A Proclamação da República já estava praticamente decretada, naquele dia 15 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro, enquanto o imperador Pedro II, que fora alertado sobre a gravidade da questão, passava uns dias em Petrópolis. Para ele, tudo não passaria de fogo de palha, como era habitual entre os brasileiros. “A monarquia caiu sem reagir: naquele momento, não houve derramamento de sangue, o que só veio ocorrer anos depois”, comenta o jornalista e historiador Laurentino Gomes, autor de 1889, volume lançado agora e que fecha sua trilogia sobre o Brasil do século XIX.
Como nos livros anteriores (1808 e 1822), Laurentino fez uma pesquisa exaustiva, boa parte realizada nos Estados Unidos, onde morou, no ano passado, em um campus universitário no interior da Pensilvânia. Ele leu mais de 150 obras e se apoiou, sobretudo, nos livros do historiador José Murilo de Carvalho, uma das principais autoridades no tema.
Em 1889, Laurentino mostra como a República era inevitável, especialmente depois que os militares, principal apoio da monarquia, se sentiram frustrados, mal recompensados e desprestigiados pelo governo - eles reclamavam dos soldos, congelados fazia anos, da redução de efetivos, da demora nas promoções e da falta de modernização dos equipamentos. Além disso, entre os civis, crescia a movimentação republicana, alimentada principalmente pelos cafeicultores.
A desconstrução, no entanto, começou anos antes. Segundo o historiador, a liberdade de imprensa e de opinião durante todo o Segundo Reinado favoreceu o amadurecimento dos ideais republicanos que acabariam por derrubar a monarquia brasileira. “Com o tempo, d. Pedro revelou-se um homem doente, esgotado por comandar o País por quase meio século, portanto, sem forças para se manter no trono”, observa. A sucessora, a princesa Isabel, perdeu popularidade entre os cafeicultores por ter assinado em 1888 a lei de Abolição da Escravatura. Além disso, era conservadora e casada com um francês, o Conde D’Eu - o que era visto como a possibilidade de um estrangeiro participar do poder.
Laurentino Gomes mostra como o marechal Deodoro da Fonseca, comandante do Exército no levante militar, se manteve monarquista até o último minuto e só deu o grito proclamando a República levado, entre outros, por um motivo banal: ciúmes.
Deodoro liderou o golpe que destituiu o gabinete do Visconde de Ouro Preto, seu adversário político, mas, ao longo do dia 15 de novembro, relutou em proclamar a vitória. “Ele mudou de opinião na madrugada do dia 16, quando descobriu que Pedro II nomeara o senador Silveira Martins como chefe do novo ministério. Ora, anos antes, quando governava o Rio Grande do Sul, Deodoro perdera para Silveira Martins a paixão da Baronesa de Triunfo, uma bela viúva. Daí surgiu uma rivalidade que duraria o resto da vida dos dois personagens e, quem diria, levaria à queda da monarquia”, diverte-se.
Após o livro 1889, Laurentino pretende agora a pesquisar fatos históricos, que podem ser a Guerra do Paraguai ou a Inconfidência Mineira. (da Agência Estado)
SERVIÇO
1889
Autor: Laurentino Gomes
Editora: Globo Livros
Preço: R$ 44,90
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