O pesquisador será consultor do Instituto Moreira Salles, que possui coleções raras como a de Tinhorão
A partir do ano que vem, Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, estará dedicado a melhorar a catalogação dos discos de 76 e 78 rpm do acervo do Instituto Moreira Salles (IMS), no Rio de Janeiro. A empreitada não tira o pesquisador da direção do Museu da Imagem e do Som, equipamento da Secretária da Cultura do Estado. Ele será como consultor, emprestando a experiência que tem em gerir o seu próprio acervo, o Arquivo Nirez, com mais de 22 mil títulos.
"Eles têm um trabalho de digitalização dos discos. Está tudo disponível na internet. Mas quando fizeram essa digitalização, deixaram de obedecer algumas regras de catalogação e isso começou a ocasionar reclamações", explica Nirez, sobre o motivo do convite. O IMS possui digitalizado e disponível na internet um conjunto de 28 mil gravações, selecionadas de um total de 100 mil músicas. No site, estão disponíveis ainda acervos fotográficos (ao todo, 550 mil imagens, incluindo fotografias do Brasil império e registros de artistas brasileiros da primeira metade do século XX), literatura (incluindo acervos de escritores como Rachel de Queiroz, Mário Quintana e Clarice Lispector) e artes visuais.Nirez passou a última semana no Rio de Janeiro conhecendo a musicoteca da entidade e discutindo a reformulação com os coordenadores do projeto. "Eles possuem uma coleção especializada em discos de gravação mecânica, feitos entre 1902 e 1927. As duas coleções mais importantes são as pertenciam ao crítico José Ramos Tinhorão, que tem mais de 6 mil discos, e a do pesquisador Humberto Franceschi, que tem por volta de 12 mil", detalha.
Pesquisa
O convite veio após conhecer a coordenadora de música do IMS, Beatriz Paes Leme, no ano passado, que tomou conhecimento do trabalho desenvolvido por Nirez. Ele foi um dos autores da "Discografia Brasileira em 78 rpm (1902 -1964)", publicada em cinco volumes impressos pela Funarte, em 1982. O livro foi escrito ao lado de Alcino Santos, Grácio Barbalho e Jairo Severiano. "Como dois dos autores já faleceram e Jairo Severiano já está em uma idade avançada, restou para mim a tarefa", diz, situando que o livro é uma referência para o trabalho a ser desenvolvido.
O livro utilizou como fonte catálogos das próprias gravadoras e o acervo do Arquivo Nirez, que é considerado um dos maiores do País. Entre 2004 e 2005, Nirez coordenou o projeto "Meio Século de MPB: Disco de Cera", higienizando, catalogando e digitalizando os discos. Os áudios, hoje, estão restritos ao Arquivo Nirez, mas os dados catalográficos foram integralmente disponibilizados para consulta no site do projeto (www.projetodiscodeceranirez.com.br ). "O que motivou esse contrato foi exatamente isso. Eles viram que no site do projeto está fácil acessar as informações, apesar das músicas ainda não estarem no ar".
Nirez adianta que está negociando com a Funarte a disponibilização dos áudios de todo o acervo, que deve ganhar uma página específica para ele na internet. "Eles pretendem fazer uma versão digital do livro ´Discografia Brasileira´ e lançar toda a discografia, incluindo as músicas do meu acervo, na internet", revela.
IMS
O acervo do IMS pode ser acessado pela página do Instituto (ims.uol.com.br), disponível em coleções temáticas - organizadas em sessões dedicadas aos doadores e a artistas da música brasileira como Pixinguinha (que inclui partituras, fotografias, documentos do compositor), Luiz Gonzaga, Elizeth Cardoso, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth. Estão também contemplado no site do acervo, por exemplo, entre as coleções, discos como os que pertenceram ao produtor musical Walter Silva, o pica-pau, que produziu Elis Regina, Nara Leão e foi responsável pelo disco de estreia do Pessoal do Ceará. O acervo inclui fotografias, cartazes de shows que produziu e gravações.
Raridades
Será possível?
Maxixe gravado em 1902 pela Banda da Casa Edison em disco de 76 rpm. Pertence ao acervo de Humberto Franceschi.
Rosa
Versão de Orlando Silva para a valsa de Pixinguinha, já com letra do mecânico Otávio de Souza. A gravação, em 78 rpm, data de 1937, pela RCA Victor.
Aquele chorinho, choro
Gravação de 1942, pela RCA victor, é um dos 22 chorinhos compostos e tocados na sanfona por Luiz Gonzaga, disponíveis em seus registros originais.
Brasilianas
Pertencente ao acervo de José Ramos Tinhorão, a música é uma das gravações lançadas como gênero samba anteriores a "Pelo Telefone", de Donga, que é tratada como o primeiro samba da história. Além desta, cantada por João Geraldo Ribeiro e lançada entre 1908 e 1912, o acervo de Tinhorão traz sambas como "Mineiro Pau", cantado por Arthur Castro, da mesma data.
*O endereço para pesquisa no acervo do Instituto Moreira Sales é http://acervo.ims.uol.com.br
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