Ao entregar seu prêmio aos melhores de 2013, a Academia Britânica, de certo modo,orienta a premiação de Hollywood, em março
Enquanto a Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood, praticamente relegou "Gravidade", de Alfonso Cuarón, a um mero coadjuvante em sua premiação do Globo de Ouro, ocorrida no mês passado, a Associação Britânica de Artes de Cinema e Televisão, em sua festa de entrega do Bafta-2014, ocorrida no último domingo, 17, elevou a coprodução estadunidense-britânica a um lugar de destaque. Foi um reconhecimento ao melhor filme que Hollywood fez em 2013.
Imprensado entre o Globo de Ouro e o Bafta-2014, a Academia de Ciências Artes Cinematográficas de Hollywood tem poucas opções para promover uma premiação "original", digamos assim, a fim de não seguir as mesmas premiações postuladas pelas duas entidades. Neste ano, a Academia dos EUA teve de "empurrar" a sua premiação para o dia 3 de março a fim de fugir da concorrência das transmissões dos Jogos de Inverno, na Rússia.
Apostas
Coisas curiosas aconteceram no Globo de Ouro, que elegeu como os melhores filmes do ano o hollywoodiano "Trapaça", de David O. Russell, e a coprodução EUA-Inglaterra, 12 Anos de Escravidão", de Steve McQueen.
Afora o prêmio de atriz coadjuvante dado a Jennifer Lawrence, que agora também leva o Bafta, "Trapaça" tem poucas chances no Oscar. Mas "12 Anos de Escravidão", que levou um prêmio da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood, mas foi o maior de todos, o de melhor, que igualmente recebe agora o Bafta de Melhor Filme, se torna uma obra altamente fortalecida dentro da Academia. Steve McQueen pode receber a terceira coroa em março.
Os membros da Academia, que ainda estão em período de votação, caso queiram diferenciar as premiações e dar vida própria ao Oscar, terão apenas duas alternativas: retirar do limbo o polêmico "O Lobo de Wall Street", de Martin Scorsese, ou apostar em "Gravidade", de Alfonso Cuarón.
Assim sendo, os membros da Academia têm dois problemas. A obra de Scorsese ganhou certa rejeição da imprensa por seus inúmeros palavrões, ousadas cenas de sexo, consumo de drogas e violência, e ainda por cima é tida como "antiamericana" - como se isso não integrasse a realidade cotidiana e, também, não tivesse ocorrido como pesquisadores e jornalistas estadunidenses a atestam, e cuja história real o site History Hollywood conta em detalhes, garantindo que o único detalhe sem veracidade no filme é a presença do macaco no colo de Leonardo Di Caprio.
Será improvável o resgate, por parte dos membros da Academia, de uma obra odiada por parte da imprensa e do próprio público, que se depararam com situações vistas como degradantes de seu país. "O Lobo de Wall Street" obteve US$ 100 milhões em bilheteria nos EUA, o mesmo de seu custo de produção, e isso pode ser contabilizado por Scorsese como a grande vitória no território norte-americano.
"Gravidade", por sua vez, é outro problema. Como os membros da Academia vão eleger como o melhor filme do ano um de ficção científica, gênero o qual eles historicamente consideram "menor"? A Academia, falando diretamente de seus membros, gosta dos grandes dramas, de história pungentes, tramas envolvendo dezenas de personagens, cenários grandiosos. Nada de enredos futurísticos, viagens espaciais ou astronautas em luta contra computadores ou alienígenas. Certamente, a Academia até reconhece as qualidades de "Gravidade", pois estão lá os mesmos membros que nele votaram na eleição do Sindicato dos Produtores de Hollywood, o qual, surpreendentemente, registrou o empate entre o filme de Cuarón e o de McQueen, mas a tendência natural, em função do exposto acima, será a votação de "12 Anos de Escravidão" como o melhor filme.
Não custa recordar que Cuarón recebeu os prêmios de Melhor Diretor tanto do Globo de Ouro quanto do Bafta e essa repetição é a qual se encaminha para a entrega do Oscar no próximo dia 2.
Por outro lado, seria a oportunidade para a Academia colocar um ponto final na afirmação da imprensa local e internacional de que a Academia detesta, considera "menor" e não concede as estatuetas do Oscar às categorias importantes quando se trata de filmes de ficção científica. Até agora as dezenas de produções que receberam a premiação foram pelas categorias técnicas.
Este é o cenário preparado para a festa do Oscar. A Academia pode seguir o caminho natural já revelado pelo Globo de Ouro e pelo Bafta, ou promover uma grande mudança e quebrar uma história de preconceito e rejeição a tantos anos de escravidão imposto aos filmes de ficção-científica.
Particularmente não acredito na premiação de "Gravidade" para o Oscar de Melhor Filme, embora os dedos já estejam cruzados para que tal aconteça. Ao que tudo indica, duas tríplices coroas estão a caminho de se concretizar na festa do Oscar. A menos que apareçam um lobo incômodo e uma nave espacial desgovernada despencando sobre o Dolby Theatre de Los Angeles.
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