Quinteto de sopro Villa-Lobos homenageia Guinga, compositor e violonista da música popular brasileira
Anos ininterruptos de carreira representam um marco atingido por poucos artistas. Para gêneros de acesso mais restrito ou carregados por uma aura de rigidez ou erudição exacerbada, a meta torna-se ainda mais difícil. O Quinteto Villa-Lobos, formado em 1962 com o objetivo de registrar e divulgar a música de câmara brasileira, firmou o próprio compasso e ultrapassou o cinquentenário há dois anos, mas ainda está em festa.
A celebração do aniversário chega a Fortaleza homenageando um dos mais sólidos parceiros do grupo formado por Rubem Schuenck (flauta), Luís Carlos Justi (oboé), Paulo Sérgio Santos (clarinete), Philip Doyle (trompa) e Aloysio Fagerlande (fagote). O compositor e violonista carioca Guinga, cujas peças há mais de 20 anos são executadas pelo quinteto, é estrela do tributo "Rasgando Seda", CD e também show dedicados inteiramente à sua obra. As apresentações acontecem até domingo, na Caixa Cultural.
Abraçar um projeto nesses moldes é "uma alegria muito grande" para o grupo, afirma Aloysio Fagerlande, "sobretudo pela qualidade do trabalho do Guinga. Os arranjos casam muito bem na linguagem de sopros". O timing não é coincidência: unir os 50 anos de trajetória à homenagem "adquire essa importância fundamental", aponta o instrumentista, por conta do aspecto simbólico e da ligação de Guinga com Heitor Villa-Lobos, patrono e ideal musical do grupo. Na opinião do músico, o compositor segue uma linha de continuidade em que "popular e erudito bebem da mesma fonte", na qual o carioca é uma espécie de sucessor não apenas de Villa-Lobos, mas também de Tom Jobim.
Guinga acompanhou ao longo da carreira artistas como Clara Nunes, Beth Carvalho e Cartola, além de ter músicas gravadas por músicos do naipe de Elis Regina, Chico Buarque e Leila Pinheiro. Contudo, mostra-se humilde frente à comparação de Fagerlande. "O Tom Jobim é considerado um erudito na música popular e o Villa-Lobos é um popular dentro da música erudita. Eu sou um popular e me sinto muito honrado por ter sido tocado pelo erudito", explica Guinga.
A escolha pelo carioca como homenageado reflete uma das bandeiras carregadas pelo quinteto Villa-Lobos desde a sua primeira formação: o princípio artístico de não estabelecer diferenças entre música popular de qualidade e música de concerto de qualidade. "A música brasileira como um todo é muito rica, a grande riqueza é essa pluralidade", aponta Aloysio Fagerlande. A proposta do grupo é justamente aproximar os gêneros e compositores nacionais da música clássica de concerto europeia, "mas ter uma base brasileira, um acento brasileiro, procurando fazer uma música de boa qualidade não se importando com os rótulos", defende.
"É uma afirmação da minha carreira, uma referência na minha vida, eu ter sido escolhido para ser tocado pelo quinteto, que são meus ídolos. O Quinteto Villa-Lobos é uma instituição da música brasileira, são respeitadíssimos. É uma medalha no peito", acredita Guinga. "O Quinteto Villa-Lobos tem uma imagem bem definida com a música popular e com a música brasileira", assinala Aloysio Fagerlande. De acordo com o instrumentista, a ideia do grupo é sempre procurar gravar jovens compositores nacionais para manter um registro da música produzida no país seja no passado ou no presente.
No álbum "Rasgando Seda", Guinga está ao violão em oito das 12 faixas. No show, o repertório se amplia para além do CD, mas ainda mantém a exclusividade das canções do carioca. Há um elemento surpresa para o ao vivo: em uma das músicas, provavelmente "Porto da Madama" ou "Catavento e Girassol", o compositor também canta, o que é considerado um fato raro. De acordo com o instrumentista Aloysio Fagerlande, o quinteto estuda gravar um segundo álbum com as produções de Guinga.
Mais informações:
Rasgando Seda–Show de Guinga e Quinteto Villa-Lobos. Hoje e amanhã, às 20horas; e domingo,às 19 horas, na Caixa Cultural (Av. Pessoa Anta,287 - P. de Iracema).
Ingressos:R$20 e R$10 (meia).
Contato: (85) 3453.2770
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