Em “Percursos Urbanos”, ZéTarcísio produz, com pincéis e tintas, crônicas de uma cidade transformada
Considerado um observador do seu tempo, o artista visual cearense Zé Tarcísio desfoca o olhar para o que considera "o caos urbano" em que Fortaleza está mergulhada, transformando aquilo que parece aos olhos das pessoas comuns apenas problemas, em representações artísticas.
As 21 obras que compõem a mostra "Percursos Urbanos" - das quais 15 são painéis gigantes, contra seis em tamanho convencional - é o resultado das andanças do artista por uma cidade que está em constante mutação. Nesta quinta, às 20h, os trabalhos que se assemelham a crônicas "escritas" com tintas e pincéis serão apresentados para convidados, na Galeria de Arte do Palácio da Abolição. Na sexta, a exposição, que ocupa dois ambientes da galeria, será aberta à visitação pública.
Formas
"A paisagem aparece em diversas fases da minha obra", admite Zé Tarcísio, convidando o público a conhecer e trilhar novos percursos urbanos de paisagens em extinção. Mas o artista avisa: "a mostra é provocativa", afirmando que, a princípio, os trabalhos podem ser considerados como abstratos. Na realidade, são paisagens, cujos elementos vão ganhando múltiplas formas a cada olhar, sendo um exercício para a retina dos visitantes.
Enquanto o artista economiza nas cores, trabalhando com o branco, o preto e alguns tons de cinza, esbanja na exploração dos elementos pictóricos. As variações das imagens passam pela fotografia e até os quadrinhos. São paisagens que se movimentam, brincam com o olhar e aguçam a imaginação das pessoas. Algumas poderão enxergar apenas figuras geométricas. O artista garante que o objetivo do trabalho é "puxar uma conversa" com o público.
O resultado são representações da rotina de uma metrópole, tomando como recorte o caminho feito pelo artista do ateliê para sua casa. São silhuetas de prédios, fachadas de casas, buracos de rua que aparecem nas telas, algumas, com texturas, outras lisas.
Não é por acaso que o ser humano não aparece nas paisagens. "Ele está presente de forma sutil", diz Zé Tarcísio, justificando ser um dos diferenciais de suas paisagens não trabalhar com o óbvio. "O que quero mostrar é o caos urbano. Para isso, penso", diz, enquanto de posse de papel, lápis e tintas vai criando códigos para expressar suas mensagens. Em uma das obras, que mostra um prédio, explica: "é como se a pessoa estivesse na janela, vendo o asfalto e a paisagem atrás da janela".
As anotações passaram por diversos processos como colagens, xerox, cores até chegar ao resultado final. "Foram feitos recortes, desenhos em cima de pintura".
O artista lamenta a destruição da paisagem urbana de Fortaleza que, não raramente, vê tombar uma construção antiga, para dar lugar a um edifício. E é justamente sobre essas questões que tratam as 21 obras apresentadas em "Percursos Urbanos". Aliás, o tema é uma constante na obra do artista que, ainda na década de 1970, ao realizar exposição no restaurante Sandra's (localizado nas dunas da Praia do Futuro), "percebi que a Cidade já estava mudando sua paisagem".
Depois, compôs trabalhos denunciando a especulação imobiliária que invadia o litoral cearense, usando como cenário as praias de Canoa Quebrada, Taíba, entre outras.
Mais informações:
Abertura da exposição "Percursos Urbanos", de Zé Tarcísio. Amanhã, dia 20, na galeria do Palácio da Abolição (Rua Silva Paulet, 540). Contato: (85) 3466.4981
|