Manifestações populares do interior cearense são a essência de “Interior”, novo espetáculo do Bagaceira
O projeto foi inscrito em 2010, período em que o próprio Bagaceira de Teatro se redefinia. É deste ano o espetáculo “InCerto”, em que cada integrante discutia seu fazer teatral. “Interior”, o novo projeto do grupo, que chega a Fortaleza nesse fim de semana, traz no bojo a vontade de fazer essa mesma pergunta a outras pessoas: “Por que você faz arte?”.
E não só a companheiros de labuta, da cena teatral de Fortaleza, mas perguntar aos estranhos, aos que estão na margem, a 10km de distância da BR-116, entrando pela estrada de terra vermelha. A quem não tem nenhum mecanismo de auxílio – nem pra viver, quem dirá para fazer arte.Assim surgia a circulação do grupo pelos municípios de Tauá, Icó, Beberibe e Itarema. “Passamos três meses nos apresentando no interior paulista e percebemos que estávamos passando mais tempo fora do Ceará do que na nossa casa. A ideia era, portanto, conhecer mais da nossa cultura. Para isso, o Oswald Barroso foi essencial. Ele nos indicou seis cidades e, delas, tiramos as quatro, limite permitido pelo projeto”, explica o produtor e ator do grupo, Rogério Mesquita.
Em Tauá e Icó, o grupo entrou em contato com outras companhias teatrais; em Itarema, conheceram mais do reisado, dos caretas e dos tremembés; e em Beberibe, aprenderam com as dramistas. “A gente chegava nas rádios locais e eles perguntavam o que a gente tinha vindo ensinar. E a gente dizia que não, era o contrário. Fomos aprender. Não havia essa intenção de catequese, da capital para o interior”, detalha Mesquita.
Conversa
Com tantas experiências na bagagem, ficou difícil definir o que levar para o palco. Para tanto, acabaram contando com a ajuda do ator francês Maurice Durozier (do Théâtre du Soleil), que lhes apontou a perspectiva de partir da figura da avó, a referência afetuosa e ligada às tradições que temos mais perto de nós.
Pensando nisso, o Bagaceira leva ao palco, mais uma vez, um cenário que confunde ator e espectador, assim como em “A mão na face”. “Dessa vez, é ainda mais perto. As personagens ficam na arquibancada, sentadas com as pessoas”. E, nelas, trava-se uma conversa de pé do ouvido, com afeto, canto e rapsódias típicos de uma tarde na casa da vó.
“O enredo é o seguinte: são duas senhoras, uma é a vó e a outra é a neta, mas ambas centenárias. Elas insistem em não morrer. As duas já cruzaram gerações e sabem de tudo da vida. Elas contam causos, cantam, como as dramistas que conhecemos, e implicam uma com a outra. É divertido e singelo”, detalha Rogério.
Reconhecido por suas caracterizações, próprias do trabalho de Yuri Yamamoto, o grupo, naturalmente, volta a investir nelas. Em “Interior”, as duas senhoras são caracterizadas por vestimentas que orbitam entre o tradicional e o moderno. “São vestidos de chita, mas usados com tênis, por exemplo”, acrescenta o produtor. Além disso, os atores sobem ao palco com máscaras distorcidas, segundo Rogério, uma homenagem às máscaras dos caretas.
“Interior” estreou primeiro nas quatro cidades do projeto para só então chegar a Fortaleza. “Nada mais certo do que apresentar primeiro lá. Em Beberibe, por exemplo, foi muito emocionante, por que as dramistas estavam na plateia e elas cantaram as músicas junto com os atores”, recorda.
O espetáculo fica em cartaz aos sábados e domingos de outubro e novembro na Casa da Esquina, sede do grupo, no bairro Dionísio Torres. A capacidade máxima por sessão é de 60 pessoas.
Mais informações:
“Interior”. Sábados e domingos de outubro e novembro – Casa da Esquina (R. João Lobo Filho, 62 – Dionísio Torres) Ingressos: R$ 20 (inteira) e 10 (meia). Contato: Rogério Mesquita (85) 8672.0555
Bagaceira com os dois pés na linguagem audiovisual
Recentemente, foi lançado nas redes sociais o videoclipe da música "Canção de Amor", de Daniel Groove (disponível no conteúdo extra), gravado em parceria com o Bagaceira de Teatro.
O espetáculo "O Realejo", do grupo Bagaceira de Teatro, lançado em 2005, foi a inspiração para o clipe da música "Canção de Amor", de Daniel Groove
Para compor o vídeo, o ex-vocalista da banda cearense O Sonso escolheu recorrer aos bonecos usados pela companhia no espetáculo "O Realejo".
"O Daniel tinha visto a peça em 2005, durante o Festival de Teatro de Guaramiranga. Aí, na época, veio falar com a gente, disse que tinha gostado muito... Agora, com a ideia do clipe, ele lembrou do espetáculo", detalha o produtor do Bagaceira Rogério Mesquita.
Para a gravação, Daniel Groove, os diretores Yuri Yamamoto e Gustavo Portela, além do elenco de "O Realejo" (Ricardo Tabosa, Rogério Mesquita e Samya de Lavor), levaram uma manhã inteira no Teatro Sesc Emiliano Queiroz. "O resultado ficou muito bonito. Acabaram sendo usadas muitas cenas originais do espetáculo", comenta Mesquita.
O vídeo, pelo visto, entra para o currículo audiovisual do grupo Bagaceira, que desde a circulação do projeto "Interior" vem experimentando essa outra linguagem. "Nesse ano, um projeto nosso foi aprovado no Laboratório de Audiovisual TV da Escola Porto Iracema das Artes. É o ´Inferninho´, que vamos desenvolver sob a tutoria do pessoal da Alumbramento Filmes. É que o grupo é assim, inquieto mesmo, gostamos de experimentar", revela o produtor.
Segundo Mesquita, em dezembro deste ano o grupo deve lançar, pelo projeto da Escola Porto Iracema das Artes, seu primeiro curta-metragem.
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