Os clássicos nunca morrem. Desde o ano passado, o cinema do Dragão do Mar – Fundação Joaquim Nabuco resolveu investir nas cópias remasterizadas de obras-primas.
Primeiro foi A doce vida (1960), obra neorrealista do italiano Federico Fellini, exibido no Dragão em setembro de 2013. Pouco mais de meio século depois de agradar a gregos e troianos – ou melhor, franceses do Cannes e norte-americanos do Oscar –, o filme foi exibido em Fortaleza em cópia digital 4K restaurada pela Film Foundation.
Um corpo que cai (1958), de Alfred Hitchcock, chegou ao Dragão do Mar em janeiro último. A próxima aposta da curadoria é Laranja Mecânica (1971), do norte-americano Stanley Kubrick. O longa está previsto para estrear no início de março, logo após o Carnaval.
Apesar de ter sido lançado em 1971, a adaptação do livro de AnthonyBurgess só chegou às telas brasileiras oito anos depois. Temendo represálias da ditadura militar e deturpação do conteúdo pela censura, o filme teve de esperar o fim da censura prévia para estrear no Brasil. Ainda assim, quem assistiu a Laranja Mecânica naquele ano só teve acesso à versão cortada, com tarjas pretas cobrindo as partes íntimas dos atores.
Ação continuada
Um dos curadores do cinema do Dragão-Fundação Joaquim Nabuco, o cineasta Salomão Santana defende que a volta de clássicos remasterizados não é um “ação esporádica”, mas um investimento estratégico. “A permanência é fundamental para a formação de público e afirmação das salas”, disse.
Cinéfilo, Salomão torce ainda para que a proposta adotada no cinema do qual é curador também chegue a outros espaços, como o Cine São Luiz, no Centro, cuja reabertura está planejada para o fim de agosto. “Quanto mais espaços investindo nessa ideia, melhor. A cidade precisa disso.”
A chance de ver um clássico de Hitchcock em cópia restaurada 2K era doce demais para que o biólogo Samuel Castor, 24, perdesse. Fã de Psicose (1960) e Os pássaros (1963). “Ver um filme do Hitchcock no cinema é voltar no tempo; você não sente a mesma coisa em casa. Foi como ver a um filme atual – é uma obra atemporal, moderna”, garante, torcendo pela volta de todos os DVDs de sua prateleira à telona, em especial O mágico de Oz” (1939).
De acordo com o curador, depois de Laranja Mecânica, a ideia é trazer Era uma vez em Tóquio (1953), de Yuasujirô Ozu, e Copacabana Mon Amour (1970), de Rogério Sganzerla, além de mostras especiais em homenagem aos cinemas brasileiro e norte-americano da década de 1970, período no qual foram lançados clássicos como Taxi Driver, Noivo neurótico, noiva nervosa e Dona Flor e seus dois maridos. Já o clássico moderno Sangue ruim (1986), do francês Leos Carax, segue em exibição para o público no Dragão. Boy meets girl (1974), também de Carax, é o próximo da lista.
Qualidade
A exibição de Um corpo que cai, de Hitchcock, em janeiro deste ano, teve direito a plateia cheia e debate com o crítico mineiro Pablo Villaça, do portal “Cinema em Cena” e membro da Online Film Critics Society. “Assistir a uma cópia impecável em uma tela de tamanho colossal permite um mergulho absoluto no universo do filme, e isso faz uma diferença imensa na experiência”, avalia Villaça.
Para ele, há aspectos na experiência cinematográfica ausentes nos formatos DVD e Blue Ray, principalmente em relação ao desenrolar psicológico subjacente ao filme.
|