A primeira mesa específica do Banco do Brasil, dia 14/8, na Campanha dos Bancários 2013 debateu saúde, previdência e condições de trabalho. A violência organizacional na cobrança de metas, assédio moral institucional e práticas antissindicais foram apontados como algumas das causas do adoecimento dos trabalhadores.
Quanto às expectativas para a Campanha, Carlos Neri, diretor da DIREF/BB, afirmou que um “Acordo de dois anos seria muito bom, que seja mais elástico, que seja bom pra todos, atenda os dois lados”. Isso mostra que há interesse do Banco em alongar o prazo entre dissídios, mas a proposta vem antecipada, não esta na pauta dos trabalhadores e com ausência de respostas para outros temas reivindicados.
Quanto aos programas do Governo, disse que quanto mais crescerem, melhor, mas lembrou que a “meta não pode ser esquecida. O Banco precisa dar retorno sobre patrimônio líquido nos níveis dos bancos privados, pois é exigência do acionista majoritário”. A resposta dos trabalhadores foi de que as metas e o Sinergia estão banalizados e desacreditados pelos próprios administradores. Muitas vezes as metas se alteram diariamente, às vezes mais de uma vez por dia, alterando-se sempre que atingidas, em uma lógica que leva ao assédio e violência na sua cobrança. Além disso, apenas em 2012, o Sinergia foi alterado 12 vezes.
Para o BB, bancos privados são parâmetro
A Cláusula 11 exige o fim da discriminação (reivindicação presente na Minuta há anos), aos bancários de instituições incorporadas, que estão impedidos de optar pela CASSI/PREVI. Enquanto a previsão de poupanca para a vida laboral (gastos previstos para saúde, previdência, etc.) para um funcionário do BB na data da posse é de 175 mil reais, para um egresso de um dos bancos incorporados é de 58 mil. O Banco tem feito essa conta e essa “economia” nesses anos.
Carlos Neri afirmou que “não existe de forma nenhuma discriminação por parte do Banco. E ainda, tentando dividir os trabalhadores disse que “Dos 118 mil funcionários do Banco, você falou em 15 mil, a gente tem 103 mil do outro lado. (...) A CASSI é uma nave perto dessas outras entidades.”
Discriminação aos incorporados?
“A forma que o banco trata incorporação de bancos, e o tratamento que ele dispensa com funcionários desses bancos é extremamente respeitosa. Talvez, se a gente desse o mesmo tratamento que os bancos privados dão, vocês teriam razão para estar falando em discriminação.” Carlos Neri, Diretor DIREF.
CASSI/PREVI para incorporados?
“A CASSI é uma entidade que se encontra sólida, mas que a gente sabe que é uma entidade que também tem preocupações já com o plano existente na forma que está concebido, que dirá, a gente fazer avaliação de trazer uma massa de lá pra cá? Uma massa que tem idade média superior ao povo que hoje está dentro da CASSI. Existe a questão de custo? Existe sim. Existe a questão de custo porque as três entidades, que vieram na incorporação dos bancos, não preveem contribuição pós laboral. De quanto é esse impacto? Depende. Depende se vocês vão acordar de retirar alguma ação que eventualmente exista, porque isso representa risco, tem impacto financeiro.” Carlos Neri.
O BB e suas “teses” sobre adoecimento
Sobre o adoecimento da categoria e as informações de que os bancários estão cada vez mais vivendo e trabalhando sob o uso de medicação controlada, a representante do BB, Sandra Navarro, respondeu: “que bom que tem gente que consegue conviver com uma doença trabalhando”.
O que os negociadores acham sobre o adoecimento?
“Com síndrome do pânico, há vinte anos, a pessoa não trabalhava, um bipolar não faria um concurso, hoje ele entra [no Banco]. Quantos não estariam no mercado, se não houvesse esse remédio? O que a gente quer saber, é de atestar isso. A pessoa usa, mas ela usa por que? Ele usa por está com problemas na família, ou com problemas em casa, ou com problemas com o filho, quer dizer, até onde a empresa tem uma culpa solitária sobre estes problemas com uso de remédios”, disse Sandra.
“O funcionário pode se sentir doente e não estar doente. Tragam dados científicos de que isso está acontecendo em função das metas estabelecidas e das formas de cobrança. Tragam provas inequívocas”, disse Carlos Neri.
Na mesa, os trabalhadores responderam que é impossível provar o adoecimento geral, pois a própria pressão que o trabalhador sofre, o impede de denunciar e até de se afastar para tratamento.
O que os bancários responderam?
“Não é possível a gente vir aqui e ouvir uma argumentação dessa. Como um Banco produz nessa intensidade e nessa quantidade [referência ao lucro líquido semestral recorde de 10 bilhões divulgado no dia anterior] e tem a ousadia de dizer que talvez não seja isso que causa adoecimento? É o tempo que ele passa fazendo bicicleta, academia? É a família que estressa ele?"
Outras demandas
Cobrado sobre a imposição unilateral do Plano de Funções, o Banco mandou o recado através de Carlos Neri: “se houvesse essa indignação, com relação ao Plano de Funções, eu acho que a gente não teria tanto sucesso com a CCV, como a gente tem tido. Para o funcionalismo essa não é uma questão que esteja incomodando.”
Os trabalhadores cobraram reclassificação das faltas atribuídas pelo Banco, relativas aos Dias Nacionais de Luta contra o Plano de Funções e a PL 4330. O Banco se negou a reclassificar as faltas e quer discutir os dias parados da possível greve deste ano, pois segundo Neri, este “modelo [de greve] não serve”.
À ameaça do Banco de não renovar a Cláusula 32, que obriga o Banco observar três ciclos avaliatórios insatisfatórios e consecutivos de GDP, para descomissionamento, os bancários responderam que estão respaldados pelo princípio da ultratividade, Súmula 277 do TST, que garante que benefícios acordados coletivamente incorporam-se ao contratos individuais de trabalho, projetando-se no tempo. Mesmo que o instrumento normativo coletivo estabeleça o período de vigência de um, as normas coletivas estão incorporadas aos contratos individuais de trabalho, devendo ser respeitadas e aplicadas mesmo depois do término da vigência do termo coletivo, e somente com novo acordo ou convenção coletiva poderão ser modificadas ou suprimidas.
Muitas denúncias, em diversas bases sindicais, foram registradas sobre pressão e estipulação de prazo para retirada de folgas, este ano, estre as quais, as folgas concedidas pela Justiça Eleitoral. O Banco afirmou negou ter descumprido o ACT quanto aos procedimentos de folgas.
Mais uma vez, o movimento levou ao Banco as denúncias sobre práticas de rankeamento e exposição individual do cumprimento de metas. Fingindo ignorar o sistema PIN (que permitia visualização da colocação individual), Neri pediu que os casos sejam denunciados e afirmou: “não é orientação fazer rankeamento. Eu lamento que isso esteja acontecendo”.
Agenda
Segunda rodada de negociação específica
Data: 23/08 (sexta-feira) das 10h às 17h
Local: São Paulo – SP
Terceira rodada de negociação específica
Data: 29/08 (quinta-feira) das 10h às 17h
Local: Brasília – DF
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