Paulinho Moska retorna a Fortaleza para apresentação,no formato voz e violão,no Anfiteatro do Dragão
Não sou cantor, não sou músico, não sou poeta, não sou ator, não sou filósofo, não sou apresentador de TV, não sou radialista, não sou jornalista. Sou um compositor, na medida em que "compor" é juntar coisas" - Apesar de se eximir de alguns rótulos e assumir apenas um, a contribuição do carioca Paulinho Moska à música brasileira, seja ela popular ou não, é difícil de negar. A trajetória discográfica, temperada pela pluralidade verde e amarela, pode ser conferida nas noites de hoje e amanhã, no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
Moska é atração do MPB Petrobras e traz um show intimista, em formato de voz e violão. No repertório, canções que marcaram uma carreira de 20 anos ("O Último Dia", "A Seta e o Alvo", "Pensando em Você", "Tudo Novo de Novo") e não se acomodam ou se prendem a gêneros: do MPB vai ao rock, passando pelo samba. O que não foge à regra é a poesia, semente cultivada e germinada desde os primeiros trabalhos, amadurecida em árvore frondosa no último trabalho do artista, o CD e DVD "Muito Pouco".
Após se aventurar na diversificação de suas habilidades, misturando linguagens já amigas a outras novas e descobrindo diferentes formas de expressar-se (seja no conjunto de autorretratos em objetos espelhados nos banheiros de hotéis ou nos encontros com compositores nacionais dentro da série de TV e rádio "ZOOMBIDO"), Paulinho ou Moska, como prefere assinar de uns tempos para cá, chega ao álbum espelhado, mas complementar, com uma percepção ainda mais apurada para a beleza. "Tudo se comunica e se retroalimenta. Fotografar melhora minha poesia escrita, que por sua vez melhora minhas canções", ele acredita.
"Hoje não vejo muita distinção entre minhas práticas, elas funcionam juntas. Muitas vezes encontro soluções para uma observando a outra. São ecos que se entrecruzam e formam meu olhar", explica o artista.
"Muito" e "Pouco"
O último trabalho são dois discos irmãos: "Muito" e "Pouco", cada um com nove faixas. "Muito" é a metade cheia do copo, um grito, como define o próprio Moska, e traz letras mais extrovertidas acompanhadas sempre pela batida da bateria. "Muito pra mim é tão pouco/ e pouco é um pouco demais/ Viver tá me deixando louco/ não sei mais do que sou capaz/ Gritando pra não ficar rouco/ em guerra lutando por paz/ Muito pra mim é tão pouco/ e pouco eu não quero mais", da faixa título do álbum, reflete a visceralidade em vozes e arranjos presentes no lado A. Enquanto isso, "Pouco" é a metade vazia, o silêncio. Eventualmente com alguma percussão, é um som mais leve, caseiro, suave e particular. No show voz e violão, os extremos oscilam. "Adoro (o formato), porque as canções ficam com a poesia bem evidente, explícita. Não tem pra onde correr: as letras saltam na frente dos olhos. O público as escuta do jeito que foram feitas", explica o cantor.
Moska caminha lentamente para um show que seja uma mistura de teatro, cinema, música, poesia, fotografia, filosofia e ciência. "Na minha concepção, um verdadeiro artista só pode ser plural. Se o artista é aquele que se dedica a fazer da sua própria vida uma obra de arte, como ele não seria plural? A vida não é plural?", dispara.
"Não sou um acadêmico, sou um leigo profissional, um metido à besta. Sou uma espécie de 'punk', faço coisas que não sei fazer. Espero que dessa combinação entre tantas práticas diferentes eu encontre minha singularidade". Pelo ciclo contínuo de desconstruir, amadurecer, repensar e então reconstruir, para finalmente reconhecer-se como um compositor de canções vestido em roupas diferentes nelas de acordo com cada momento, não é prepotência dizer: nesse campo, só uma Moska pousou.
Mais informações
Show de Paulinho Moska. Hoje e amanhã, às 21 horas, no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (Rua Dragão do Mar 81, Praia de Iracema). Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia). Contato: (85) 3488.8600
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