Crianças da área de risco da Capital transformam seu cotidiano em material cênico, no espetáculo "Favelas"
Uma menina de sete anos que busca uma vida melhor fora da comunidade pobre onde mora. Um rapaz de 14 anos, de família abastada, que procura a mesma comunidade em busca da felicidade. A partir dessa contradição desenrola-se a narrativa do espetáculo "Favelas", cuja estreia acontece amanhã, no Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC).
Produzida pelo Grupo Arte de Viver, a montagem foi escrita e é encenada por crianças e adolescentes atendidos pelo Projeto Ilhas, da Fundação Ana Lima, braço social do Hapvida Saúde. Criada há dez anos, a entidade conta com três unidades: uma em Natal, uma em Fortaleza (bairro Pirambu) e outra em Maracanaú.O Ilhas disponibiliza complementação escolar, esportes, laboratório de informática, alimentação, higienização, aulas de reforço e de música-coral, balé e capoeira a crianças e adolescentes de seis a 17 anos, moradoras de comunidades de áreas de risco e socialmente vulneráveis. Todo ano, o projeto realiza um espetáculo com os participantes da unidade de Maracanaú, no qual podem colocar em prática o conteúdo ministrado nas aulas. Em 2013, pela primeira vez a ação inclui também a unidade de Fortaleza. Ao todo, Favelas inclui 168 crianças e jovens, distribuídos entre as diferentes linguagens presentes na montagem, como dança, coral, música e, claro, teatro.
Para escrever o texto, montar coreografias e outros elementos da peça, os jovens contaram com a contribuição e supervisão do grupo Arte de Viver, companhia teatral fundada por Hemetério Segundo, que assina a direção de Favelas.
"É um material que retrata o dia a dia deles nas comunidades. Quando a menina vai em busca de uma vida melhor fora da comunidade, conhece esse rapaz burguês, que, por sua vez, chega lá em busca de felicidade. Eles se deparam com problemas recorrentes como drogas e prostituição, e ela consegue tirar ele desse mundo", resume Aristela Holanda, presidente da Fundação Ana Lima.
Figurinos e maquiagem também foram idealizados pelos integrantes do arte de Viver, que ministraram oficinas às mães das crianças e outros adultos das comunidades para elaborarem esses elementos. No projeto Ilhas, as famílias também são beneficiadas diretamente, com cursos de capacitação de geração de emprego e renda, além de palestras educativas e preventivas.
A preparação de Favelas começou em novembro do ano passado. Desde então, as crianças e jovens não veem a hora de subir no palco. Para um dos atores principais, Gilberto Cândido da Silva Filho, de 15 anos, este será um momento de realização. "Estou sendo reconhecido pela minha parte artística e o processo está sendo um pouco difícil, mas vai ser ótimo", espera. O adolescente, que participa do Projeto Ilhas há nove anos, revela ainda sua expectativa no sucesso da peça: "Tenho certeza que o Favelas vai mudar muita coisa na minha vida, principalmente na parte artística, que é a que eu mais gosto".
Ensaio
Segundo Aristela, as crianças já realizaram ensaio geral, com figurinos. "Elas estão em TPS, ´Tensão Pré-Espetáculo´", brinca a presidente da fundação. "Estão nervosas, mas no bom sentido, uma expectativa positiva", ressalta.
Após a estreia no dia 20, o espetáculo passa pelo Teatro Dorian Sampaio (Maracanaú) no dia 24 e pelo Cuca Che Guevara (Fortaleza), no dia 26. Todas as apresentações são gratuitas e o projeto é apoiado por Lei de Incentivo à cultura.
Ao todo, as três unidades do Projeto Ilhas atendem a 1.500 crianças e adolescentes. Para participarem, eles precisam morar nas respectivas comunidades, estarem abaixo da linha da pobreza e matriculados na escola.
Mais informações:
Espetáculo "Favelas". Hoje/amanhã/dia 20, às 20h, no Teatro do CDMAC (R. Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema); dia 24 no Teatro Dorian Sampaio e dia 26 no Cuca Che Guevara, ambas às 19h. Gratuito. Contato: (85) 3214.6398
|