RSSYoutubeTwitter Facebook
Aumentar tamanho das letras Diminuir tamanho das letras Voltar Página inicial Versão para impressão


Notícias

23/09/2013 

Entrevista: Cineasta Halder Gomes fala como surgiu o Cine Holliúdy

Ele não estudou cinema em Cuba, nem passou pelas salas de aula do Instituto Dragão do Mar, muito menos da Casa Amarela. Aliás, sua escola de artes audiovisuais, se podemos chamar assim, foram os sets de filmagens de longas-metragens de artes marciais, onde era pago para apanhar dos mocinhos. Mas é ele o mais bem sucedido cineasta cearense quando se fala em bilheteria. Seu filme Cine Holliúdy é um verdadeiro fenômeno. Em pouco mais de um mês, já levou quase 400 mil pessoas às salas de cinema do Norte e Nordeste.

Nesta entrevista exclusiva ao O POVO, o cineasta Halder Gomes fala de sua trajetória incomum, da paixão pelo cinema, do preconceito que sofreu por ser oriundo das artes maciais e comemora o status que finalmente conquistou depois de 12 anos de atuação como diretor de cinema.

O POVO – Como começou seu interesse por cinema?
Halder Gomes – Na verdade começou na minha infância, junto com o interesse pelas artes marciais. Eu morava em Senador Pompeu e o primeiro filme que eu fui num cineminha, que nem o Cine Holliúdy, era um filme de Kung Fu. E naquela época o Bruce Lee estava no auge e o seriado do Davi Carradine também, era o grande sucesso da TV. E aí veio o fascínio por estas duas coisas ao mesmo tempo. Quando eu vim morar na Capital...

OP – Você é de Senador Pompeu?
Halder – Nasci em Fortaleza e com cinco dias de nascido fui morar em Senador Pompeu, morei lá até os 11 (anos). Quando eu vim morar em Fortaleza, ensaiei algum treino em arte marcial, mas não cheguei a me dedicar a sério. Até que, em 1984, eu fui para os Estados Unidos fazer intercâmbio cultural, em Detroit, e lá eu conheci o Taekwondo. Comecei a treinar e virou uma grande paixão, uma coisa que realmente eu queria fazer pelo resto da vida. Eu tomei mesmo aquilo como algo que seria minha profissão por muito tempo. E naquela época eu já sonhava em fazer cinema. Isso era década de 80, pensar em fazer cinema, o tipo de cinema que eu queria fazer, no Ceará, na década de 80, era um tanto quanto inconcebível até sonhar com isso. E aí comecei a ir para os Estados Unidos, para fazer treinamento, participar de competições... E eu acabei indo a fundo no Taekwondo, me tornei faixa preta, abri a primeira academia do estado, fundei a Federação de Taekwondo do Ceará, formei vários atletas, fui atleta, fui técnico... E nas idas e vindas para os Estados Unidos, para participar de eventos relacionados a Taekwondo, eu percebi que existia uma relação muito forte entre os atletas e a participação nos filmes de artes marciais. E isso foi minha porta de entrada, foi onde eu vi que eu poderia entrar no cinema por esse caminho, que foi uma grande escola para mim. Depois eu comecei a fazer um trabalho mais voltado para a parte de produção. Eu sou formado em Administração de Empresas e eu vi que a minha formação se encaixava perfeitamente no cinema.

OP – Nessas idas e vindas para os Estados Unidos, já trabalhando com Taekwondo, quando é que você decide fazer cinema?
Halder – Quando eu comecei a fazer esses trabalhos lá em Los Angeles é que eu vi que eu tinha a formação certa para cinema. Administração de Empresas foi muito mais útil, talvez, que se eu tivesse formado em Cinema. Então eu vi que eu tinha um conhecimento teórico daquilo ali, estava tendo a oportunidade de aprender o conhecimento prático, na área de produção e tudo que envolve administração, recursos humanos, logística... tudo relacionado a cinema. E a oportunidade que eu tive de ver diretores trabalhando nesses projetos me deu um outro olhar além da parte da produção, então eu comecei a achar que era hora de pensar em algo mais ousado. E, em 2001, eu rodei meu primeiro filme, (Sunland Heat), meu primeiro longa-metragem. Que foi um grande experimento, um grande laboratório, não só como cinema, mas também como proposta de pensar o Ceará como algo a mais que uma locação para fimes, mas um lugar que tem potencial para realmente ser atrativo para se produzir aqui. Era uma proposta embrionária disso que está acontecendo agora comigo.

OP – Qual foi a primeira vez que você pisou num set de filmagens, lá nos Estados Unidos?
Halder – Foi para fazer trabalho de dublê de lutas. É importante contextualizar o que acontecia na época. Você tinha os filmes de Jean-Claude Van Damme, que era um sucesso nos cinemas, e, naquela época, não existia internet nem DVD, então existia uma janela muito grande entre os lançamentos e os filmes chegarem às salas de exibição. Esta janela era suprida por um nicho de mercado que produzia filmes de artes marciais de baixo orçamento, em VHS, para locadoras do mundo inteiro. Era um nicho muito forte e era onde eu me inseria.

OP – Então você começou a carreira sendo dublê em filmes de ação?
Halder – Sim, em filmes de artes marciais.

OP – Dublê de quem, por exemplo?
Halder – Era dublê de lutas, que a gente chama de stunt fighter. Não era dublê de outra pessoa. É o cara que entra na cena para dar porrada, levar porrada, para morrer, para se dar mal, para o ator aparecer bem. Por exemplo, numa briga de bar. O cara chega no bar, tem aquela ruma de arruaceiros lá, e ele dá porrada em todo mundo. Eu era um daqueles que levava a porrada, que o cara quebra o pescoço... É o trabalho de stunt fighter.

OP – Você ficou quanto tempo fazendo este trabalho?
Halder – Entre idas e vindas, fiquei uns dois anos. Depois eu entrei na área de produção, queria ver esse outro lado.

OP – Quando você mudou para os Estados Unidos?
Halder – Eu nunca mudei de vez, eu nunca abri mão de morar aqui. Eu sempre morei aqui. Eu passo temporadas lá. Entre idas e vindas, o tempo mais longe que eu já fiquei foram seis meses. Nunca quis ir embora, eu gosto muito daqui e sempre vi que eu não precisava ir embora para fazer as coisas acontecerem. Na contramão de tudo, na contramão da lógica mesmo do mercado, na contramão da lógica de uma carreira que você tenta ter sucesso, e no mundo artístico na maioria das vezes você tem que ir embora. Mas eu sou cabeça dura e insisti em algo que todo mundo dizia que não iria dar certo. Porque eu posso ir para lá e aprender o que for para aprender. Eu só tinha duas possibilidades: ou eu criava um mundo em que eu pudesse me inserir ou então eu tinha que ir embora, para me inserir num mundo alheio.

OP – Como foi a recepção ao projeto do Sunland, seu primeiro filme?
Halder – É difícil você apresentar uma ideia onde eu não tinha nem um trabalho de diretor, nem um trabalho de produtor. Eu tinha muita vontade de fazer, tinha muita determinação. Eu tinha um foco, que a arte marcial me dava, que pouca gente tem. E sempre soube onde é que eu queria chegar e sabia todas as etapas que eu tinha que cumprir. E fazer meu primeiro filme fazia parte disso. E começar por um longa-metragem mais ainda. Quando eu decidi fazer cinema, eu não comecei fazendo faculdade cedinho... Não, eu estava mudando de profissão. Eu tinha minha academia muito bem sucedida, uma das melhores do País, e eu sabia que estava fazendo uma transição para uma outra profissão extremamente competitiva e arriscada. Então, eu não queria fazer três ou quatro curtas para depois fazer um longa. Vamos começar logo dando um bico na canela, vamos começar logo pelo longa. E, obviamente que isso aí, provoca uma desconfiança muito grande no mercado. Como é que você vem de outra área e já quer começar pela porta da frente? E teve um certo preconceito também, porque você vem da luta. As pessoas acham que lutador não tem capacidade para fazer um filme... As pessoas ignoram a inteligência da luta, entendeu? E a luta é uma das coisas que proporcionam mais atividade cerebral. Você tem que pensar em mil coisas na velocidade da luz, para tomar decisões. Então, tinha essa desconfiança, mas eu sabia que era o processo, que eu iria passar por isso. E fiz o filme, com pouquíssimos recursos. Mas, independente das limitações que ele teve, de conhecimento meu, de inexperiência da maioria de nós, é um filme que conseguiu atender a proposta que ele tinha, que era um filme que conseguisse uma distribuição internacional.

OP – Depois do Sunland veio o Astista (contra o caba do mal), que vai numa direção totalmente oposta. No Sunland você faz um filme de ação para o mercado, totalmente mainstream e no Astista você vai para um curta-metragem que fala do interior do Ceará. Como é que se dá este ‘cavalo de pau’?
Halder – É, de fato, um cavalo de pau. Veja bem, eu vivo as coisas muito intensamente. Eu poderia muito bem fazer um filme sobre surfe amanhã, porque é uma coisa que eu adoro desde pirralho e um dia ainda vou fazer. Eu quero fazer um filme sobre pintura, que é uma coisa que eu tenho uma paixão absurda. E vou fazer, já tenho o roteiro pronto. Por gostar muito de futebol, eu fiz um documentário sobre futebol. Então, dentro dessas várias vidas que eu vivo intensamente vem a forma de pensar no meu cinema também. E O astista contra o caba do mal vinha de memórias do interior onde eu vivi, desse cineminha que eu conheci. E ele trazia uma proposta de falar, com a linguagem de cinema, desse senso de humor diferenciado que a gente tem aqui, né? A gente vive sempre over, num estado de humor alterado para o lado da curtição, de tirar onda... A gente realmente tem esse espírito da molecagem saudável. E eu vivo muito isso. Eu sou um cara que brinca muito, eu tiro muita onda com todo mundo, dou liberdade também... Então, eu quis ir por essa vertente. Mas também já era algo..., não quero dizer visionário, mas pensando no mercado também. Pô, Renato Aragão fazia os filmes dele, eu ia para o cinema assistir e achava muito bacana; você vê os nossos humoristas ocupando esses espaços, então a gente tinha uma pegada humorística que se comunicava muito bem em todo lugar, mas o nosso cinema era sempre muito triste. E, embora todo mundo passe por percalços na vida, eu sempre vi o mundo de uma forma divertida. Eu queria fazer um filme que contasse isso, que retratasse as memórias através desse olhar mais lúdico. Aí veio exatamente O astista contra o caba do mal, que depois de feito eu sabia que era um recorte de algo muito maior que eu queria contar. Mas aquele recorte serviu de um grande laboratório para eu saber como aquilo ali se comunicava. E foi onde o filme me apresentou dados muito interessantes para vir a fazer o longa-metragem.

OP – Você acha que começou a ganhar respeito com O Astista?
Halder – Eu acho que sim. As pessoas viram que eu não estava no set para brincar. Que meu cinema não era sorte de principiante. Eu tinha muita consciência do que eu estava fazendo. E O Astista foi um filme premiadíssimo, teve ótimas críticas, teve uma carreira interessantíssima. Virou filme cult, virou assunto acadêmico, virou ferramenta de palestra para empresários... Então, ele me apresentou a este outro olhar, que era o respeito da crítica, o respeito dos profissionais da área. E ele veio, de certa forma, chancelar um olhar mais respeitoso do ponto de vista artístico. Comercial, eu já tinha de certa forma.

OP – Como surgiu a ideia de transformar O Astista em Cine Holliúdy?
Halder – Foi interessante, o filme começou a fazer muito sucesso em festivais e onde ele passava tinha uma receptividade muito boa do público, eu vi que ele se comunicava muito bem em qualquer lugar. E ele começou a fazer muito sucesso aqui, eu o disponibilizei na Distrivídeo, na prateleira de curtas cearenses, e ele começou a bater grandes produções americanas. E de repente ele bateu Matrix. E eu: “Como diabo é que esse curta-metragem está batendo esses filmes todos?”. E aí começou a martelar na cabeça o pessoal falando: “Por que você não faz um longa?”, “Por que não faz um parte 2?” As pessoas ficavam me cobrando isso aí e eu sabia que tinha elementos para isso. Em 2005, quando o filme passou no Festival do Rio, quando terminou a exibição, a Ana Maria Baiana, que na época era casada com o José Emílio Rondeau, eles chegaram e falaram: “Você tem que fazer uma versão longa desse filme. Esse personagem é muito forte, esta história é muito boa, é um universo muito rico” . E eu: “Rapaz, se vocês estão dizendo um negócio desses é porque é de vera...”(risos). E aí de repente tudo aquilo que as pessoas ficavam falando fez sentido. Quando eu voltei do Festival, eu meio que entrei num frenesi de escrever e fiz o primeiro tratamento do roteiro do longa em 48 horas. Isso foi numa época que apareceu o edital do Minc para B.O. (filmes de baixo orçamento). E eu resolvi testar o roteiro, mesmo sendo só o primeiro tratamento. Aí, de repente, ele ficou entre os 10 finalistas, onde cinco ganhavam o prêmio e os outros cinco eram suplentes. E eu fiquei em sexto lugar.

OP – Quase!
Halder – Quase. Mas tem horas que o quase é melhor não ser, porque não estava maduro ainda para ser. Mas aí eu senti que realmente tinha alguma coisa interessante ali e decidi lapidar o roteiro, comecei a trabalhar e trabalhar nele. Mandei uma segunda, de novo fiquei na mesma posição, sexto. Quase de novo! Aí mandei uma terceira vez e o bicho não avançou. Aí você fica se questionando: “Será que tem alguma coisa errada? Será que o que eu fiz foi piorar o roteiro?”. Aí eu lapidei um pouco mais, não tinha mais muito o que mexer, e no ano seguinte ele ficou em primeiro lugar geral. Isso foi 2009, eu rodei em 2010. Ele ganhou no mesmo ano que o Kleber (Mendonça Filho) ganhou com O som ao redor (filme indicado pelo Ministério da Cultura na última sexta-feira para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro).

OP – Quando ele ficou pronto?
Halder – Ele ficou pronto em maio de 2012. Como era um filme muito autoral, que eu queria ousar e fazer uma série de coisas que talvez se ele fosse feito com um investimento privado eu não tivesse a liberdade que o filme pedia. Por isso que eu insisti quatro anos no edital com ele, para fazer do jeito que eu queria, e que deu certo. Aí começou uma trajetória interessante com ele. Ele é um filme que foi muito rejeitado pelos festivais. Ele não foi selecionado para a mostra competitiva do Cine Ceará; não foi selecionado para a competitiva de Gramado; não foi selecionado para a competitiva do Rio, de Brasília, do Festival do Amazonas...

OP –Ele passou em alguma competitiva?
Halder – Competiu. Onde ele competiu ganhou quase tudo. Onde deixaram ele competir. Deixaram ele competir na Mostra de Petrópolis, ele levou júri popular. Competiu agora em Triunfo, ganhou júri popular também. Mas os grandes festivais não selecionaram. Houve uma miopia geral.

OP – A que você credita essa miopia? Preconceito?
Halder – Eu não sei se chega a ser preconceito, sabe? Eu diria que é miopia mesmo. De você, de repente, se deparar com algo, ver que tem algo diferente ali, e você não saber o qué essa diferença. Você não saber enxergar que tem alguma coisa que quebra aquela linha que você está sempre programado para ver. Talvez essa ousadia que o filme tem, do texto, da história muito particular, tenha sido a razão dessa miopia.

OP – Como você recebeu os elogios públicos do Fernando Meireles?
Halder – Foi uma surpresa. Sabe o que acontece no meu trabalho? Se você pegasse esse mesmo meu filme e quem assinasse fosse um diretor badalado, sei lá, o José Padilha, o filme não teria problema nenhum, era tudo perfeito. Mas como eu assino o filme, meu filme tem problema de montagem, meu filme tem problema de som, meu filme tem problema de fotografia, meu filme tem problema de tudo, é um aleijado meu filme, todo deficiente o bichinho (risos). E eu lido com isso na minha carreira há muito tempo, é como se... Eu vou fazer uma referência nas artes plásticas, eu gosto muito de pintura, então... Você pega o Picasso, Picasso teve sua formação acadêmica e fez quadros belíssimos em sua fFse Azul e foi desconstruindo até o Cubismo. Ninguém olha para um Picasso: “Égua! Essa mulher tá com um olhão torto! Que olhão é esse? Coisa feia!”. Não, ele fez daquele jeito porque ele quis fazer daquele jeito, sabe? Quando eu faço as coisas do meu jeito, as pessoas sempre tendem a achar que está mal feito. E de repente vem Fernando Meireles e fala que o filme tem uma cena antológica, que tem uma cena que deixaria Chaplin de boca aberta, e que o ator é um gênio. É o Fernando Meireles quem está dizendo. Não tenho mais nada para dizer, podem dizer o que quiserem agora (risos). E logo depois veio o Cacá Diegues, que fez vários elogios incríveis ao filme. Pô, é o Cacá Diegues, o cara fez Bye Bye Brasil! (risos).

OP – Em 12 anos de carreira, você conseguiu chegar onde imaginava?

Halder – Cinema é tudo tão subjetivo, tão abstrato que a gente nunca consegue projetar algo tão concreto. Eu poderia dizer que eu fui até além, muito além do que eu imaginava. Embora meu objetivo fosse esse, chegar um dia onde eu tivesse o poder de apresentar projetos e esses projetos serem bancados sem eu ter, necessariamente, que ir atrás do dinheiro, que é a parte mais desgastante. Era algo que eu sonhava com isso um dia, esse era meu objetivo, exatamente o que está acontecendo agora.

Fonte: O Povo
Última atualização: 23/09/2013 às 09:18:49
 
Versão para impressão Diminuir tamanho das letras Voltar Página inicial Aumentar tamanho das letras
 

Comente esta notícia

Nome:
Nome é necessário.
E-mail:
E-mail é necessário.E-mail inválido.
Comentário:
Comentário é necessário.Máximo de 500 caracteres.
código captcha
Código necessário.

Comentários

Seja o primeiro a comentar.
Basta preencher o formulário acima.

SINDICATO DOS BANCÁRIOS DO CEARÁ
  

 

Android cihazlariniz icin hileli apk indir adresi artik aktif bir sekilde hizmet içerir.
seks sohbet yapabileceginiz birbirinden guzel bayanlar telefonun ucunda sizleri yorumu. Üstün hd seks porno videolari itibaren bulunmakta.
Kayitli olmayan kileriler bilinmeyennumara.me isim soy isim sekilde sms ile bilgilendir.
Profesyonel ekip davul zurna istanbul arayan kisilerin kesinlikle kiralama yapabilecegi en guzel sitesi. Programsiz ve basit mp3 müzik programı sizler icin sitemizde bulunmaktadir.

Rua 24 de Maio 1289 - Centro - Fortaleza - Ceará CEP 60020-001 (85) 3252 4266/3226
9194 - bancariosce@bancariosce.org.br

 

porn izle - sohbet telefon - sohbet hatti - porno - porno film
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
  www.igenio.com.br