Nova animação surge como spin-off da franquia "Carros". Mas, agora, história se passa pelos ares
Em termos de produção artística, os reflexos da parceria - que em 2006 se transformou em aquisição - entre a Pixar e a Disney nunca foram tão claros. Produzido pela Disneytoon, cujo último filme a emplacar o circuito cinematográfico americano foi "Pooh´s heffalump movie" (2005), "Aviões" se apropriou do mundo criado pelo estúdio cofundado por Steve Jobs em "Carros" (2006) para ambientar a sua própria história. É considerado, portanto, um spin-off das aventuras do carro de corrida Lightning McQueen, mas sem relação com a Pixar.
Desta vez, os personagens habitam a área muitos metros acima das pistas de rali. A direção ficou a cargo de Klay Hall (da série "O rei do pedaço"). Não por acaso. Filho e neto de aviadores, Hall cresceu visitando museus e shows aéreos. O produtor executivo John Lasseter (diretor de "Carros" e "Toy story") sabia disso. Durante uma viagem de avião, teve uma epifania: precisava expandir o universo de "Carros" para cima. Ao aterrissar, ligou para Hall."Acho que foi por isso que recebi o convite", diz o cineasta em entrevista ao GLOBO, por telefone. "Meu pai pilotava jatos F9F Cougars, e aprendeu a voar com meu avô. Esses caras me passaram a paixão pela aviação quando eu era muito pequeno. Isso me ajudou a dirigir ´Aviões´ em todos os sentidos. O que não significa que eu não tenha precisado de ajuda durante o processo".
"Contratamos tantos especialistas que provavelmente não consigo dizer quantos", acrescenta a produtora Traci Balthazor-Flynn, que recebeu conselhos técnicos de pilotos para dar autenticidade às cenas no ar. "Tornar os voos realistas foi desafiador. Parece fácil e natural. Todo mundo vê aviões voando. Mas, na hora de animar, é muito fácil perceber o que deu errado. O que não fizemos foi desviar a atenção do espectador dos personagens e da história. O voo seria só o veículo para fazer isso funcionar".
"A história (de superação) gira em torno do pulverizador Dusty, que sonha ser avião de corrida, mas tem medo de altura. Com a ajuda do aposentado Skipper, da Marinha, ele consegue entrar em uma competição mundial, onde conhece a brasileira Carolina", voz de Ivete Sangalo, na versão dublada. Na original, porém, seu nome é Rochelle (Julia Louis-Dreyfus).
E ela não tem raiz alguma no Brasil. Em uma estratégia incomum no cinema para aproximar o público do filme, a personagem sofreu diferentes modificações em sua caracterização nas cópias lançadas em cada região do mundo. Além do Brasil e dos Estados Unidos, outros sete países ganharam sua própria Carolina. "Trabalhamos com uma equipe brasileira para criar o visual, escolher as cores e o nome da personagem. Também tivemos o prazer de conhecer a Ivete Sangalo", lembra Hall, que se encontrou com a cantora na pré-estreia do longa em Los Angeles. "Ela é linda e talentosa. Tivemos muita sorte de tê-la no papel de Carolina".
Adaptações
"No começo, a personagem era uma corredora franco-canadense. Aí percebemos que era uma ótima oportunidade de caracterizá-la de uma forma em cada mercado, para que as pessoas pudessem se identificar. Ela tem um papel muito sólido no filme e nos deu a chance de alcançar diferentes territórios através dos nossos parceiros locais da Disney", completa Traci.
Mas trocar a nacionalidade foi apenas uma etapa do esforço de dar carisma a personagens com a forma de aviões. Como explica Hall, "definitivamente foi um desafio levar aspectos humanos a pedaços de equipamentos". "Aprendemos com o que a Pixar fez em ´Carros´: pegamos emprestado um pouco do conhecimento deles para criar olhares expressivos e saber onde colocar a câmera para contar a história. Dito isso, foi difícil buscar emoções humanas nesses objetos, com as asas e a posição das bocas na parte inferior da fuselagem. As hélices ficavam constantemente na frente. Mas acho que o resultado final fala por si. Fizemos personagens charmosos", orgulha-se o cineasta, abrindo a possibilidade de expandir o universo a outros meios de transporte. "O mundo é vasto".
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