Exposição "NicEstrigas" homenageia o casal de artistas e transporta os visitantes ao acolhedor sítio do Mondubim
Parece óbvio que um artista incorpore sua arte à vida, mas não é. Aliás, talvez por justamente promover essa distinção existam tantos trabalhos superficiais: a arte imitando a vida em vez de transmutar-se nela. O casal Nice Firmeza e Estrigas constituiam uma exceção. Ele, pintor, crítico das artes e historiador; ela, pintora, bordadeira e cozinheira de mão cheia.
Quando dispunham seus quadros pela casa e falavam das artes ou quando Nice vestia os visitantes com seus bordados e lhes punha flores nos cabelos, produziam arte contemporânea simplesmente obedecendo ao seu instinto de anfitriões.Pensando em prestar uma homenagem à arte e ao carinho cultivados por e pelo casal, o curador Bené Fonteles inaugura amanhã, dia 19, no Museu da Cultura Cearense, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, a exposição "NicEstrigas - Arte e Afeto".
Segundo o curador, a ideia da exposição surgiu em 2012. "Minha relação com eles é de mais de 40 anos. Sou como um filho e achei que precisava prestar essa homenagem", afirma Bené. Para isso, nada melhor do que tratar da relação estabelecida entre o casal e os artistas que lhes visitavam frequentemente no sítio, que, aliás, na exposição, é considerado parte do legado artístico de ambos.
"O sítio era um lugar em que sempre se falava de arte. Um espaço de liberdade, de conversa, de acolhida. E ele servia não só pra mostrar o que tinha sido a arte no Ceará, do período moderno ao contemporâneo, mas para educar os sentidos", detalha o curador. "A ideia desse conjunto de imagens de pintura e fotografia é transpor para a galeria o clima desse lugar, para que o visitante, ao entrar na exposição, se sinta no sítio do Mondubim", acrescenta.
Após o falecimento de Nice, em maio deste ano, o projeto foi interrompido. "Não foi fácil. Quando voltei à casa, depois da morte dela, fiquei muito emocionado. Estrigas fez um painel com as coisinhas dela, quadros, bordados. Ele não quis ir à missa de sétimo dia de Nice e disse que aquela instalação era a missa dele. Chorei porque é uma homenagem muito forte. As pessoas não são eternas, mas a arte ajuda a eternizar e, por isso, retomamos a ideia da exposição", detalha.
Ambientes
A exposição está dividida em duas galerias. Na primeira, estão expostas fotos de Nice e Estrigas no sítio e um olhar sobre o casal por outros artistas. O Minimuseu Firmeza e os espaços da residência, como a cozinha e a antessala, estão nas fotografias de Francisco Sousa, Gentil Barreira e Marcelo Brasileiro.
A exposição conta ainda com uma reprodução da "Missa" de Estrigas. O espaço costumava ser dedicado à obra da artista, com pinturas feitas desde o início dos anos 1950 até os anos 2010, além de fotografias e prêmios.
Estrigas ampliou a instalação e acrescentou, entre outras peças, uma das camisas bordadas que ela própria usava, na qual marcou o símbolo do seu signo, câncer.
Já a segunda galeria é voltada à trajetória das artes do casal, a partir do começo da década de 1950 até este ano, no caso de Estrigas. São obras pertencentes ao Museu da Universidade Federal do Ceará (Mauc), à Pinacoteca do Estado e a coleções particulares. Dentro deste espaço há uma sala dedicada à obra de Nice Firmeza, com seus bordados, roupas, mandalas - tema que já resultou em uma exposição individual - e arranjos de flores, que fazia diariamente nos próprios canteiros do sítio.
Mais informações:
Exposição "NicEstrigas - Arte e Afeto". Abertura amanhã, às 19h, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (R. Dragão do Mar, 81). Contato: (85) 3261.0525
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