A certa altura do filme Emak Bakia, de 1926, o poeta surrealista Jacques Rigaut (1898-1929), maquiado e trajando roupas femininas, aproxima-se de uma balaustrada com atípicas colunas gregas.
Em seguida, vê-se a orla límpida, as ondas que nunca param. Em outro momento desse trabalho do modernista norte-americano Man Ray (1890-1976), uma mulher sobe os degraus da entrada de uma casa. Não havia muitos detalhes nesse filme experimental sobre a residência que serviu de locação para algumas filmagens.
O mistério animou o cineasta espanhol Oskar Alegria a procurar o lugar. Valeu a pena. O documentário que foi resultado dessa investigação levou o Troféu Mucuripe e US$ 10 mil (ou quase R$ 23 mil) como prêmio da mostra competitiva ibero-americana de longa-metragem no 23º Cine Ceará. O festival, que começou no dia 7, terminou na noite do último sábado (14).
Emak Bakia, expressão que em basco quer dizer “me deixe em paz”, é também o título do longa de Alegria e ainda o nome que Ray deu à casa onde passava os finais de semana nos anos em que morou na França. A mansão fica nos arredores de Biarritz, cidade no lado francês do País Basco.
Para Alegria, que esteve em Fortaleza ao longo da semana, mas precisou partir para divulgar seu filme em outro festival, a obra é um “me deixa em paz” às limitações de sua trajetória profissional como jornalista podado pelas limitações dos documentários que fazia na TV. Como ele mesmo se denomina, virou um documentarista independente.
Competitiva
O Brasil conquistou quatro das 11 categorias ainda dentro da competitiva ibero-americana para longas.
Se Deus Vier que Venha Armado levou troféus para melhor direção (Luis Dantas), melhor fotografia (Hélcio “Alemão” Negamine) e melhor ator (Ariclenes Barroso). O filme entrelaça as histórias de um presidiário e um policial militar.
A melhor trilha sonora original ficou com Olho Nu, documentário sobre a vida do cantor Ney Matogrosso. O filme tem a direção de Joel Pizzini.
Entre os curtas na disputa brasileira, levou a melhor Jessy, assinado por Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge. Em 15 minutos, os cineastas fazem uma homenagem à cena transformista da capital baiana pelo personagem de Jéssica. O melhor amigo (Allan Deberton) ganhou na categoria Produção Cearense.
Saiba mais
Veja ganhadores em outras categorias
- Prêmio da crítica
Longa: Emak Bakia, de Oskar Alegria
Curta: Sanã, de Marcos Pimentel (Minas Gerais/Maranhão)
- Melhor Filme da Mostra Olhar do Ceará: Meu Amigo Mineiro, de Victor Furtado e Gabriel Martins ; 2º lugar: A Rabeca, de Irene Bandeira
- Prêmio Olhar Universitário
Melhor Longa: Emak Bakia, de Oskar Alegria (Espanha);
Melhor Curta: Mauro em Caiena, de Leonardo Mouramateus (Ceará)
Troféu Oscarito: Coletivo Alumbramento (Ceará)
- Prêmio Aquisição
Canal Brasil
Melhor curta-metragem da Mostra Competitiva (no valor de R$ 15 mil): Sanã
- Prêmio Banco do Nordeste
Melhor Produção com Temática Nordestina (R$ 10 mil para filme escolhido por júri): Mauro em Caiena, de Leonardo Mouramateus (Ceará)
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