A artista visual Ana Maria Tavares quer ouvir impressões e análises sobre Natural-Natural: Paisagem e Artifício, projeto que desenvolve no Ceará desde janeiro e vira exposição em setembro no Centro Dragão do Mar, com patrocínio do Banco do Nordeste.
E para esse debate aberto ao público, que acontece hoje, às 19 horas, no auditório da Adufc, convidou pesquisadores e agentes de cultura de Fortaleza – como, por exemplo, o curador do Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC), Bitu Cassundé, e a professora de Arquitetura da Unifor, Fernanda Rocha. A roda de conversa, como ela prefere denominar, ganhou o título “Por que arte para falar do que estamos falando?”.
A discussão de logo mais deve ser atravessada pelas questões que puseram esse trabalho da mineira numa intercessão de muitos saberes. O ponto de partida de Natural-Natural foi a curiosidade da artista pela vinda do paisagista Burle Marx (1909-1994) ao Ceará. Queria investigar as consequências da herança modernista deixada por ele.
Assinados pelo também arquiteto e pintor, nasceram os conhecidíssimos jardins do Theatro José de Alencar (Centro), mas também os pouco lembrados jardins do centro administrativo do Banco do Nordeste, no Passaré.
O modernismo é foco das preocupações artísticas e acadêmicas de Ana Tavares desde os anos 1980 – quando um mestrado em Chicago (EUA) iluminou para ela a realidade brasileira. “Meu trabalho vem construindo a possibilidade de fazer um resgate histórico do passado e colocar esse legado em xeque para pensar a atualidade”, destaca.
Animada ainda pelo trabalho artesanal nordestino, ela cruzou esses universos - o popular do artesanato, o paisagístico de Marx - num projeto “dialógico e processual”. Para isso, pensou em quatro laboratórios. Os dois primeiros, chamou de “Reconstruções da Paisagem”.
Foram, mais especificamente, oficinas de imersão e workshops com artesãos, estudando jardins e plantas de Burle Marx. “Ele ia buscar plantas brasileiras, mais populares e menos valorizadas”.
O terceiro – um laboratório de pesquisa – recebeu a distinção “Entre a História e a Atualidade do Lugar” por recolher todo material que pudesse “fazer conexão importante da relação entre cidade, natureza, paisagem”. “Paisagem é construção que indica ideologia. Paisagem não é natureza. A gente está questionando o que é natureza e o espaço na natureza”, pontua.
Em setembro, na exposição, ela reúne cerca de 40 artesãos reelaborando Burle Marx através de um grande painel de crochê, trabalhos em couro ou mesmo em palha de bananeira.
Além deles, outros artistas vão propor obras que problematizam a dicotomia natural-artificial dentro da produção e das relações de uma cidade – são eles Vitor Cesar, Guiomar Marinho, Silas de Paula, Bruno Schultze, Rodrigo Costa Lima.
“A coisa mais apaixonante é realizar projeto em Fortaleza, com parceiros de Fortaleza. Acredito que a experiência do trabalho pode promover desde o início como é possível tomar legado histórico para rever a condição do lugar”, avalia.
O último dos laboratórios – “Entre Ciência, Estética e Política” – é seminário internacional que deve acontecer no fim de setembro e incita o debate sobre interação entre arte, arquitetura e ciência. Ainda está sendo gestado.
Segundo a artista, “o projeto, no fim, toca questões da arte: arte no contexto da esfera pública; o artista-gente que não é só produtor de arte, mas pensador e pesquisador, que consegue reunir questões para discutir a contemporaneidade; além da relação com a Geografia, com o Urbanismo”.
Para ela, o importante é como o fazer artístico se torna uma plataforma para a construção dessas relações. “Entendo que a arte tem possibilidade muito aberta para leituras e as conexões. A cidade se tornou uma fonte de inspiração. É nela que eu encontrei aquilo que a gente vê como obra de arte”, observa.
Quem
entenda a notícia
Ana Maria Tavares é artista plástica e professora do programa de Pós-Graduação na Escola de Comunicação da USP. Seu trabalho investiga o modernismo.
Serviço
“Por que arte para falar do que estamos falando?”, com Ana Maria Tavares e outros debatedores
Quando: segunda-feira (19), às 19 horas
Onde: No auditório da Adufc (Avenida da Universidade, 2346 - Benfica)
Entrada franca
Outras informações: (85)3066.1818
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