Na exposição "Trajetórias - Arte brasileira na coleção Fundação Edson Queiroz", em cartaz no Espaço Cultural Unifor, há um núcleo dedicado exclusivamente a obras de grandes artistas cearenses. Nesse recorte, não poderiam faltar os trabalhos de Chico Albuquerque, um dos pioneiros da fotografia publicitária, cuja atuação também foi fundamental para a formação de profissionais no Estado.
Estão lá três exemplares da famosa série "Mucuripe", datada de 1952. Trata-se de uma das mais icônicas da carreira de Chico, ao reunir elementos representativos do universo litorâneo cearense, entre jangadas, pescadores, seu trabalho e cotidiano, além da paisagem da Praia do Mucuripe.
A série foi inspirada, na verdade, por um trabalho realizado dez anos antes por Chico, em 1942, quando foi convidado a fazer as fotografias de cena (still) do filme "It´s All True", do consagrado cineasta norte-americano Orson Welles (de "Cidadão Kane", 1941).
Fotografias da série "Mucuripe", de Chico Albuquerque, realizadas em 1952: cotidiano de comunidade de pescadores registrado. O cearense foi pioneiro no campo da fotografia publicitária no País e inovou em diferentes aspectos
Idealizado como um documentário sobre a América-Latina, o longa-metragem havia sido encomendado a Welles pelo governo norte-americano, como parte da "Política de Boa Vizinhança", do presidente Franklin Delano Roosevelt.
Como parte da equipe no Ceará, Chico registrou cenas dos jangadeiros. Inspirado pela experiência, retornou dez anos depois ao mesmo local para retomar o tema. À época, já era fotógrafo consagrado em São Paulo. Imagens dessa série integraram seu primeiro livro, "Mucuripe", editado em 1989. Elas foram usadas ainda em exposições e livros (como a retrospectiva "Chico Albuquerque Fotografias", montada em 1999 e 2010, e o livro homônimo, também de 2010).
Pioneiro
A oportunidade de atuar ao lado de Welles foi fundamental para a carreira de Chico Albuquerque. Na ocasião, aprendeu, por exemplo, um dos conceitos básicos da fotografia, o da divisão áurea do retângulo.
Nascido em Fortaleza em 1917, cedo manifestou aptidão para a fotografia. Aos 15 anos, aventurou-se no cinema ao fotografar um documentário de curta-metragem. Aos 17, já trabalhava profissionalmente, graças à experiência no estúdio Aba Film, fundado por seu pai, Adhemar Albuquerque. Em 1945, mudou-se para São Paulo.
Não demorou muito até se destacar no mercado. Em 1948 fez a primeira fotografia publicitária no Brasil, ao registrar modelo e produto para uma campanha da Johnson & Johnson, da agência J.W. Thompson.
Além de ter inovado na fotografia publicitária, assinando campanhas nas áreas de moda, culinária, arquitetura e automobilismo, Chico produziu célebres ensaios autorais. Entre eles destacam-se retratos com grandes personalidades, a exemplo de Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Burle Marx, Aldemir Martins e Cacilda Becker.
Contribuição
Outro legado deixado pelo cearense foi o impulso à valorização e formação de novos fotógrafos em Fortaleza, para onde retornou 30 anos depois. Aqui, teve papel decisivo na estruturação e expansão do mercado publicitário, assim como na transformação do fotojornalismo local.
Seu último trabalho foi aos 83 anos, em 2000, quando assinou campanha publicitária nacional para a Del Rio. Faleceu em dezembro daquele ano, após um ataque fulminante do coração.
Para difundir sua obra e a de seu pai, foi criado em 2003 o Instituto Cultural Chico Albuquerque (ICCA). A preservação e catalogação dos trabalhos são feitas por meio de convênio firmado entre o Museu da Imagem e do Som de São Paulo e o Instituto Moreira Sales. Atualmente, o IMS é responsável pelo acervo com 60 mil arquivos.
Mais informações
Exposição "Trajetórias - Arte brasileira na coleção Fundação Edson Queiroz". Até 8 de dezembro, no Espaço Cultural Unifor (Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz). Visitação: de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h; sábados e domingos, das 10h às 18h.
Contato: (85) 3477.3319
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