III Ceará das Rabecas acontece de hoje até domingo (18), com apresentações, oficinas e seminários
A partir de amanhã e até o próximo dia 18, Fortaleza incorpora aos seus sons urbanos uma melodia chorosa, arranhada. A ocasião, porém, não é de tristeza, mas de celebração, com a realização do III Ceará das Rabecas. O evento reúne rabequeiros de vários lugares do Interior, que chegam à Capital para dividir com o público essa tradição arraigada na cultura do Nordeste.
Em sua terceira edição, o Ceará das Rabecas mostra-se consolidado no calendário da cidade, graças à boa recepção e comparecimento significativo do público. A programação se inicia com uma etapa fundamental do evento, as oficinas, que contemplam o aspecto da formação.Neste ano, foram organizadas quatro: Xilogravura, com Mestre João Pedro (Juazeiro); Construção de Rabecas e O Toque da Rabeca, com Di Freitas (Juazeiro); e Fotografia e Tradição, com Francisco Sousa (Fortaleza). As vagas são limitadas e variam entre 20 e 30 pessoas por turma. As inscrições podem ser realizadas pelo site cearadasrabecas.com.br, gratuiramente. Para nenhuma delas é necessário conhecimento aprofundado sobre o assunto.
Formação
Presente desde a criação do evento, é a terceira vez que Mestre João Pedro ministra oficina de xilogravura. “Vamos abordar as partes técnicas e teóricas, a partir da temática do patrimônio material e imaterial”, adianta. Assim, o programa inclui desde a preparação da madeira, concepção do desenho e da matriz, impressão (manual e com prensa), tintas e emprego de cores.
Após a oficina, os trabalhos produzidos serão expostos ao público do evento. “Os alunos também receberão as matrizes que confeccionaram”, ressalta Mestre João, que fica feliz ao ver hoje alunos das primeiras oficinas em atividade. “Eles continuam gravando, deram continuidade”.
“Além de fazer parte do universo da cultura popular, a xilogravura sempre esteve em contato com a música. Na verdade, ela é adaptável a todas as linguagens artísticas”, comenta, sobre o significado da oficina no evento.
Ainda no campo das artes visuais, a oficina Fotografia e Tradição contempla tanto a parte teórica quanto prática, relacionada ao manuseio de equipamento profissional e, especialmente, abordagem dos fotografados.
As aulas não poderiam estar em melhores mãos: ao lado do pesquisador Gilmar de Carvalho, Francisco Sousa percorreu o Interior do Ceará (e, posteriormente, outros estados do Nordeste) em busca de mestres rabequeiros, em uma pesquisa de campo que resultou no livro “Rabecas do Ceará”. A obra, aliás, foi ponto de partida para a formatação do Ceará das Rabecas.
“De início, vou falar um pouco sobre essas viagens, depois sobre teoria fotográfica. No fim, dou ênfase na questão do comportamento no momento de fazer as fotografias, especialmente no caso dos rabequeiros, no sentido de interferir o menos possível na situação, ser discreto”, detalha Francisco.
“Nos primeiros contatos que tínhamos com os mestres rabequeiros ou de outras manifestações culturais, sempre tínhamos esse cuidado. Máquinas e lentes profissionais são grandes, podem intimidar. Normalmente deixava no carro,ia apenas com bloco de anotações e caneta, para ganhar a confiança. Aos poucos vamos trazendo o equipamento, mas não usava flash, para-sol”, conta o fotógrafo.
Por fim, a oficina inclui um momento de trabalho de campo, quando os alunos têm a oportunidade de manusear as máquinas.
Tradição
Em um evento sobre rabecas não poderia faltar uma oficina sobre o próprio instrumento, a cargo do rabequeiro e luthier Di Freitas, presente no Ceará das Rabecas desde a primeira edição. Seu trabalho, porém, foi iniciado muito antes, há 13 anos, em Juazeiro do Norte.
“Nessa época, a rabeca não era conhecida, precisei aprender a construir para poder tocar. Depois, comecei a ensinar”, recorda o artista. “Os mestres eram reservados e também ninguém procurava por eles, não havia estímulo para se mostrarem ao público. Hoje a situação mudou bastante”, comemora.
Di Freitas aprendeu a tocar rabeca com o mestre Zé Oliveira, filho de Cego Oliveira. “Até então só conhecia rabeca de gravações, nunca tinha visto ao vivo. Vi ele tocar, gostei. Eu já tocava violoncelo, mas aprender a tocar e construir rabeca é difícil. É preciso estar perto de um mestre, ficar ao pé dele, observar”, conta.
Ainda no campo do conhecimento sobre o tema, acontecem dois seminários no final do evento: “Manifestações Tradicionais do Cariri”, no sábado e “Bandas de Música no Contexto Cultural Cearense”, no domingo.
Sons
Além das atividades de formação e debate, o Ceará das Rabecas contempla ainda apresentações de rabequeiros convidados. Neste ano, o diferencial fica por conta do Rabecas de Bolso, conjunto de shows itinerantes em praças, ruas, escolas, terminais de ônibus e outros espaços da cidade, na quinta e sexta durante o dia. A ideia é aproximar ainda mais o público dessa manifestação da cultura popular.
À noite, os shows acontecem no Anfiteatro do Centro Dragão do mar de Arte e Cultura . De sexta a domingo (16 a 18) apresentam-se mestres como Zequinha Nóbrega, José Neto (Independência), Chico Cadó (Tauá), José Paulino (Quiterianópolis) e Antonio Carolindo (Novo Oriente), além da Orquestra Cachoeira do Fogo (Independência), Sr. Expedito (pife, Juazeiro) e Grupo Rabecacello (Itapipoca).
No dia 16 também acontece a abertura da exposição “Novos Velhos Rabequeiros”, com fotografias de Francisco Sousa sobre rabequeiros. A mostra segue até setembro, no Espaço Multiuso do Dragão.
Mais informações
III Ceará das Rabecas – de 13 a 18 de agosto, no CDMAC e Mercado dos Pinhões. Acesso gratuito. Contato (85): 3488.8600
http://cearadasrabecas.com.br
Programação
Oficinas
Xilogravura
13 a 16 (terça a sexta), das 9h às 12h
Local: Mercado dos Pinhões
Construção de Rabecas
13 a 16 (terça a sexta),
das 14h às 17h30
Local: Colunas da Praça Verde do CDMAC
Fotografia e Tradição
13 a 16 (terça a sexta), das 9h às 12 h
Local: Mercado dos Pinhões
O Toque da Rabeca
17 e 18 (sábado e domingo),
das14h às 17h
Local: Mini Auditório do CDMAC
Seminários
Das14h às 17h. Local: Auditório do CDMAC
17/8 – Manifestações Tradicionais do Cariri
18/8 – Bandas de Música no Contexto Cultural Cearense
Shows
Das 19h às 22h.
Local: Anfiteatro do CDMAC
16/9 (sexta)
Orquestra Cachoeira do Fogo (Independência);
Sr. Expedito – pife (Juazeiro do Norte); mestre Zequinha Nóbrega (Independência); mestre José Neto (Independência); mestre Chico Cadó (Tauá); mestre Zé Barroso (Independência); Gessi Gonçalves (Miraíma-Brotas)
17/8 (sábado)
Mestre José Paulino (Quiterianópolis); dupla de violeiros Cesanildo Lima e Angelita (Maracanaú); mestre Moacir (Parambu); mestre Antonio Carolindo (Novo Oriente); mestre Filomeno Marcolino (Crateús); mestre Ivan dos Cajueiros (Tabuleiro do Norte); Baby Guedes (Fortaleza)
18/8 (domingo)
Encontro de todos os Rabequeiros
Luizinho Calixto – sanfona de 8 baixos (Fortaleza); mestre Raimundo Vitorino (Guaraciaba do Norte); mestre Chico Coco (Varjota), com participação de Luciana Gifoni; mestre João Geminiano (São Benedito); mestre Luiz Pereira (Quixeramobim);
grupo Rabecacello: Samuel Furtado, Tamily Braga e Viana Júnior (Itapipoca); mestre Chico Barbeiro (Baixio)
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