Pela primeira vez, Gal Costa traz o show do disco "Recanto" para Fortaleza, com direção de Caetano Veloso
Pouco antes do lançamento nacional do disco "Recanto", em dezembro de 2011, Gal Costa fez um show em Ilhéus (BA), o primeiro com algumas das então inéditas músicas do álbum. Quase dois anos depois, "Recanto" continua rendendo agenda lotada para a cantora, quase sempre com apresentações aguardadas. É o caso de sua passagem por Fortaleza, amanhã, no Centro de Eventos.
Primeiro disco de estúdio da cantora desde "Hoje" (2005), "Recanto" foi produzido por Caetano Veloso. É o capítulo mais recente de uma parceria iniciada há mais de 40 anos, com o disco "Domingo" (1967), assinado pela dupla. O filho do baiano (e afilhado de Gal), Moreno Veloso, também participou do processo.Ao vivo
Além de produzir, Caetano compôs todas as faixas do álbum. Não surpreende, portanto, que tenha assumido a direção do show, que já passou por várias cidades do País, desde capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e Salvador até interior paulista, do Paraná e litoral da Bahia. A turnê passou ainda pela Europa, em países como Portugal, Itália, Holanda, Suíça e Israel.
Pouco antes, em março, Gal lançou o DVD "Recanto ao Vivo", gravado no Rio. O registro apresenta o formato adotado para os shows, com canções do novo disco e clássicos de sua carreira, a exemplo de "Baby", "Divino maravilhoso", "Vapor barato", "Meu bem, meu mal" e "Como um dia de domingo". É essa mistura que o público de Fortaleza deve esperar para amanhã. Gal será acompanhada dos músicos Pedro Baby (guitarra), Bruno Di Lullo (baixo) e Domenico Lancelotti (bateria).
Eletrônico
"Recanto" surgiu muito mais de uma inquietação de Caetano Veloso. Foi dele, por exemplo, a ideia de trabalhar com elementos da música eletrônica, gênero até então tímido na trajetória da cantora. A escolha levou Moreno a sugerir o nome do produtor e amigo Alexandre Kassin, dada sua proximidade com projetos em estúdio e vertentes eletrônicas. Caetano enviava as composições a Gal; Moreno e Kassin elaborava as bases.
Assim, "Recanto" surpreende não apenas pelas experimentações eletrônicas, mas pela combinação - estranha a princípio, redonda ao final - dessas sonoridades com uma voz tão clássica na MPB como a de Gal Costa.
Mais informações
Show "Recanto", de Gal Costa. Amanhã, às 22 horas, no
Centro de Eventos do Ceará
(Av. Washington Soares, 1141, Edson Queiroz). A entrada acontece pelo Pavilhão Leste). Ingressos:
R$ 90 (cadeira - inteira), nas
lojas Skyler e iByte ou pelo site http://www.ingressando.com.br/
ADRIANA MARTINS
REPÓRTER
Entrevista com Gal Costa*
"Esse o grande barato da vida: mudar"
O álbum de estúdio "Recanto" foi construído numa ponte aérea Rio de Janeiro/Salvador. Como é trabalhar com repertório do CD no palco, sem distâncias entre os envolvidos?
Para fazer o disco no estúdio, o Caetano me trouxe umas canções e aos poucos fui conhecendo elas, criando intimidade e aí a gente gravou. A ideia do disco era que fosse bem cool e o meu canto, suave. Quando a gente passou a ensaiar pro show, as coisas mudaram um pouco. Algumas coisa ficaram mais mansas, outras mais agitadas. "Cara do mundo", por exemplo, virou um rock. No geral, as canções cresceram mais.
No DVD ao vivo desta turnê, músicas antigas de seu repertório ganharam arranjos que remetem à proposta do disco de estúdio, caso de "Divino maravilhoso"...
Na verdade, não mudamos tanto assim as canções. A forma da canção é a mesma de anos atrás. A tonalidade do canto é a mesma que gravei no passado. Na verdade a forma do arranjo é igual, mas parece diferente mesmo pela sonoridade que buscamos aproximar daquela do disco.
Retrabalhar as canções é uma exigência, de forma a torná-las ainda interessantes para você?
Não é uma exigência. É natural, já que você muda ao longo da vida. Seu trabalho acompanha quilo que você é naquele momento. Esse o grande barato da vida: ficar mudando.
Por que a música eletrônica apareceu agora no seu trabalho.
"Recanto" é completamente coerente com toda a minha história. Eu não estranho a eletrônica em nenhum momento, pois desde os anos 60 trabalhei de forma bastante radical. Há várias reinvenções em minha história: do começo de carreira para o tropicalismo; do tropicalismo pro ´Cantar´ (disco de 1974); deste pro ´Gal Tropical´ (1979), também foi salto radical. E não parei por aí, como você vê.
Como você identifica esses momentos de transformação radical, esses "saltos"?
São momentos bastante prazerosos. É um momento alegre e feliz, em que retomo coisas que fazem parte da minha vida e que me dão prazer.
Como tem sido trabalhar com uma banda com músicos mais jovens?
É uma delícia! Eles são maravilhosos. Adoro trabalhar com eles. São músicos competentes, além de serem pessoas adoráveis.
*Cantora
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