Com a temática “Heróis da fé: promotores da vida e da cultura”, o Evangelizar Dom Bosco acontece pelo sexto ano na Capital. A estimativa é atrair 1,8 milhão de pessoas para o aterro da Praia de Iracema a partir das 12 horas deste sábado. As atrações da festa católica são Elba Ramalho, Dunga, Frei Jurandir, Ítalo e Renno, Isaías Luciano, padre João Carlos e padre Reginaldo Manzotti, que preside a missa a partir das 18 horas e conduz um momento de adoração ao Santíssimo Sacramento.
Além da fé, o evento busca promover a solidariedade, como na parceria com o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) através da campanha “Evangelizar é doar de coração”. Doações de alimentos não perecíveis serão encaminhadas a oito instituições: Movimento Emaús Vila Velha, Centro Educacional Piamarta, Escola Irmã GiulianaGalli, O Pequeno Nazareno, Instituto FilippoSmaldone, Centro Juvenil Dom Bosco, Lar Amigos de Jesus e Casa Família Mãe de Ternura.
Em mais uma passagem por Fortaleza, o padre Reginaldo Manzotti apresenta músicas do novo CD “Faça-me crer”, que conta com a participação de Luan Santana e do Neguinho da Beija-Flor. Em conversa com O POVO, o sacerdote falou sobre a missão de evangelizar.
OP – O tema do VI Evangelizar dialoga com a ação social dos católicos e com a passagem bíblica que alerta para uma fé viva através das obras. Qual a importância desta mensagem da fé que cuida também dos outros?
Pe. Reginaldo - Eu tenho receio de uma religiosidade muito intimista, no sentido de que a pessoa fica preocupada só com as suas dores, só com os seus problemas. Parece que religião é estar bem consigo mesmo. Não. Religião é religare (do latim). É ligar com Deus, mas é ligar com o próximo naturalmente. A Igreja está exatamente pedindo que ela possa abrir as portas e ir ao povo. Eu tenho muito receio também de uma religião vista como crença. Nós não somos uma crença, nós somos uma religião de uma pessoa: Jesus Cristo. Isso nos coloca em missão. A Igreja nasce missionária. Então o que esperamos do Brasil? Nós esperamos cristãos comprometidos. E até ouso dizer que mais católicos devem se envolver no mundo da política. Eu digo isso em sintonia com a Igreja. Nós não podemos ter aquele estereótipo inadequado de que política é algo sujo. Primeiro não vamos generalizar: existem pessoas muito boas. Mas é preciso colocar luz nesse meio. Porque as maiores decisões acontecem no âmbito político. Então nós precisamos ter católicos conscientes. E descruzar os braços.
OP - Como é o trabalho desenvolvido pela Associação Evangelizar é Preciso, fundada em 2005 e com associados em todo o Brasil?
Pe. Reginaldo - É uma obra que me deixa muito feliz. Primeiro porque estamos dando passos grandiosos na ação social. Fizemos uma parceria com a Pastoral da Criança. Nós praticamente sustentamos dez mil crianças por mês. Estamos também com a creche Santa BertilaBorscardin (em Curitiba). E temos uma ação personalizada muito grande, com construção de casas e reposição de atendimento aos doentes. Isso é um diferencial muito significativo. Na evangelização, estamos com 1.400 emissoras de rádio e 166 emissoras de TV que recebem nossos programas. Eu olho para o ano de 2014 e vejo perspectivas muito grandes na reabilitação do ser humano, de forma concreta na caridade, e também na evangelização. Precisamos agora digitalizar as nossas formas de evangelização, oferecer conteúdo com qualidade.
OP - Isto está em consonância com o que o Papa Francisco pede da Igreja, com o espírito mais moderno para acompanhar a realidade dos fiéis?
Exatamente. Não adianta ficarmos respondendo perguntas antigas. Elas já foram respondidas. Nós temos que ouvir as novas perguntas, feitas pelos jovens, pelos casais. Perguntas que nos incomodam porque não temos a receita. E sou mais ousado: às vezes nós não sabemos nem a resposta. A primeira coisa é: vamos curar as feridas. Segundo: vamos repensar a nossa presença no mundo. Acredito que o Papa, quando começou a reunião do “G8” no começo de outubro, remodelando a Cúria, não quis só uma reforma estrutural. Ele está entregando assuntos e perguntas novas para que novos teólogos estudem. Eles estão avaliando, balizando como a Igreja vai se posicionar. Eu me preocupo se vai haver uma frustração. Eu tenho a impressão de que há um equívoco. As pessoas acham que a Igreja vai abrir as portas para tudo e vai aceitar tudo. Calma! A Igreja tem como missão a acolhida e o respeito. Mas aquilo que é valor vai ser mantido.
OP- Isso se torna um desafio quando você precisa falar para multidões. Muitos vão pela curiosidade e talvez não gostem de escutar certos aspectos da doutrina. Como você lida com esse público heterogêneo mesmo em eventos católicos?
Pe. Reginaldo - Tem muitos evangélicos e espíritas que me escutam. Muita gente que às vezes não concorda com algumas posições da Igreja. Mas a minha atitude primeira é de diálogo. Eu escuto tudo. Em segundo lugar, é de acolhimento. Terceiro: eu tento mostrar à pessoa, oferecer para ela um pouco de luz divina na fragilidade da vida humana. Eu tento. Mas a decisão sempre é da pessoa. Então é uma atitude da Igreja, interessante perceber, que é você não violar a liberdade. Mas você oferece algo. Em Fortaleza, isto aconteceu várias vezes. A pessoa foi por curiosidade, não gostava de mim nem dos meus programas, e de repente lá teve um momento da manifestação de Deus. Ela se abriu para a graça de Deus. O que é isso? Deus agindo.
OP - Em relação à realidade da Igreja no Brasil, quais serão as mudanças que você considera importante?
Pe. Reginaldo - Acredito que precisamos superar um pouco o aspecto da territorialidade da Igreja. É dizer que a minha paróquia começa na rua tal e termina na rua tal. Hoje, a paróquia é muito mais por afinidade do que por território. Outro aspecto faz parte de uma preocupação minha. Na visita do Papa em julho deste ano, eu não sei dizer quantos eram jovens, mas o número final de pessoas era de 3,7 milhões. Pois bem. Cadê os jovens? Eles foram convocados, se mobilizaram nos eventos do “Bote Fé”. E onde estão eles agora? Esse processo de acolhimento dos que foram instigados na Jornada Mundial da Juventude parece que é um desafio muito pertinente e atual.
Serviço
VI Evangelizar Dom Bosco
Aterro da Praia de Iracema
Quando: amanhã, a partir das 12 horas
|