A ideia inicialdoprojeto é ocupar os espaços já existentes no percurso entre Benfica, Centro e Praia de Iracema
O trajeto começa na Avenida da Universidade: de um lado, o Museu de Arte da UFC e a Rádio Universitária; do outro, a Reitoria, seus jardins e a Concha Acústica. Mais alguns quarteirões e chegamos à Casa Amarela Eusélio Oliveira e ao Teatro Universitário.
Ao cruzar a linha invisível que divide Benfica e Centro, encontramos Arquivo Público, Museu do Ceará, Theatro José de Alencar, Casa de Juvenal Galeno e Cine São Luiz. Descendo ainda mais, finalmente chegamos à Praia de Iracema, passando pela Biblioteca Pública Menezes Pimentel e encerrando o passeio pelo Centro Cultural Dragão do Mar.
Percorrer esse itinerário, visitando e fruindo da vida cultural disponível em alguns desses espaços - já que alguns estão em reforma, outros abandonados literalmente às traças, à poeira e à água da chuva e uns tantos inativos ou com programação esporádica - podia ser considerado, no ano passado ou há cinco anos, atravessar um corredor cultural. A proposta da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult), em conjunto com a Universidade Federal do Ceará e outras instituições públicas e privadas ainda a serem definidas e convidadas, é capitular as iniciais e oficializar uma prática já vigente, sugerindo algumas iniciativas pontuais, pelo menos a princípio.
E assim, 40 anos após a primeira ideia, conforme o secretário da Cultura Paulo Mamede, Fortaleza terá seu Corredor Cultural, com letras maiúsculas. Em 2007, a gestão do secretário Auto Filho também tentou retomar o projeto, sem sucesso.
O Projeto Ocupação - Corredor Cultural afirma oferecer uma programação especial integrando equipamentos públicos e particulares localizados no percurso Benfica-Centro-Praia de Iracema, alegando democratizar o acesso às atividades para fortalezenses e turistas. A ideia da Secult é "articular, agregar e não interferir na programação".
Começo
De acordo com o órgão, a proposta do Corredor Cultural não é impor um modelo de atividades aos estabelecimentos que fechem a parceria com o projeto. Haverá, sim, uma diretriz de programação que estabeleça uma unidade e um diálogo entre os espaços, inclusive trocando circulação de artistas, mas isso ainda será discutido nas futuras reuniões do Núcleo Gestor, a ser formado primeiramente por dois representantes da Secult e dois da UFC, com o objetivo de iniciar as tarefas para viabilizar o começo da programação especial a partir de abril.
Ou seja, inicialmente, o Corredor Cultural trabalhará com um maior sistema de divulgação da agenda já existente e uma política de incentivo à criação e/ou implantação de atividades culturais prioritariamente nos dias de quinta-feira a sábado e um domingo por mês, com fechamento ao trânsito de veículos em parte da Avenida da Universidade para circulação a pé e prática de atividades esportivas.
De acordo com a Secult, esse é um momento de "aglutinação" para "mapear, reconhecer e integrar" os equipamentos e instituições para, no futuro, oferecer uma "programação reforçada". Por agora, a prioridade é ocupar os espaços existentes "aproveitando a vocação natural" de cada um, ou seja, aquilo que já oferecem mesmo antes da implantação do Corredor Cultural.
Graças a isso, os primeiros pontos a serem incluídos no projeto são os geridos pelos parceiros já confirmados: Secretaria de Cultura do Estado e UFC. Prefeitura de Fortaleza (com a qual a Secult já manteve contato sobre o projeto, principalmente para a inclusão da Biblioteca Dolor Barreira), diretores de equipamentos, proprietários de espaços culturais, bares e restaurantes também serão convidados a participar da iniciativa, como os que formam o mini-polo gastronômico do Benfica, o Maracatu Solar, o Teatro Chico Anysio, a Caixa Cultural de Fortaleza e Centro Cultural Banco do Nordeste.
"O que nós vamos fazer é convênios de circulação", destaca Paulo Mamede, secretário de Cultura. Essa política se baseará em dois pontos: diálogo entre equipamentos, como convites para apresentações de artistas nos espaços integrados e programações concomitantes - uma reservada do Corredor Cultural, semanal, concebida e divulgada coletivamente, e outra gerida apenas pela instituição.
Investimento
Com o avançar do projeto, a proposta é também investir em formação de plateia, atividades educacionais e programação por faixas etárias ou categorias específicas, como voltadas para professores.
"Queremos botar para funcionar onde não funcionava", afirma Paulo Mamede, em referência aos espaços onde não há programação fixa ou frequente. Ou mesmo nos locais onde não há nem mais estrutura física adequada para comportar um agenda cultural, como a Biblioteca Pública Menezes Pimentel - cujo acervo histórico enfrenta luz, calor e umidade na luta pela preservação, fora o mofo e o abandono de frequentadores - e o Arquivo Público do Estado - cujo espaço para conservar registros de até três séculos atrás há muito se esgotou.
Por conta disso, a Secult informa que o Governo do Estado está aplicando R$74,2 milhões na reforma do conjunto de equipamentos da pasta. O valor não inclui as obras no Arquivo Intermediário, cujo orçamento está em fase de elaboração, mas já engloba a implantação do Centro de Cultura e Memória Engenheiro João Felipe, que será instalado nos galpões da antiga RFFSA, ao lado da Praça da Estação, e abrigará, dentre outros, a Pinacoteca do Estado do Ceará, o Centro Referencial da Gravura no Ceará e a transferência de endereço do Museu da Imagem e do Som.
Já foram iniciadas as obras no Cine São Luiz (que retornará ao projeto original de cine-teatro), Theatro José de Alencar, Centro Cultural Bom Jardim e Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Em novembro do ano passado o projeto de reforma completa da Biblioteca Pública foi aprovado pela Secult e devolvido ao Departamento de Arquitetura e Engenharia para abertura de licitação. Os reparos devem dotar o equipamento de novas instalações elétricas e hidrossanitárias, climatização e substituição de piso, coberta e revestimentos.
O prazo máximo para conclusão, segundo o prometido, é dezembro de 2014, embora alguns devam estar prontos antes disso. De acordo com Paulo Mamede, as obras no Museu do Ceará e no Arquivo Público já entraram em licitação. O prédio do Museu será restaurado, enquanto o Arquivo será beneficiado com restauração e reforma completa.
Além do valor investido pelo Estado, o Corredor terá reservado pelo Orçamento Geral da União R$ 1 milhão em recursos destinados através de emenda parlamentar do deputado José Guimarães (PT).
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