Com uma de suas esculturas-árvores, o artista José Bento integra a exposição "Trajetórias", na Unifor
Entre os núcleos constitutivos da exposição "Trajetórias - A arte brasileira na Coleção Fundação Edson Queiroz" está o "Natureza", com obras dedicadas a paisagens e temas relacionados a esse universo.
Quase no meio do salão, próximo à entrada, a escultura em madeira de uma árvore dá as boas-vindas aos visitantes. É o trabalho que representa o artista baiano (mas criado em Minas Gerais) José Bento na mostra.
Sem pintura (apenas o pigmento natural da matéria-prima), a peça integra uma famosa série do escultor, realizada por ele há mais de 20 anos. Traz a representação do elemento que lhe dá nome. "Árvore", em diferentes tamanhos e tipos de madeiras - com tonalidades distintas, mais claras ou escuras.
Destaca-se o formato da peça: a figura vegetal aparece esculpida sobre um bloco quadrado, como se este fosse sua base, na qual se fincam as raízes. Contraste entre formas da natureza e outra geométrica, criada pela razão humana.
Carreira
Nascido em 1962, na Bahia, com apenas quatro anos José Bento Franco Chaves já estava em Minas, para onde a família se mudou. Autodidata, iniciou sua produção artística com palitos de dente e picolé - materiais com os quais criou uma série de ambientes e cenas em miniatura entre os anos 1981 e 1988. Expõe parte dessas peças no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, em 1989. Nesse mesmo ano, realiza pequenas caixas de madeira e vidro em cujo interior desenha com mercúrio.
Uma das primeiras peças com palitos foi "A casa do arquiteto", espécie de maquete de fachada em miniatura, feita com palitos de picolé. Assim como ele, à época outros trabalhos de José Bento seguiam uma proposta figurativista, narrativa. Outro bom exemplo é "Ping-Pong" (1981/1982), que capta a velocidade e a trajetória de uma bola em um ambiente estático.
O figurativismo foi quase totalmente abandonada quando o artista começou a trabalhar com madeira de lei, oriunda de enormes troncos, muitas vezes de árvores seculares, recolhidos na região da Mata Atlântica entre Minas Gerais e Espírito Santo (sempre dentro dos processos legais).
A partir da madeira dela vieram outros materiais como granito, nylon, metal até fotografias e vídeos com animais (destaque para a série com cobras) e experiências com som - quase sempre dentro de uma perspectiva mais "escultórica", não puramente figurativa.
Em 1990 e 1991, desenvolve "A Roda", trabalho que se distancia das obras anteriores e impulsiona sua participação em diversas exposições coletivas no Brasil.
A peça é composta por bastonetes de madeira justapostos e ligados por fios de nylon, que, enrolados em espiral, constituem um disco de cerca de um metro e meio de altura. Desenroladas, as ripas de madeira formam uma fita que se desdobra em suaves ondulações no espaço.
À época, recebeu o Prêmio Brasília de Artes Plásticas no 12° Salão Nacional de Artes Plásticas (1991-1992), no Rio de Janeiro. Em 1993, realizou mostra individual na Casa Guignard, na cidade de Ouro Preto (MG).
Segundo já declarou em entrevistas, um plano para determinada peça ou série pode mudar completamente a partir de sua realização formal, concreta (ou mesmo ser abandonado). Assim como um mesmo material pode "clamar" por diferentes formas de trabalho, de interferência.
Estéticas
Para José Bento, a escultura é um "espaço vivo", intimamente relacionada ao conceito de ritmo. Muitas das obras do artista apresentam proposta essencialmente plástica, e impressionam pela diversidade de estéticas - ora delicadas e polidas, ora de aspecto rústico e mais orgânico, pequenas ou em escala monumental.
A série de esculturas-árvores, no entanto, reaproxima-se mais do figurativismo, ao mesmo tempo em que se sobressai pela própria contradição: nos blocos de madeira são talhadas as árvores em sua forma original, tombada para ceder matéria-prima à obra.
Referências
Desde criança, com o apoio da família, Zé Bento frequentava cursos infantis de arte. Já adulto, sua formação foi basicamente autodidata. Antes de passar para a escultura, dedicou-se ao desenho.
Entre suas referências estão nomes como o do romeno Constantin Brancusi (que também trabalhou com madeira) e dos brasileiros Tunga, Nélson Félix, Waltercio Caldas e Sérgio Camargo.
Possui obras em acervos de importantes instituições brasileiras como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Instituto Cultural Itaú de São Paulo, Museu de Arte da Pampulha em Belo Horizonte e Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro.
Mais informações
Exposição "Trajetórias - A arte brasileira na Coleção Fundação Edson Queiroz". Até 8 de dezembro, no Espaço Cultural Unifor (Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz). Visitação: de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h; sábados e domingos, das 10h às 18h. Gratuito. Estacionamento no local.
Contato: (85) 3477.3319
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