A esperada adaptação para o cinema do livro "A menina que roubava livros" estreia em fevereiro, em Fortaleza. A quase novata Sophie Nélisse dá vida à protagonista da trama, uma garota que compartilha a leitura com vizinhos e amigos, em meio aos horrores da Segunda Guerra
A princípio, você pode estranhar ver a abordagem do filme "A menina que roubava livros" na TeenAge, já que a trama apresenta os horrores da guerra, a postura e ações do Terceiro Reich - com sua perseguição aos judeus, entre outros assuntos bem pesados. Mas a história, além de ser protagonizada por dois jovens (os atores Sophie Nélisse e Ben Schnetzer), tem agradado os teens também por ser atrelada a valores universais como amizade, superação, coragem e, principalmente, por relatar o milagre que a leitura pode fazer, inclusive em situações extremas.
O filme estreou nos Estados Unidos em novembro do ano passado e grande parte das críticas elogia o elenco, que recebe o peso dos experientes Geoffrey Rush (no papel de Hans) e Emily Watson (como Rosa), pais adotivos da jovem Liesel Meminger (Sophie Nélisse). Entretanto, há a recorrente observação negativa na mídia especializada de que o clímax da história acontece muito rápido. Várias subtramas também foram deixadas de lado, o que pode incomodar bastante quem leu e gostou da obra do australiano Markus Zusak.
A história
Com cabelos loiros ondulantes e grandes olhos tristes, Liesel Meminger é dada para adoção logo após a morte do irmão. Quando sua mãe comunista e ativista diz não poder mais cuidar dela, Hans e Rosa a assumem como filha. A menina imediatamente constrói laços com seu novo pai, um acordeonista sorridente e divertido. Rosa é mais distante e busca constantemente desculpas para seus ataques de histeria.
No filme, a atriz quase novata atua ao lado do premiado ator Geoffrey Rush. Na trama, eles interpretam filha e pai adotivo/Os atores Emily Watson, Sophie Nélisse e Nico Liersch em cena
Liesel esforça-se para se adaptar, em casa e na escola, onde seus colegas a ironizam porque ela não saber ler. Mas a garota está determinada a mudar isso. O "Papa" Hans ensina o caminho das letras, enquanto a jovem se debruça sobre "O Manual do Coveiro", obra que trouxe do funeral de seu irmão, um ato impulsivo de furto que terá profundas consequências para a heroína.
O amor de Liesel pela leitura e seu crescente afeto pela nova família aumentam quando ela faz amizade com um novo hóspede da casa: Max (interpretado por Ben Schnetzer), um refugiado judeu que também é apaixonado por livros e incentiva a menina a expandir seus poderes de observação, mesmo quando ele se esconde dos nazistas em um porão escuro e úmido.
Também é forte o impacto da amizade da protagonista com Rudy (interpretado por Nico Liersch), um anjo de cabelos claros que idolatra Jesse Owens, esportista americano e estrela dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. Quando o rapazinho é selecionado pelos nazistas para o treinamento militar de elite, ele se rebela e foge com a amiga para um local isolado, onde ambos gritam "Eu odeio Hitler!".
Adaptação
O escopo do romance e sua jovem e triunfante protagonista chamaram a atenção dos produtores Karen Rosenfelt e Ken Blancato, que desde a publicação trabalharam para levar a história para o cinema. "Eu não conseguia parar de ler o livro", confessa Karen. No período da ascensão do Partido Nazista, a liberdade de expressão era tolhida com rigor. Livros foram queimados. "O governo alemão dizia ao povo o que sentir, o que pensar e o que ler. Apesar desses obstáculos aparentemente intransponíveis, a Liesel, ao aprender a ler, consegue ser criativa, pensa por conta própria e não repete as ideias dos outros", completa a produtora.
Um grande passo na realização do filme foi a contratação do roteirista Michael Petroni (de "As Crônicas de Nárnia - A Viagem do Peregrino da Alvorada") para adaptar as 580 páginas. Quando foi procurado, Petroni já era, como ele mesmo diz, "um grande fã do livro". Enquanto o roteiro era trabalhado, a produção começou a buscar um diretor. "Conhecíamos o talento extraordinário de Brian Percival na televisão britânica e sabíamos de sua paixão por esse projeto, então ficamos muito ansiosos para conhecê-lo", diz Elizabeth Gabler, presidente da Fox 2000 Pictures. "O Brian compareceu à reunião com um livro que havia criado, uma série de imagens que descreviam suas ideias para o filme, e nós ficamos extasiados porque tínhamos encontrado o diretor perfeito".
O autor Markus Zusak teve a oportunidade de conhecer o cineasta logo no início do processo, e estabeleceu imediatamente uma boa relação com ele. "Depois da reunião, quando estávamos nos despedindo, Brian se aproximou de mim e disse: ´Não vou decepcionar você´", lembra o autor. "E eu adorei a integridade daquele momento", acrescenta.
Com o sucesso mundial de "Downton Abbey", Brian passou a ser muito requisitado. "Cheguei a receber cinco roteiros por dia, e era impossível dar conta de todos", afirma, "então eu lia as 30 primeiras páginas de cada um e já sabia se o projeto me interessava. Só precisei ler algumas páginas de ´A menina que roubava livros´ para decidir que queria muito fazer o filme", recorda.
"Fiquei muito comovido com o romance. É uma história positiva, encorajadora, e adorei a personagem central, uma moça que não tem nada e não parece ter nenhum futuro, mas não se contenta em sobreviver; ela acha que também precisa progredir".
Além disso, o diretor teve uma identificação pessoal com a história. "Minha origem é bem pobre. Começamos com muito pouco e sempre tivemos o desejo de experimentar e conquistar alguma coisa. No meu caso, eu queria fazer filmes. Depois disso, fui para a escola de arte. Lembro de como me ensinaram a ver, especialmente por meio dos livros, o mundo de forma diferente e, assim, viver a vida de outra maneira. Nesse aspecto, me identifiquei bastante com a Liesel".
Sucesso mundial
O livro
O livro "A menina que roubava livros", de Markus Zusak, vendeu oito milhões de cópias mundialmente, ficou na lista de best-sellers do The New York Times por quase sete anos e já foi traduzido para mais de 30 idiomas. Além disso, ganhou mais de doze prêmios literários, tornou-se o campeão de vendas no Amazon.com, e constou de inúmeras listas de mais vendidos no ano.
A escolha da atriz
Sophie Nélisse
A produção analisou quase mil candidatas para o papel principal. O próprio Markus Zusak teve uma ideia impressionante. Ele havia visto "O que traz boas novas", filme canadense indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012, e ficou encantado pela jovem estrela. Era Sophie Nélisse, cuja atuação conquistou novos fãs, inclusive o autor de "A menina que roubava livros".
Sophie teve que cumprir a formalidade de fazer um teste, mas a produtora Karen Rosenfelt lembra: "Acho que, no fundo, todos nós já sabíamos que ela era perfeita para interpretar a Liesel". Um possível obstáculo que impediria Sophie de se dedicar ao papel se revelou em outra de suas paixões. A menina é excelente atleta e dançarina. Começou a praticar ginástica com três anos de idade e planejava competir nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro quando recebeu uma ligação da sua agente falando sobre o longa.
Ela hesitou porque já estava muito concentrada no torneio do Rio, mas sofreu uma contusão. Então, leu o roteiro, apaixonou-se pela personagem e decidiu se encontrar com os cineastas em Los Angeles para o teste. "Gritei como uma louca quando minha agente ligou para dizer que iria interpretar a Liesel. Fiquei muito feliz, porque adoro aquela história".
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