O Titãs promete mostrar o vigor e a ferocidade de 31 anos atrás em seu retorno a Fortaleza. O agora quarteto celebra sua obra e nova formação e ainda dá prévia do que trama para o próximo disco
Da lama ao caos, do caos à fama. A conturbada trajetória do Titãs é digna de um belo filme, com direito ao sucesso extremo, excessos, polêmicas (envolvendo prisões, brigas...), lances dramáticos, enxurrada de críticas, enfim, ingredientes mais que suficientes para uma senhora cinebiografia de uma banda de rock. Fora que é indiscutível a importância de sua música, não só para uma geração, como ainda para os dias de hoje, urpreendentemente ainda com um som, um discurso e apelo tão atuais.
O que dizer de “Polícia”, “Estado Violência”, “Porrada” e “Bichos Escrotos” clássicos eternizados pelo ousado “Cabeça Dinossauro” (1986), disco que revolucionou uma época impregnada pela censura e que anos mais tarde, ironicamente, viria a ocupar merecidamente lugar de respeito em listas dos álbuns mais emblemáticos da história da música brasileira?
Vale lembrar que o já existente "A vida até parece uma festa", documentário em que Branco Mello juntou registros seus de shows, bastidores, momentos de descontração em aeroportos e hotéis, entre outros instantes com a banda, não é a mesma coisa... É uma visão afetiva, de um integrante, de alguém que fez parte dessa história.
Um novo material, feito por um olhar de fora, mais imparcial, seria válido até para desvendar os "segredos" dessa longevidade, em meio a tantos altos e baixos (especialmente “baixas”, com saídas de integrantes) e a "razão" da persistência de seus remanescentes em manter sua memória e trabalho vivos.Para isso, Paulo Miklos tem consciência de que é preciso sempre se reinventar, verbo que teima em ser presente em todas as fases do Titãs.
Por telefone, o carismático vocalista, que ainda se reveza como ator e apresentador (cumprindo expediente na Mix TV com um talk show pra chamar de seu!), mostrou empolgação com o novo momento do Titãs, ainda que público e crítica começassem a desconfiar de uma suposta crise criativa com a saída do baterista Charles Gavin. Mas o grupo - casca-grossa no quesito superação - não se deixa abalar com o revés e comemora nova formação, agora como quarteto - além de Miklos, permanecem no barco Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto, e o disco de inéditas, em processo de maturação.
“Vivemos um momento muito especial da carreira, resgatamos aquela energia do início, até porque não deixa de ser um recomeço. Eu e o Tony estamos nos dividindo nas guitarras, o Branco e o Sérgio (fora o teclado) no baixo. Temos um novo baterista, o Mário Fabre (músico convidado), que deu liga e tem nos ajudado e colaborado nas novas canções. Tem sido um estímulo muito grande cair na estrada, 30 anos depois, resgatando o tesão, a satisfação e a diversão de estar no palco, trazendo de volta um som original, mais cru, básico… É normal, que com tanto tempo de carreira, passagens de produtores, participações, ele se tenha se descaracterizado um pouco, mas é bom demais retornar às raízes”, explica.
Novo disco
Então, pode-se esperar rock n’ roll no sucessor de “Sacos plásticos” (2009)? Se depender também do que eles andam escutando, certamente! “Sim, sim! Tem coisas que a gente sempre gostou e nunca deixou de ouvir como Rolling Stones, Beatles, Clash, Secos & Molhados, Mutantes... Mesmo acompanhando tantas novidades boas que surgem por aí como o rock britânico, sempre parâmetro e surpreendendo, a qualidade do hip hop americano e o rap nacional, que tem demonstrado veemência, crítica social aliando poesia, simplesmente fantástico! Sobre o Clash, nós sempre nos identificamos com essa diversidade deles… Além do senso crítico, de tocar nos assuntos da sociedade, os caras flertavam com outros estilos musicais… Mas a música brasileira, uma forte referência para nós, tem também muito disso, de aglutinar, de absorver influências diferentes. Nós já temos algumas canções prontas e já estamos testando ao vivo em alguns shows. E isso é bom porque a gente não chega com material frio no estúdio, soa mais natural e espontâneo. A previsão é de que seja lançado entre abril, maio. Estamos ainda conversando com gravadoras”.
Super ocupados - muita gente não sabe, mas os Titãs ainda têm excursionado o Brasil com três shows diferentes! -, o próprio Miklos se atrapalha ao falar da apresentação que fará em Fortaleza… “Para você ver, tem sido uma loucura… Temos o ‘Cabeça Dinossauro’, em que tocamos na íntegra o álbum, e dois tipos do ‘Futuras Instalações’, um em que apostamos em um formato mais ousado, radical mesmo, tocamos metade do show só com repertório inédito e a outra de hits. São faixas novas, mas não necessariamente irão entrar no próximo álbum. E o público tem recebido bem, gostamos de ver como as pessoas têm reagindo com esse material, ter essa resposta, que acabam influenciando no processo de seleção do set list… Se bem que a gente também gosta de fazer o que dá na telha (risos)”, diverte-se.
“Temos ainda uma variação do ‘Futuras Instalações’, que é o show que vocês vão ver. O repertório será mais focado nos grandes sucessos e teremos uma ou outra inédita”, acrescenta o cantor, garantindo que clássicos como os já citados acima, incluindo “Família”, “Flores”, “Go Back”, “Epitáfio” e “Pra Dizer Adeus” não ficarão de fora da performance. Outra novidade fica por conta de “Desordem” e “Domingo” que andavam de fora dos shows.
SERVIÇO:
Show Titãs sexta (20), a partir das 21h, na Guarderia Brasil. Participação de The Dillas, Projeto Rampage e DJ Leo Teruz. Ingresso: R$ 60 (meia-entrada,2º lote).3261.2022
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