Exposição "Trajetórias - Arte brasileira na coleção Fundação Edson Queiroz", tem núcleo dedicado às crianças
Por ocasião do Dia da Criança, comemorado em 12 de outubro, o Caderno 3 traz um dos núcleos da exposição "Trajetórias - Arte brasileira na coleção Fundação Edson Queiroz", dedicado exclusivamente à temática dos pequenos.
Batizado "Crianças", o núcleo traz pinturas realizadas em diferentes períodos e com estéticas bem distintas - sempre sob o tema da infância. Estão presentes na seleção os artistas Daniel Senise, Décio Villares, Milton Dacosta (todos nascidos no estado do Rio), Almeida Júnior, Cândido Portinari, (RJ) e José Pancetti (nascidos em cidades de São Paulo).No caso de trabalhos mais figurativistas, também é possível perceber crianças inseridas em contextos diversos. Os trajes quase adultos da menina de Villares ("Jovem com chapéu", 1920), por exemplo, indicam uma origem burguesa.
Oriundo de família tradicionalmente política, Décio Villares (1851-1931) era filho de vereador. Aos 17 anos, ingressou na Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Para sua formação, foi importante ainda o período vivido na Europa, onde chegou a ser premiado no Salão de Paris. Na capital francesa, aderiu aos ideais republicanos. Regressou ao Brasil em 1881.
Já a boina do menino de Almeida ("Menino com boina azul", 1895) lembra a figura do mascate, que pode sinalizar uma iniciação precoce no mundo do trabalho. Ambos são retratos de maneira fiel à realidade.
Almeida Júnior (1850- 1899) é frequentemente aclamado pela historiografia como precursor da temática regionalista. Introduziu temas até então inéditos na produção acadêmica brasileira, como personagens simples e anônimos e a cultura caipira.
Ícone
Ainda na seara do figurativismo, mas com outra técnica (na qual as pinceladas resultam em imagens menos realistas), há os trabalhos de Cândido Portinari ("Futebol em Brodowski", 1958) e José Pancetti ("Marinha, Cabo Frio", 1946).
Nome fundamental do modernismo brasileiro, Portinari (1903-1962) é considerado um dos artistas mais prestigiados do País, tendo alcançado significativa projeção internacional ao longo da carreira.
Filho de imigrantes italianos, nasceu em dezembro de 1903, numa fazenda nas proximidades de Brodowski, interior de São Paulo. A cidadezinha serviu de inspiração para a mencionada tela, na qual crianças aparecem jogando.
Embora não tenha completado os estudos formais, Portinari desde cedo revelou aptidão artística. O ponto de partida foi aos 14 anos, quando pintores e escultores italianos que restauravam igrejas passaram pela região de Brodowski e o recrutaram como ajudante. A mesma origem italiana foi compartilhada por José Pancetti (1902-1958), nascido em uma família humilde de imigrantes da Toscana. Aos onze anos, é levado com uma das irmãs para a Itália, onde passa a viver sob os cuidados de um tio e dos avós.
Aos 18 anos, com dificuldades de subsistência, é reenviado ao Brasil pelo consulado. Alista-se na Marinha de Guerra, onde trabalha como pintor de cascos, tendo sido esse o passo inicial de sua carreira.
Geometrismo
Outra estética, de formas ainda mais afastadas da realidade e claramente inspiradas no geometrismo do Cubismo é percebida no quadro de Milton Dacosta ("Cabeçudo", 1950). Pintor, gravador e ilustrador (1915-1988), aderiu ao abstracionismo geométrico a partir da década de 1050.
Por fim, o núcleo apresenta um quadro do carioca Daniel Senise (Sem título, 1996), de geração mais recente e único ainda vivo do grupo (hoje com 58 anos). A obra destaca-se pela exploração de texturas - a única figura presente é a de uma criança, em contornos rudimentares.
Senise ficou conhecido pela participação na exposição "Como vai você, Geração 80?", realizada em 1984. Foi aluno e professor na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
Mais informações
Exposição "Trajetórias - Arte brasileira na coleção Fundação Edson Queiroz". Até 8 de dezembro, no Espaço Cultural Unifor (Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz). Visitação: de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h; sábados e domingos, das 10h às 18h. Gratuito. Estacionamento no local.
Contato: (85) 3477.3319
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