embelezamento da Cidade, pelo qual ficou conhecido como “prefeito das flores”. É chamada de Fonte Luminosa, porque o projeto original propunha um determinado tipo de iluminação, que acabou se perdendo com o tempo. Na época, embora já existisse luz elétrica em Fortaleza, a iluminação pública continuava a gás. Então, um engenheiro inglês teve de ser convidado para fazer a instalação.
“A Fonte possuía canais de distribuição. As sereias eram iluminadas, e as pedras que serviram como base vieram da Praia de Mucuripe”, afirmou Luiz Alencar Rangel, jardineiro da gestão Álvaro Weyne no livro Do Passado ao Futuro, lançado pelo BNB para comemorar e explicar a reinauguração da Fonte.
Acordo
Segundo o diretor do Fórum, juiz federal Leonardo Resende Martins, um convênio passará à Justiça a incumbência pela manutenção da praça Murilo Borges e também da Fonte. Ele disse que o acordo deverá ser assinado nos próximos dias. A prefeitura, no entanto, se comprometeu a fazer a restauração da Fonte. Há cerca de dois meses, arquitetos da Secretaria Regional do Centro já estiveram avaliando as condições da peça para a reforma. “A parte hidráulica está regular, de modo que seria mais uma restauração artística”, afirma Martins. Até o fechamento dessa edição, a Prefeitura não respondeu sobre prazo para início e conclusão da restauração.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
A Fonte Luminosa - também conhecida como “Chafariz da Lagoinha” - foi inaugurada em 1930 na praça da Lagoinha. Mas não ficou só por lá. Andou praças pelo Centro e serviu de “balão” num grande cruzamento da Cidade.
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