Desde o ano passado, o músico cearense Carlinhos Patriolino está às voltas com a gravação do seu novo trabalho autoral, batizado de Vivências. Apesar dos quase 40 anos de carreira, este será apenas seu quarto CD. E, curiosamente, será também seu primeiro LP. “Estou mais empolgado ainda por conta disso”, comenta o músico.
A estreia de Patriolino num formato dado como morto há duas décadas é uma forma de mostrar um curioso e recente fenômeno da indústria fonográfica. Aquecido por relançamentos, importações e feiras que reúnem dezenas de colecionadores, o mercado de LPs vem mostrando sua sobrevida depois de muitos anos de hegemonia dos formatos digitais, seja CD ou MP3. Aproveitando o momento, muitos artistas brasileiros, dos mais variados nichos, têm lançado álbuns em formatos digital e analógico. Pitty, Erasmo Carlos e Vivendo do Ócio são alguns exemplos.
Atualmente, somente uma fábrica dá conta de produzir os bolachões na América Latina. Localizada no município de Belford Roxo, Rio de Janeiro, a Polysom fabrica cerca de 10 LPs e oito compactos por mês, com tiragem média de 500 unidades. Segundo dados da fábrica, esse volume cresceu 130% de 2009, quando a Polysom foi reaberta, até este ano. Enquanto, no Brasil, São Paulo lidera esse mercado analógico, é da Argentina e Chile que parte a maior parte das encomendas de fora do País.
No entanto, mesmo com tanto alarde, essa volta do LP ainda é limitada a um nicho de apreciadores dispostos a pagar caro pelo produto. “Todos os insumos carregam impostos elevados em seu preço, o que provoca uma cadeia de custos muito altos”, justifica a Polysom por email. Para os lojistas, isso dificulta um retorno efetivo desse mercado. “Os preços são desproporcionais ao que o mercado topa pagar”, afirma Juarez Sampaio, da loja Desafinado. Se acrescentar o produto importado na conversa, a situação fica ainda mais difícil. “Lá fora, tudo sai em CD e LP, e vende mesmo. Aqui, você (lojista) até consegue comprar, mas quando bota o imposto vai pra R$ 120”, acrescenta Juarez.
A saída para os consumidores fugirem dos altos preços, então, ficou por conta dos sebos. Comprando e vendendo discos velhos, são muitos que ainda defendem a mídia analógica como insuperável. “O sonho do digital é ser analógico”, repete o colecionador Mário “Vinil” Fernandes, há 14 anos com o sebo Bolacha Preta. Sem nunca ter se rendido aos CDs, ele optou por um acervo enxuto e certeiro de LPs – que inclui raridades de Mutantes, Bacamarte e muito jazz – e hoje vende uma média de oito mil discos por ano. “Vi muita gente trocando seus LPs por digital, e eu dizia pra não fazer isso, pra deixar os vinis lá. Hoje tá aí”, comenta.
De fato, para os defensores do analógico, o LP é mais que uma forma de ouvir música. É um fetiche. “Ele exige que você esteja em contato com o seu aparelho. Você tem que colocar o disco, colocar a agulha, virar o disco”, comenta o DJ Marquinhos, que já chegou a ter mais de três mil títulos ocupando muitos espaços de casa. “É uma coisa de nicho, mas tende a crescer. O vinil, inclusive, pode ser uma saída pra trazer o consumidor de volta”, afirma ele apontando as edições especiais como um forte atrativo. “Além disso, as lojas são espaços de convivência, de troca de informação. Elas precisam se tocar mais disso. É algo que não pode morrer”.
Saiba mais
Faça seu próprio LP
• No site oficial da Polysom (www.polysom.com.br) é possível encomendar uma tiragem de LPs. Preenchendo um cadastro simples (nome e email) e definindo o pedido (formato, quantidade, material gráfico o outros), é possível saber por quanto sai o seu LP. Numa simulação feita na última quinta-feira (21) pela reportagem, foi pedida uma tiragem de 300 unidades (mínimo) em 12 polegadas, com tempo médio de 20 minutos em cada lado, envelopes internos de plástico, capa e encarte. O valor total ficou em R$ 9.235 (sem frete), que pode ser pago no cartão de crédito em até 10 vezes (com juros). O valor unitário é de R$ 30,78.
• A partir do dia 13 de setembro, todas as sextas-feiras do Amici’s vão contar com um festa comendada pelo som dos vinis. O projeto, cujo nome provisório é “Bagunçando o negócio”, vai reunir os DJs Marquinhos, Alan Moraes e Doido. A ideia é que o repertório seja aberto a todos os etilos, desde que seja dançante. “Queremos também convidar outros DJs para participar, além de organizar feiras e eventos”, adianta Marquinhos.
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